Capítulo 4

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    Kassia acordou em uma cama extremamente confortável e os aromas que experimentava eram-lhe por demais familiares. De início chegou a acreditar que tinha sido encontrada e que estava na mansão que Kori mantinha no litoral da Zona Sul. Uma bela e suntuosa mansão, que por diversas vezes se perguntara por que a irmã mantinha, já que nunca usufruía. Até que um dia conseguiu deixar de lado a sua irritante timidez e perguntado, a irmã lhe sorriu e com um brilho emocionado no olhar azulado e expressão de nostalgia, e respondeu sua pergunta com outras duas;

    "E o quê te faz crer que não usufruo? Já te disse o quanto me dá prazer sentir o seu prazer, linda Kassi?"

    Kori, como carinhosamente a chamava, era notívaga por natureza e era também uma workaholic nata, mas por uma ou duas vezes a flagrara nadando na enorme piscina da mansão, explicitamente nua, iluminada tão somente pela luz da lua ou mergulhando nas águas do mar que cingia as areias da praia na frente da propriedade pouco antes do amanhecer.

    Linda Kassi? Kassia meio que sorri em lembrar com afeição. Kori é que era deslumbrante! Seu rosto parecia esculpido em alabastro, o corpo alto e curvilíneo era digno de capa de revista. E o seu sorriso? Caramba! Seu sorriso era como o sol, iluminava e aquecia tudo que tocasse! Kassia solta um suspiro sentido e profundo, Kori era tudo que ela aspirava ser, um dia.

    Uma sensação de saudade imensa a inflamou por dentro e ela desejou lá do fundo de seu ser ter sido uma irmã melhor para Kori, afinal, tudo que sua irmã queria, era que ela vivesse em paz e em segurança. E o que ela fez? Logo na primeira oportunidade bateu com o carro e quase morreu! Já o seu namorado não teve a mesma sorte, morreu no impacto e ela, frágil e raquítica como sempre foi, passou por vários meses se recuperando dos ferimentos, com a irmã e seu autoproclamado babá e guarda costas, Ricco, preocupados e humilhantemente solícitos aos pés da sua cama.

    Não. Kassia não estava na mansão à beira mar de sua irmã! Essa até era bem semelhante em estrutura, na escolha das cores nas paredes e na disposição dos móveis, mas por trás das cortinas ricamente ornadas, as enormes janelas estavam fechadas, as portas que tentou abrir ao longo de corredores que pareciam não ter mais fim, trancadas, e ela tomada de súbito pelo pânico. Além do mais; a sua irmã só mantinha aos seus aposentos fechados durante o dia, porque o sol irritava as retinas muito claras e mega sensíveis dela, mas o restante da mansão não!

    O restante da mansão era iluminado pelo sol e ela adorava como a luz se refletia sobre tudo lá. Já ali, apesar da similaridade na escolha dos móveis e cores, dos objetos decorativos e dos quadros. As luzes que os iluminavam vinham de fontes artificiais e não refletia neles da mesma forma que ela estava acostumada!

    Kassia reconsiderou a sua 'excursão' de reconhecimento da área e já ia virar nos calcanhares quando um homem de estatura parecida com a sua apareceu no extremo oposto do enorme salão onde ela estava e ele se curvou reverente. "Senhora"...

    Tudo bem que a havia chamado de senhora. Mas e daí? Nervosa como estava tudo que queria era sair dali, então ela se aprumou e impôs;

— Deixe-me sair.

    Certo, seu tom de voz tinha mais 'medo' que autoridade, então decidiu melhorar na entonação e insistiu com veemência;

— Quero sair daqui. Vocês não podem me prender assim, isso é sequestro!... Estupro, cárcere privado... — se empolga —, Vocês não têm noção do que...

    Ela já estava gritando por fim, e o homem que parecia pinguim de geladeira a olhava assombrado quando por mágica ou algo assim, uma porta abriu-se ao seu lado no grande salão e ela nem esperou para ver se ele a seguiria. Ela disparou pela porta aberta, apavorada demais para olhar pra trás, passou pelo que lhe pareceu ser um vestíbulo e outra porta à sua frente se abriu.

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