Capítulo 20 parte ll

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    Alegra se contorce com as dores em seu baixo ventre e Danikas leva o pulso ao alcance de sua boca enquanto acaricia seus cabelos cor de fogo.

    Trevon observa a aguardar na penumbra entre as salas e alguns minutos depois Alegra lambe o pulso oferecido e o leva a fronte agradecida.

    Ambas estão com lágrimas nos olhos e Danikas se abaixa a tocar com a sua fronte na fronte de Alegra como faziam na época de cativeiro, e seu rosto se torna inexpressivo ao pressentir a presença de Trevon.

    Ele a dispensa com um gesto brusco apontando a porta, e ela olha para Alegra com pesar por um segundo, mas assente ao seu dono e senhor e se retira deixando-os a sós. Alegra se encolhe sutilmente e Trevon estaca onde está, ao sentir o cheiro do medo dela por todo o quarto.

— Eu não teria te machucado, nem teria me atrevido a tocar em você, se eu soubesse, se fossem outras as circunstâncias...

    As lágrimas inundaram os olhos prateados da fêmea e começaram a deslizar pelo seu rosto seriamente machucado.

— Quando o vi acreditei que se tratava de outra pessoa, de outros tempos...

    Ela contrai de leve tomada pela dor e passa a mão delicadamente na lateral do rosto ferido e Trevon engole em seco silvando e trincando os dentes para se conter. Ele havia feito isso com ela e não teria parado se Dërhon não o impedisse...

—... Mas me lembrei de ti, senhor. Era tão pequeno e indefeso e agora és forte e guerreiro...

    Trevon é abruptamente levado ao passado e se vê ainda pequeno e sozinho enquanto seus três irmãos mais velhos eram escorraçados e rigorosamente punidos pelos outros guerreiros do clã de seu pai. Um dos guerreiros o tinha descoberto escondido atrás de uma pedra e o arrastou pelos cabelos divertindo-se em forçá-lo a assistir o que acontecia com os machos que envergonhavam o clã de seu pai. Trevon foi obrigado pelo guerreiro a assistir os seus irmãos sendo violentados sexualmente pelos outros machos, repetidas vezes, terem os grifos dos seus Onigeuns queimados com ferro em brasa e sendo expulsos do clã quase mortos em desgraça.

    Ele sacode a cabeça querendo voltar, mas algo o prende àquelas lembranças desagradáveis. O seu pai o esbofeteou naquele dia quebrando alguns dos seus dentes. Ele devia ter uns oito ou dez anos e soube pelo pai que seus irmãos do ventre de sua mãe tinham sido mortos pelas mesmas fêmeas que seus irmãos mais velhos se negavam em punir. Trevon fixa o olhar na fêmea sobre o leito e de repente a vê com outros olhos, mais jovem, mas também machucada, ela chorava baixinho no lado mais escuro da mesma câmara subterrânea que era o seu refúgio. Eles se descobriram e se assustaram um com o outro ao mesmo tempo, ela era um espólio de guerra do clã, uma Valquíria ainda em fase de transição com os olhos mais lindos que ele já tinha visto e ele se calou, devia ter gritado em denunciar a sua presença ali e sabia que se não fizesse e fosse descoberto seria punido, mas naquele instante ele decidiu que não seria como o seu pai, podia não ser tão complacente como foram seus irmãos mais velhos, mas também não seria como seu pai. Ela se aproximou e tocou de leve o rosto dele como se da conta de que o está tocando agora. Ela devia ter uns vinte anos e ainda não tinha controle sobre as presas, mas pegou uma pedra pontiaguda e perfurou o próprio pulso para alimentá-lo, e ele se alimentou dela...

    O que aconteceu em seguida foi rápido, mas ele nunca se esqueceu. Ele estava lambendo o seu pulso agradecido enquanto ela acarinhava o rosto ferido dele e ele sentiu a presença de um dos guerreiros na caverna, de súbito ele a empurrou de volta para a sombra e se deixou ver pelo macho que sorriu sombrio e se tocava entre as pernas com a intenção de fazer com ele o que o obrigou a assistir naquela mesma noite mais cedo. Ele enfrentaria o que fosse para defender a fêmea, mas foi ela quem reagiu.

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