Capítulo 25

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    Dërhon desiste de tentar entrar no quarto do seu irmão, mas no fundo ele torce para que ele tenha sucesso com Brianis e que não venha se comprometer com ela mais do que o mínimo necessário. Trevon não demonstrou interesse algum em tentar entender-se com Danikas, ou foi o que deu entender quando passou o recado e ele se levantou de um salto do sofá quebrando a garrafa de conhaque na parede do seu escritório e sumiu. E ali estava ele, em frente às portas impenetráveis do quarto de Zarc, tentando imaginar o que eles tanto conversavam lá dentro!

    Dërhon bufa, vencido ele abaixa a cabeça pensando em apelar para Ores, e ele se vira de sobressalto com o susto e cola a bunda na parede do corredor. Filho da puta, um pouco menos de eficiência seria bom!

    Ores se recompõe, mas não antes que ele percebesse algumas poucas escamas reminiscentes da sua última transformação e trazia em uma das mãos uma sacola com uns troços de cheiro enjoativo dentro. Dërhon não contém a careta de asco apesar da curiosidade, mas o Neimo acaba provocando-o ainda mais quando faz uma reverência escondendo a sacola.

— Senhor.

    É, beleza, ele o tinha chamado e ao que parecia, o que ele trazia não lhe dizia respeito...

— São dois podrões, senhor. Eu estava levando para a menina Ailin quando ouvi o seu chamado.

— Podrões?

    O Neimo assente sério;

— São sanduíches vendidos em camelôs, senhor. Com, tudo, dentro. — Ores também parecia pouco à vontade.

    Ahn, ele já tinha escutado algo a respeito e outra questão lhe veio por intercorrência à mente;

— Ores, se fosse meu desejo de que a Mäi de Ailin, recebesse também um ou dois desses, você?...

    Ores assente e um brilho estranho emerge dos olhos negros;

— Se ela estivesse conosco, sim, senhor, eu poderia.

— Mas ela vive. — insiste Dërhon.

    Ores volta a assentir.

— Sim, senhor. A menina ainda vive.

    Alegra encosta na parede do corredor e uma dor profunda lhe corta o peito por dentro. Lágrimas furtivas turvam sua visão e ela sai de costas tomando o rumo do quarto. Não era justo com ele que ela sentisse tanto ciúme da fêmea que se adiantou e tomou todo o espaço em seu coração, e era até melhor que ainda estivesse mesmo viva, podia ser uma boa Mäi para as meninas, ainda tão pequenas e indefesas em seu ventre, instintivamente ela leva a mão à barriga enquanto entra no quarto e dá vazão às lágrimas.

    O dono e senhor de Danikas tinha pedido, mas podia ter mandado que não faria diferença, que ela os deixasse a sós. O cheiro de álcool que emanava dele a deixou nervosa, mas ela não podia fazer nada pela sua irmã, além de desejar que ele fosse complacente com ela.

    O Neimo gentil se deixou ver à sua frente de cabeça baixa e ela seca as lágrimas com um sorriso discreto.

    Ele oferece um lenço branco delicado com alguns símbolos bordados nas bordas ainda de cabeça baixa e ela se desmancha em mais lágrimas com seu gesto de carinho e encosta na porta por trás de si a se abaixar.

    Ores entrefecha os olhos, receoso, e solta o ar vencido antes de dar dois passos a se aproximar da fêmea a envolvê-la de lado em um abraço paternal e é automaticamente assombrado por uma visão do seu passado, com a mãe dos meninos em situação parecida. Iris o havia beijado no rosto naquele dia e Zarcon o pai, o rebaixou e deu nela uma surra que quebrou ambas as pernas e costelas. Ele trinca os dentes ao ponto de doer e prende o ar para não delatar qualquer tipo de emoção recorrente. A fêmea, bem maior que ele, estava encolhida e tremia em pranto convulso dentro do seu abraço, e se Kassia sobrevivesse, se orgulharia dele por não permitir que seu passado determinasse seu presente e seus receios de outros tempos motivassem suas atitudes de agora. Ele voltou a oferecer o lenço, e dessa vez ela aceitou e agradeceu. Eram outros os tempos de agora, e os machos mais antigos, como o pai de Zarcon, não existem mais.

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