*Maratona em breve eim... só pra lembrar, bjokas e aguardem novas atualizações ainda essa noite...
Ailin acariciava os longos cabelos de sua amada 'amiga' e até em pensamento se vigiava pra não se referir a 'Kassia' de qualquer outra forma. Desde a primeira noite em que acordou sobre a sua cama, sempre que o sono a chamava, ela se deitava ao seu lado. Kassia tinha o sono agitado e segurava em seu pulso como se temesse perdê-la e Ailin não a deixou sozinha nem por um instante, temendo que a 'amiga' enlouquecesse de vez, se o fizesse.
O rei e seu irmão passavam horas incontáveis no quarto ao lado do seu leito, e só nesses momentos que se arriscava a dar uma escapadinha de poucos minutos pra satisfazer as suas necessidades mais básicas, e também para não impor ao rei e ao seu irmão à sua presença. Dërhon ordenou que ela permanecesse ali, mas ela teria ficado com sua 'amiga' de qualquer forma, salvo se ordenassem que ela saísse. Então não haveria muito que pudesse fazer.
Por toda sua existência ela podia contar nos dedos de uma única mão a quantidade de vezes que esteve ali e somente no grande salão, entre as quais; a cerimônia de vinculação em que se uniu a Goro e outra, quando foi chamada pelo rei e Rein Aleesha, a ser informada pelos dois da morte de Goro no campo de batalha, algum tempo depois.
Ela afastou o pensamento que levaria a outros mais tristes e pesados e surpreendeu-se em perceber que Kassia estava acordada e a observava de soslaio, ela morde o cantinho do lábio e devagar retira a mão que a acarinhava, já tinha ultrapassado todas às convenções e estava perdida em como proceder.
Kassia ensaiou um sorriso de lado tranquilizando-a e perguntou com voz rouca;
— Por quanto tempo eu dormi dessa vez?
☼
Quatro dias e quatro noites, e isso depois do ataque convulsivo. Mais três; desde que Xstrauss a retirou do sol...
Uma semana inteira no total, e foi com uma relutância tremenda que Zarcon e Dërhon deixaram que ela se levantasse e descobrisse onde era o quarto de Xstrauss e isso porque eles nem tinham lá muita escolha, e ela fez uso do poder que tinha sobre eles.
Xstrauss jazia inerte na cama e um buraco negro se estabeleceu no peito dela ao perceber o quanto ele estava machucado e indefeso. Ela fitou aos irmãos com olhar carregado de censura e desvencilhou da tentativa de Dërhon de contê-la a entrar no quarto com um repuxo e ele encolheu o braço, vencido.
A enfermeira nela avaliou o estrago, os dons de Aleesha completaram a equação e antes que desse por si, ela estava por cima do corpo de Xstrauss e com uma força que não imaginava possuir, ela reposicionou a bacia e a perna direita dele e ele ganiu baixo, enfraquecido pela dor.
Kassia sofreu com ele e desejou poder tomar pra si toda a dor.
— Nós tentamos alimentá-lo.
Kassia olhou pra trás com ferocidade e Dërhon cortou a explicação no ato, apesar de ele manter a boca fechada ela o ouviu reclamar em sua mente com indiferença, enquanto mordia o próprio pulso, e estabelecia à Xstrauss que bebesse dela.
Masoquista e suicida é o que você é. Sabe? Cada dia me surpreende mais a sua ânsia de sofrer e o fascínio que você tem pela morte! Vai lá! Sinta-se a vontade, que seja feita a sua vontade!
Xstrauss a mordeu com força em vingança à compulsão que lançou nele, mas Kassia ignorou a dor, tudo bem, estava certa de que ele rasgou alguns dos seus tendões e que possivelmente tenha quebrado seu pulso com a mordida, mas era bem menos do que tentar salvá-la custou a ele, então ela aceitou a agressão e até ousou levar à outra mão na fronte dele, removendo da testa suada os cabelos longos e negros com carinho e notando que mesmo alquebrado com ar feroz, ele era lindo.
Xstrauss afrouxou o aperto das mãos que seguravam o pulso que ele tinha machucado, mas ela o forçou a continuar com a alimentação que reestabeleceria o seu corpo. Era mais do que justo que fosse assim e que se danasse o que os outros pensassem dela. Ela não era masoquista, era justa.
Xstrauss sentiu o impacto abrasador do sangue estupidamente forte que deslizava doce e levemente metálico pela sua garganta ressequida. A reação de cura em sua musculatura e ossos quebrados foi imediata, tão logo o sangue poderoso dela entrou em contato com seu estômago também debilitado, assustando-o pela velocidade com que se se sentia curando por dentro, mas julgou que pudesse estar equivocado e sangue de Miellen não servia para comparação, mesmo com a mais delicada das fêmeas Kades...
Alguns minutos passaram e mesmo subjugado ele sentiu o momento exato em que seus irmãos saíram do quarto abandonando a fêmea à sua própria sorte.
Ele já tinha se alimentado mais do que o suficiente e ela continuava forçando que bebesse dela e ele entrou em desespero quando sentiu seu frágil coração falhar uma batida, e depois outra... Ela estava caindo por cima dele e ele amaldiçoou a si mesmo pelo que estava fazendo.
Ele clamou pelos irmãos em pensamento e logo Zarcon estava por cima dela e a puxava pra si, levantando e lambendo o pulso que ele tinha dilacerado covardemente.
Xstrauss fechou os olhos e cobriu com o antebraço, mas as imagens do que mais uma vez tinha feito a ela estava mais do que viva por detrás das suas pálpebras cerradas. As imagens retorciam as suas entranhas, e dessa vez ele nem tinha uma besta pra culpar.
Kassia se afastou de Zarcon e o estudou, o toque da sua língua ainda queimava de forma confortável em seu pulso ferido e ele estava rígido entre às pernas. As lembranças do beijo que compartilharam o instigava a querer mais e sua mente e corpo estavam em conflito.
Não vou passar por todo esse martírio de novo. Pelos deuses, isso não é justo.
Foi impossível de não ouvir e concluiu que era o cheiro de Aleesha misturado ao seu que confundiu os sentidos dele, e ele prendeu a respiração para confirmar.
— Não precisa se preocupar, meu rei. Seu beijo até é bom, bom mesmo, de verdade, mas eu não vou escolher você...
Ela ia concluir que não escolheria nenhum deles, mas...
Zarcon se manteve impassível à agressão e denúncia implícita, mas o cheiro do medo de Xstrauss foi como uma bomba esmagadora no ego pra lá de ferido dela e com um ganido incontido ela se desmaterializou e fugiu, tomando forma no próprio quarto.
Somente pelo tempo suficiente pra dizer a Ailin que se cuidasse e pela própria voz...
Porque, por algum motivo, 'falar' lhe pareceu mais humano do que pensar, e ela precisava se sentir 'humana' e não uma aberração da natureza. Droga.
Custava muito um pouquinho de reconhecimento? E que droga! Ela estava mesmo precisando de reconhecimento por alguma coisa? Estava mesmo desenvolvendo o seu lado masoquista, ou o quê?
Quando se materializou do lado de fora da mansão sentiu que Ailin a seguia e o medo terrível e sem sentido de que pudesse estar expondo a única amiga que realmente se importava com ela naquele lugar a qualquer tipo de perigo, a fez parar.
— Fique onde está. — e acrescentou depois um pouco mais branda;
— Por favor, Ailin.
Ailin teimou e continuou andando em sua direção devagar, era como se ela estivesse se aproximando de um animal ferido e ela não deixava de ter certa razão. Era assim mesmo que estava se sentindo e sem que percebesse de imediato os seus pés tomaram rumo na direção de Ailin e quando se deu conta do estado lastimável que se encontrava, de camisa e short de dormir, já estava ajoelhada na terra fria, aos prantos e sendo abraçada pela amiga solidária e silenciosa.
Posso estar presa nesse inferno, mas eu não vou voltar pra lá, não dá, Ailin, simplesmente não dá...
☼
(Tem mais, aguardem...)
Carol Sales.

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Vale dos Aehmons
Paranormal®Todos os direitos reservados. Liberado por período indeterminado. (design de capa Debby Scar). Kassia é uma jovem comum, que sempre batalhou para ter seu espaço e sua liberdade no mundo. Não sabia ela que sua vida tomaria rumos sem volta quando...