Capítulo 5

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    Kassia não saberia dizer onde estava, ou quanto tempo estava trancada naquele lugar. Ainda lutava por preencher as lacunas entre a crise histérica que possivelmente a salvou de ser violentada 'de novo', e o exato momento que acordou e viu aquele homem enorme e lindo que dizia com sua voz grave e sensual que não a machucaria.

    É claro que não acreditou nem por um instante, e até desconfiou que ele fosse o tal Dom que disseram a ela que ela estaria preparada enquanto a violentavam. Ela estava atemorizada quando o encarou e viu com um tanto de fascínio que os olhos dele eram incomuns, irreais até. Mais algo a somar à lista do que não saberia dizer: é que os olhos dele pareciam ser de um tom de amarelo claro translúcido, rodeado por uma íris que parecia azul escuro, ou talvez verde musgo. Fascinante, sim, mas ela não se atreveu a examinar por mais tempo pra ter certeza e tremeu de súbito com a lembrança. O cara sugeria uma aura de poder tão fria, tão sombria, que ela cobriu os olhos com o antebraço e continuou toda encolhida no chão ao canto do quarto rezando para que ele não se aproximasse, e quando os destampou. Sabe-se lá quanto tempo depois, ele não estava mais lá.

    Ela olhou de novo pra bandeja deixada sobre a mesinha perto da porta e enumerou seu conteúdo; duas pequenas jarras, uma de suco vermelho e outra que parecia ser de água, uma taça bem cheia com vários tipos de frutas picadas, e algo que imaginou ser pudim e um generoso prato guarnecido com carnes, arroz e batatas coradas.

    Seu estômago roncou diante da visão, mas ela cruzou os braços com teimosia. O baixinho que tinha visto no salão mais cedo que deixou a bandeja ali pouco tempo antes.

    Quando teve coragem de levantar e explorar o ambiente, percebeu que estava trancada naquele quarto, a natureza se impôs ao medo e ela usou o banheiro adjacente para se aliviar e foi justo quando estava saindo que ela o viu. Ele se inclinou de leve, e ao mesmo tempo em que ela dera um passo para trás de volta ao banheiro, ele deu um passo para trás na direção da porta, fez mais uma breve reverência e saiu. Tão silenciosamente quanto havia entrado.

    Apesar de estar faminta de verdade.

    Dos pratos serem convidativos e terem aroma irritantemente fabuloso, ela não ousou tocar na comida. Imaginou que podiam ter colocado entorpecentes nos pratos, e se estavam pensando que ela poderia ser 'treinada' ou drogada como um bicho qualquer. Teriam uma péssima surpresa com ela. Ah se teriam! Podiam até matá-la de tanto bater! Mas iriam descobrir que uma Veiga Costa era osso duro de roer!

    Lágrimas escorriam de seus olhos sem que às autorizasse e sua visão ficou turva irritando-a ainda mais. Ela secou com violência e sentiu que feriu o próprio rosto, deu de ombros e olhou em torno na busca de algo que pudesse usar para se defender.

    Seus olhos fixaram automaticamente no par de espadas cruzadas e suspensas em uma das paredes, pegou uma testando o peso, julgou que não eram assim tão pesadas. Ela não era boa esgrimista, nunca havia se interessado pelas aulas que Kori a fez frequentar e agora se arrependia. Teria que se valer com o pouco que sabia e contar somente com ela mesma como elemento surpresa. Mas o primeiro que atravessasse aquela porcaria de porta, ela garantiu a si, teria ao menos um pouco de trabalho com ela.

    Ah, se ia!


    Dërhon passou a mão nos cabelos levemente ondulados que o dife­renciava tenuemente de seus irmãos a ruminar desgostoso.

    Primeiro foi Xstrauss, que praticamente o arrastou da frente dos seus computadores e por pouco não o fez perder o equivalente há dias de uma pesquisa que estava fazendo em favor do seu povo.

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