Capítulo 41

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    Jarel estava recostado na parede ao canto com os braços cruzados a observar calado quando a Valquíria chamada Danikas entrou no quarto. A expressão da guerreira era a imagem do cansaço e da derrota quando se aproximou da cama onde Kassia jazia inerte e mortalmente pálida. Ela trazia o embrulho aveludado em suas mãos e deixou em cima do móvel ao lado da cama antes de se abaixar à frente da rainha.

— Tem meu respeito Val Rein Mäi e ainda terá mesmo que fraqueje, enquanto eu existir.

    Jarel sai do quarto antes que venha cometer uma tolice qualquer e se depara com Zarcon de pé na antessala com os braços cruzados sobre o peito a ouvir a interpretação de Orion.

— Se Elijáhrm ainda estivesse viva, eu poderia supor que ela houvesse manipulado o sangue de Alegra nos machos da sua raça impedindo que conseguissem se curar dos ferimentos mortais, mas conhecendo-a como eu e meus irmãos conhecíamos, sou capaz de afirmar que ela não teria poupado alguns em detrimento de outros. Teria destruído a todos.

— Concordo com Orion — Zhelter acrescenta — Elijáhrm tinha um propósito e seguia por esse caminho cegamente. Se ela soubesse que o sangue de uma descendente sua fosse capaz de curar e em mesmo tempo destruir aos que ingerissem teria usado.

— Para início de conversa não a teria lançado no ninho de machos que estavam sob o seu controle. — Interveio Narum.

— Sim, poderia. Nós conhecemos seu lado intempestivo. Elijáhrm seria capaz de qualquer coisa para acabar com todos os Aehmons.

— Essa conversa não está nos levando a lugar algum. — disse Dërhon a esfregar a parte interna do pulso.

— Não, não está.

    Todos se voltam para a porta do quarto onde Kassia está coberta por um manto aveludado vermelho sangue amparada por Danikas e Ailin, para manter-se de pé.

— Eu ofendi a Guardiã quando me expus ao sol... A culpa é minha.

    Danikas e Ailin se interpõe entre ela e o rei quando ele se adianta em sua direção sem deixar de ampará-la.

— Kassia.

    Zarcon a chama, mas ela não se vê capaz de olhar em seu rosto.

— Não há nada que eu possa fazer pelos que morreram, mas tudo ficará bem com os demais.

    Kassia desaparece bem diante dos seus olhos e o manto que a encobria fica pendurado nas mãos de Danikas e Ailin.

    Kassia sente os ossos das suas pernas trincarem ao se materializar no largo da arena e avista a Guardiã no extremo oposto do largo a sua frente.

    Não demorou nada para que todos os que estavam no quarto se materializassem, ali a segui-la, diante do espetáculo tenebroso de corpos sem vida dos machos que foram feridos na guerra dias antes.

    A Guardiã se comunica diretamente com ela mentalmente e ela se deixa cair sobre os joelhos dobrados encostando a fronte no chão. Não havia um único músculo em seu corpo que correspondesse ao comando da sua mente quando a Guardiã sumiu e dúzias de Sions se soltavam das paredes subterrâneas a sua volta, para a limpeza no largo.

    Zarcon se adiantou e Danikas voltou a se depor entre ele e sua rainha com um pedido de desculpa estampado no rosto.

— Por quê?

— Não é seguro para nenhum Aehmon macho tocá-la antes da ascensão, meu rei. Eu sinto muito, mas não devemos nos arriscar a mais perdas.

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