Capítulo 24

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*Última passagem de Vale desta noite, mas amanhã tem mais, bjokas a todos que vem me acompanhando até aqui.



    Kassia observa a olhos entrefechados o guerreiro que agora dorme ao seu lado, ele é forte e grande como os outros, mas tem os traços suavizados pelo sono e está tão ferido quanto ela... Aleesha agora parece uma sombra distante de lembrança em sua mente e Kassia se controla para não ganir de dor e saudade. Seu único consolo em toda essa loucura se foi, até mesmo isso lhe foi tirado. Suas pernas já começavam a dar sinal de melhora, mas ainda não tinha forças para levantar ou de mover-se de um lugar ao outro pela desmaterialização.

    Era Sérgio quem ainda a levava ao banheiro de tempo em tempo, mas sempre se mantinha calado e agia como um ser autômato em todas as suas ações. Ela podia senti-lo por trás de si e nem precisava virar a cabeça para ver que ele estaria em seu canto, sentado no chão e recostado na parede, aguardando por qualquer comando que ela aspirasse, ela já não conseguia mais ouvir seus pensamentos, mas em relação a isso nem tinha mesmo certeza de que sentia falta, e calculou que ele não estivesse pensando nada.

    Mas quem conseguia ficar tanto tempo sem pensar nada?

    Uma dor emocional intensa trouxe lágrimas aos seus olhos e inchou sua garganta ao se acreditar que era por causa de Aleesha que ela ouvia a todos com tanta e até irritante facilidade. Aleesha havia sido tirada dela, as lágrimas escaparam e ela soltou um soluço baixinho. Sérgio se move por trás de si e ela diz não em baixo tom.

— Por favor, Sérgio, não. — ela funga e insiste em um sussurro sentido — Me deixe sozinha, só um pouquinho. Por favor... Não é nada com você é só que... Por favor, me deixe sozinha.

    Ela sente o exato instante em que ele sai silenciosamente do quarto e leva a mão na boca a dar vazão as lágrimas num choro mudo.

    Eles haviam morrido de verdade naquela tarde de tempestade e estavam no inferno. Essa foi à conclusão que ele chegou. Correto. Ele foi provado pela última vez e não passou no teste, mas e ela? O que ela fez de errado para estar ao lado de um monstro como ele?

    Ele não tinha dúvida de que fora corrompido pelas circunstâncias da própria vida e seguiu seu ritmo consciente de que era diferente...

    Ela continuava chamando-o de Sérgio, mas foi por esse nome que ele foi apresentado a ela. E o seu nome de batismo não era também uma farsa que a sua mãe usou para comprometer o homem que acabou sendo o único pai que conheceu? E em primeira instância, também o corrompeu? E se tivesse tido filhos? Se não tivesse feito a esterilização? Teria tratado seus próprios filhos como foi tratado? Essas eram questões que ficariam sem resposta, mas um movimento no quarto seguido de estrondo chamou a sua atenção e quando se aproximou da porta, o macho que tinha resgatado na floresta se arrastava em sua direção.

— Faça alguma coisa, por caridade, ela não para de chorar.

    Sérgio o levanta do chão e sente como é genuíno o sentimento de preocupação do macho com relação a ela, e o que chega a ser surpreendente é que não sente antipatia dele por conta disso.

— Vamos deixá-la à vontade.

    Ele sugere com uma simpatia paternal e leva o guerreiro para a sala, sentando-o no sofá com cuidado e com meio sorriso e breve aceno se afasta, sentando no sofá à sua frente. O macho fixa o olhar preocupado na direção da porta do quarto e Sérgio contemporiza;

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