Xstrauss dá uma última olhadela na fêmea, que finalmente dorme tranquila, e sai do quarto para onde ele mesmo a havia levado, e parado em frente à porta dela, seu olhar segue sorrateiro ao fim do amplo corredor e se fixa nas portas duplas dos aposentos de Zarcon, pensativo.
Desde que seu irmão voltou do santuário, pra onde seguiu a quase uma semana, que se mantém trancado em seus aposentos e ele, assim como os demais, também estava preocupado quanto à saúde mental e emocional dele.
Zarcon tinha se fechado tanto física quanto mentalmente para todos eles em seu luto e Xstrauss chegou a pensar em invadir o quarto dele, mas não saberia o que dizer ou como agir de forma que não acabasse piorando a situação ainda mais. Esperava com certa ansiedade que Dërhon voltasse logo, pois ele sim era bom com as palavras e certamente teria nem que fosse uma piadinha irritante a dizer. Julgando que ainda seria melhor do que ele entrar lá e se ver tentado a sacodir o irmão como um boneco de pano, ou um saco de areia, ou algo pior. Como era comum a comunicação mental entre eles, era demasiadamente difícil esconder o que se passava em suas mentes, não que fosse impossível, mas Xstrauss temia que Zarcon sentisse e acabasse por se ofender com suas opiniões mais íntimas em relação ao ocorrido.
Aleesha se sacrificou pela fêmea e desconfiava que ela tivesse visto algo importante enquanto batalhava pela sua vida, mas como era uma fêmea de pura linhagem, tinha o poder e a experiência de compartilhar somente o que quisesse de pensamentos e sentimentos dela com os demais e ele só podia desejar que ela tivesse justificado a sua decisão para o seu irmão.
Ele respirou profundamente e ponderou que Zarcon ainda devia estar se acostumando com o retorno do Dien. O processo tinha lá seu preço e Xstrauss sabia por experiência própria que não era nada fácil, tampouco agradável conviver com a experiência, então achou melhor deixar quieto.
Chegou até a ponderar que talvez a Guardiã fosse complacente com seu irmão e permitisse a ele que se encontrasse com Aleesha no plano além Umo, para onde os seus irmãos confiavam que seguiam às que faziam uso do mitho por altruísmo e decididamente, foi assim que ela usou o seu.
Zarcon era um bom rei para o seu povo e nunca transgredia as leis que ela impunha, então...
Xstrauss troca o peso do corpo de uma perna para a outra.
Ou não... Talvez não. —, reconsidera em pensamento.
Ele não era lá (como dizia seu irmão Dërhon), 'muito fã' da Guardiã há muito tempo. Respeitava seus mandos e desmandos porque era 'obrigado', mas intimamente se dava o direito de julgá-la egocêntrica, cega quando lhe era conveniente e algumas das suas atitudes com relação a eles eram abusivamente ridículas e até um tanto arbitrárias. — volta a trocar o peso do corpo para outra perna.
Se havia algo que o consolava, é que a Guardiã não sabia de 'tudo' como confiavam seus irmãos, logo, ela não era a dona de todas as verdades do mundo e às vezes, somente às vezes, até desconfiava que fosse, mas daí ele entrava em um terreno ainda mais arenoso e até se arriscaria dizer 'ensolarado' pelo ódio que adviria da sua sina.
O que seria de igual forma, suicídio certo?
Ou não.
O 'sol' seria um inimigo bem mais misericordioso. E Dërhon, com certeza o acusaria de estar sendo deliberadamente sarcástico, e ele se defenderia em alegar; era só realista.
Xstrauss se vira nos calcanhares, tomando o rumo convencional em direção ao quarto que Aleesha arrumou e decorou pra ele, e que por razões que só diziam respeito a si mesmo, ele muito raramente usava, mas precisava se alimentar com certa urgência de modo mais adequado, e de forma alguma queria que a fêmea sob seus cuidados acordasse e se deparasse com ele em situação tão íntima.
Ele podia até não ser tão bom em palavras como os seus irmãos, mas também não era estúpido o bastante em acreditar que não seria um choque para a fêmea, se ela acordasse de repente e o visse se alimentando de outra, no que a primeira vista consideraria seu quarto.
Mesmo que essa outra, fosse uma Miellen, ainda seria uma fêmea, e era bem possível que ela ficasse no mínimo horrorizada! E bem, isso não tinha nada a ver com o fato de que não aspirava nem um pouco em ser 'pego', simbolicamente falando; Com as calças nas mãos. Como diria o engraçadinho do seu irmão.
Claaaro que não!
☼
*Curtinho, eu sei, mas ainda hoje, mais tarde, solto mais um trecho e deixo um conselho; palavrinhas novas do glossário 'próprio desses nossos predadores' começam a aparecer, aos mais interessados, vale anotar no caderninho mental e estarei ansiosa aqui pelos comentários, bjokassss...
Carol Sales.
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Vale dos Aehmons
Paranormal®Todos os direitos reservados. Liberado por período indeterminado. (design de capa Debby Scar). Kassia é uma jovem comum, que sempre batalhou para ter seu espaço e sua liberdade no mundo. Não sabia ela que sua vida tomaria rumos sem volta quando...