Kassia levanta-se de súbito e escuta um grunhido sonolento. Arthorm leva a mão no rosto que ela havia golpeado ao se levantar e ela o acalenta deitando-se de frente para ele com joelhos dobrados e encolhida a ponto dos peitos dos seus pés encostarem-se aos joelhos dele, e ela poder enfiar o rosto na curvatura entre seu ombro e pescoço.
Arthorm respira profundamente e passa o braço livre pela sua cintura enfiando o nariz em seus cabelos e volta a dormir sossegado.
O cheiro dele era algo delicioso de sentir e o calor que emanava do seu corpo a aquecia até nos ossos. Ela se permitiu ficar mais um tempo aquecida e aninhada em seu abraço e ele apertou o queixo no topo da sua cabeça fazendo-a dar-se conta de que também estava acordado e que ela tremia de leve pelas lembranças despertadas pelo pesadelo.
— Desculpe. — ela pede em baixo tom sem se mexer — Não queria ter acordado você.
Arthorm a aperta de leve e puxa o edredom por cima da cabeça de ambos fazendo-a sorrir, ele também ri em lembrar-se da conversa em que ela falava da infância e da amiguinha que vez ou outra dormia na sua casa nos fins de semana.
— Só faltou a lanterna. — ele comenta brindando-a com seu sorriso. A amiguinha sempre levava e por várias vezes elas conversavam até quase o amanhecer ou liam estorinhas de princesas presas em castelos encantados ou envenenadas por maças enfeitiçadas que as faziam dormir um sono profundo.
— Eu ainda não tinha visão noturna... — e nem imaginava que um dia chegaria a ter.
Os olhos de Arthorm pareciam lagos verdes cristalinos onde ela certamente adoraria se afogar e as suas íris eram decoradas com pontinhos cor de âmbar que pareciam minúsculos peixinhos sob a superfície.
Era um macho muito, muito bonito e, ela treme involuntariamente de novo, enrugando de leve o cenho.
— O que há? — ele pergunta suavemente e como ela não responde, tenta adivinhar com um sorriso tênue — É sobre o seu ritual de ascensão?
— Sabe que eu amo você, não sabe?
— Também amo você.
Kassia se levanta e senta na beira da cama.
— Não quero falar sobre isso.
— Vem cá.
Arthorm estende os braços e ela se aninha em seu abraço. Acima de qualquer outro sentimento que pudessem ter um pelo outro, a amizade prevalecia e no que dependesse dele, permaneceria assim.
— Se prefere assim, assim será.
— Obrigada, Art. Você é o melhor companheiro que uma fêmea poderia ter, sabia?
— Com fome?
Kassia solta um arfar de riso envolta no calor dos seus braços. Se dissesse que não ela estaria mentindo, mas pensar em biscoitos antidepressivos de chocolate, automaticamente a fez lembrar-se de Ailin.
Podia sentir na pele que ainda era dia, mas assim que o sol se pusesse ela iria visitar a amiga. Ainda estava difícil de processar tudo que havia acontecido, mas não era desculpa para negligenciar a primeira amiga que havia feito nesse mundo tão singular do qual agora fazia parte. Um mundo do qual ele, já não fazia mais parte.
Como se adivinhassem que estava acordada, os bebês trataram logo de reclamar a sua presença no quarto ao lado, salvando-a do abismo que se lançava ao pensar em Xstrauss, ela sorriu ao saltar fora da cama e Arthorm a seguiu com um sorriso nos lábios que não alcançava os olhos.

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Vale dos Aehmons
Мистика®Todos os direitos reservados. Liberado por período indeterminado. (design de capa Debby Scar). Kassia é uma jovem comum, que sempre batalhou para ter seu espaço e sua liberdade no mundo. Não sabia ela que sua vida tomaria rumos sem volta quando...