Capítulo 35

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*Explicando, em itálico logo aqui a seguir, é trecho de um diário que Kassia está lendo, e Jarel, por meio dela e ser relevante a ele, de certo modo...



    ... Dois anos depois ele me vendeu para o Sol. Meus irmãos menores e a minha mãe doente de pneumonia ganharam compras e remédios, e eu ganhei um dono. Sol me levou com ele e me disse que não seria fácil. Não foi mesmo.

    Ele fez um quarto pra mim no sótão da casa dele e me deixou escolher. Ele me deu algumas alternativas. Me devolver para os meus pais. Me deixar na porta de um orfanato ou na praça... Eu ainda era uma criança, mas já tinha visto tanta coisa. Minha irmã mais velha que também foi vendida por compras e fugiu estava tão machucada que morreu nos braços da minha mãe. Eu estava lá, vi o desespero da mãe. Então ajoelhei nos pés do Sol e chorei, implorei baixinho com a minha cabeça colada no sapato dele, porque era assim que a mãe fazia quando o pai chegava bêbado em casa, ainda assim ele batia nela, só que doía menos porque só alcançava as costas. Eu esperava que Sol me batesse e ele passou a mão na minha cabeça e pôs um joelho dobrado no chão para ficar da minha altura. Eu estava tão envergonhada, desesperada e confusa, que não conseguia tirar os olhos do chão. E Sol me disse: tão pequena e tão pronta, você já nasceu pronta, pequena. E eu nunca me esqueci dessas palavras, mas demorei alguns anos para entender que agi do jeito que age uma submissa nesse dia. Ele me fez levantar e tirou a minha roupa e me lembrei do meu pai aconselhando que fosse pra ficar quietinha e o deixar fazer o que quisesse. Meu pai até fez algumas coisas com a minha mãe para eu ver, então eu já sabia o que esperar, meu pai também enfiava o dedo em mim na frente e atrás, mas o Sol não fez nada disso e me surpreendeu de novo. Eu tinha machucados nas costas que ainda não estavam curados e ele me fez sentar na banheira, me deu banho e passou remédio depois de me vestir, me fez deitar na cama. Pouco tempo depois ele voltou com um copo de leite e um pote com um monte de biscoitos e eu chorava de novo aí ele me disse que me faria chorar de verdade se eu não parasse e não consegui parar. Sol juntou meus pulsos e amarrou com uma corda, me levantou da cama e me pendurou no caibro do teto no lado mais baixo levantou a minha camisola, abaixou minha calcinha e começou a bater. Ele bateu e bateu e eu chorei, chorei tudo que estava sentindo, por mim, pela minha mãe, pela minha irmã morta. Chorei até não sentir mais vontade, até não sentir mais dor, não senti quando soltou meus pulsos, nem escutei o que perguntou, mas concordei assim mesmo e ele me abraçou. Me beijou na testa e me fez deitar de bruços na cama e o abraço eu senti, o beijo também, e acho que foi naquele momento que entendi que eu seria capaz de fazer qualquer coisa pra sentir isso de novo...

    Kassia fecha o diário com um marca página e move a cabeça estalando o pescoço. Para deixar Korine mais tranquila ela decidiu voltar em uns dos seus meios de transporte e a jornada de 5/6 horas com o vento e Ores viraram 19 entre barco, helicóptero e jato particular, e isso porque era particular!

    Ores estava sentado na sua frente e parecia que ia ter um colapso nervoso a qualquer instante, ele mostra os dentes e seus olhos de repente ficam totalmente negros e ela percebe o passageiro que não havia sido convidado.

— Calma aí ô protótipo de pinguim. Vai pegar um copo de suco pra ela, vai. E por acaso, eu não sou vampiro para precisar ser convidado.

— Pode ler a minha mente?

    Ela estava sendo sarcástica, mas tinha lá o seu dúbio sentido e ele ri;

— Só os que me dizem respeito, pode ficar tranquila.

    Ele estende a mão e quando ela segura ele se apresenta;

— Jarel, seu anjo caído da guarda.

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