Capítulo 29 final

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    Trevon encara a Valquíria sem querer acreditar que tenha sido ludibriado de forma tão abominável, mas ele foi, por dias, por semanas até!

    Danikas o encara de volta com a expressão de quem não está para brincadeiras e de leve analisa em torno aos demais guerreiros e torna a sustentar o olhar dele com as sobrancelhas levemente arqueadas como forma de aviso, mas ele não entende a dica e continua segurando seu pulso com o punho fechado como uma amarra de ferro e... Foi inevitável.

    Mesmo, de verdade.

    Talvez, se não estivesse tão emocionalmente cansada, teria tido sangue frio para reagir com ele de forma diferente, mas se agigantou para cima dele em toda a sua força numa besta de proporção colossal e levantou seu corpo com o máximo cuidado que conseguiu. Odiando o fato de não ter um par de mãos em sua forma mais animal e sentindo o familiar sabor do seu sangue enquanto levava o seu corpo pendurado em uma mordida frouxa pelas cavernas mais abaixo, aonde poucas horas antes havia deixado suas irmãs.

    Ela precisava muito que ele entendesse que elas não seriam resgatadas se ela não fosse como era e saiu pisando duro pela caverna abaixo, mas Danikas o deixa cair a ver a pedra mexida e clama pela irmã, ao ver o estado em que o deixou.

    Alegra se materializa ali no instante seguinte e se põe a cuidar de Trevon enquanto sua irmã entra na sela improvisada e solta um suspiro sentido.

    Trevon fita Alegra, preocupado em perceber que ela chora lágrimas de sangue enquanto cuida do ferimento entre o seu ombro e pescoço, e Danikas grunhe alto, entre dor e raiva ao ver o estado lastimável que estão suas irmãs de raça.

    Os corpos mutilados de quatro machos jaziam sem sangue no canto da cela e o quinto corpo estava sem cabeça um pouco mais adiante no espaço úmido. As fêmeas silvavam ameaçadoras para ela, presas pelas correntes no espaço confinado, e um vulto que se moveu na penumbra da cela chamou sua atenção, de imediato ela se volta e reconhece a cabeça que faltava no quinto corpo a balançar na mão de um macho emocionalmente quebrado envolto pela sombra. Não foi difícil deduzir o que havia acontecido: Ferguz tentou soltar suas irmãs e como não conseguiu, chamou reforços...

— Não, ele não chamou. Quando chegou aqui o inevitável já havia acontecido e você volta comigo agora, Danikas. Não há mais motivo para que fique aqui.

    Danikas se deixa cair no chão e encosta a sua fronte no piso frio, humilhada.

    Reconsidere Brianis, por caridade, eu faço o que você quiser.

    Já está fazendo, Danikas, e continuara independente da sua vontade.

    Só até que nasçam as meninas, então. Pelas meninas ao menos.

    Proposta errada, Danikas. E se quer saber, eu até permitiria, se não fosse você a ter que pedir isso.

    Danikas levanta a cabeça e encontra o olhar implacável de Brianis a sustentar o seu.

    É uma guerreira de pouca fé, Danikas. E esse é só um dos defeitos que te faz tão fraca e ineficaz. As crias dele em seu ventre são só um meio para um fim, qualquer uma das suas irmãs pode abrigá-las em seus ventres e me dariam bem menos preocupação, já que agiriam por puro instinto.

    E ela verbaliza seriamente;

— Se é isso que te preocupava, não há mais preocupação. Há também as descendentes que ele tem espalhadas pelo globo que também podem receber em seus ventres as meninas, então... Vocês têm o tempo que eu preciso para falar com o rei. Aconselho que o use com sabedoria.

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