Capítulo 3 - Apenas uma nível 1 com uma faca na perna

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— ACOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOORDA, SOLDAAAAAAAAAAADO! — foi com um grito do Imma que eu acordei de manhã.

Tapei os ouvidos e xinguei por ele ter gritado exatamente neles. Embora aquilo fosse um jogo, minha audição estava bem demais para ser obrigada a aguentar um grito daqueles.

— Já acordei — resmunguei, fazendo uma careta.

A parte de baixo da cabana onde morávamos tinha apenas diversas camas — vinte e cinco e sim, eu parei pra contar. Isso era metade da turma, então possivelmente deve haver outra cabana igual que tenha a mesma quantidade de camas, separando as equipes.

Não havia banheiros nem nada — não que eu tivesse vontade de fazer esses tipos de necessidades por aqui.

Me levantei da cama devagar e percebi que era a única que ainda dormia. Malek e Utae não estavam mais ali, o que deixou eu e Imma sozinhos. Encarei aqueles olhos azuis, da cor dos meus — e talvez até mais bonitos.

— Não tenho um dia de adaptação? — choraminguei. — Que horas são agora? Seis?

— Bom, isso eu não sei, mas o sol acabou de nascer. Deve ser por aí mesmo.

Suspirei longamente e esfreguei os olhos.

— Por que me acordou cedo?

— Vamos treinar. Se quer continuar aqui, Utae disse que pelo menos tem que saber se virar sozinha.

— Quer dizer que vou ganhar uma espada? — Eu sempre quis pegar numa espada de verdade.

— Claro que não — ele disse como se fosse uma coisa óbvia.

Revirei os olhos e ele fez um gesto pra que eu o seguisse. Então saímos do quarto pelo alçapão e finalmente eu conheci o que havia do lado de fora da cabana: neve. O local estava cheio de neve cobrindo o chão e era tanta que batia quase nos meus joelhos. A visão de tudo encoberto pelo manto branco me deixou babando. Era lindo e eu sentia que tinha poder suficiente para fazer aquilo quando quisesse também.

Imma foi até uma parte onde fiquei infeliz ao ver que não havia neve. O calor que emanava do corpo de Malek era suficiente para derreter toda neve e bastou Imma chegar para "sugar" toda a água para si, embora o calor do fogo já tenha evaporado boa parte dela.

Ah, não. Utae e Malek vão me assistir, pensei em desgosto. Ficar só com Imma seria algo menos pior e que eu conseguiria suportar. Você é uma nova garota agora, Natália. Não deve ter medo desses idiotas, aquilo me passou um pouco mais de coragem.

— Já lutou alguma vez, gracinha? — Odiava toda vez que Imma me chamava assim.

Cruzei os braços por baixo dos seios e argh! Eu sempre me esquecia que os garotos olhavam toda vez que eu fazia isso.

— Só digo se me prometer que não vai mais me chamar de "gracinha". — Fiz as aspas com os dedos. Aquilo sinceramente já estava me irritando.

Inesperadamente Imma me deu um soco no olho que me fez recuar vários passos até eu tropeçar e cair de mal jeito, fazendo uma careta. Meu olho começou a latejar e dar indícios que ia inchar logo, logo.

— Isso foi um "não" pelo jeito — o leve tom e convencimento da sua voz fez meu sangue ferver de raiva. Agora ele tinha certeza que eu não sabia lutar (pelo menos não me defender de um soco inesperado).

Me levantei do chão num pulo e o encarei com os punhos cerrados, com uma vontade de socar um daqueles olhos azuis.

— A primeira lição que você deve aprender: manter a calma. Se deixar a raiva te dominar, consequentemente seus sentidos vão ser menos apurados e isso vai te dar mais chance de perder a luta.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora