Capítulo 40 - Ele... me deu um beijo

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De primeira eu fiquei sem reação. Eu não sabia que ele faria aquilo comigo, então o resultado foram minhas bochechas ficando cada vez mais quentes e meu coração cada vez mais acelerado. Meus olhos estavam arregalados em surpresa e minhas mãos haviam travado na sua nuca. Uma coisa que nunca podemos esperar é um beijo de um... amigo. Menos ainda de um irmão. Confesso que era bom e ao mesmo tempo estranho. Era como se... estivesse beijando eu mesma.

Bem, o pior não era isso. O pior era que eu estava tão surpresa — e travada — que mal consegui correspondê-lo decentemente.

A primeira coisa que fiz foi tirar as mãos da sua nuca — decididamente, nunca mais brinco com a tatuagem dele —, depois devagar fui afastando nossos rostos, embora estivesse morta de vergonha de encara-lo agora — senti até minhas bochechas corarem de novo! Pelo menos, quando olhei pra ele, percebi que não era a única envergonhada pelo que tinha acabado de acontecer.

Percebendo que eu ainda estava desengonçada no gelo — e ainda em cima dele de uma maneira constrangedora —, ele acabou refazendo as lâminas na sola das minhas botas de metal e por sorte, também me ajudou a equilibrar.

É, bem, aquela cena poderia ser romântica entre nós — e eu confesso que até era — só que o que aconteceu em seguida, acabou completamente com o clima:

— Vocês estão em lago sagrado — uma vez como um sussurro de mil vozes correu por nós. — O lago para nosso irmão, Fáeton.

Foi aí que eu vi da onde que vinham. Da única — e magnífica — árvore de choupo, localizada bem perto do lago, com alguns galhos passando por cima de algumas partes. As três irmãs estavam talhadas na árvore. Uma num galho mais a esquerda, outra num galho mais a direita e por fim uma no tronco, ficando mais elevada que as outras duas. Todas mantinho expressões chorosas, como se chorassem eternamente.

— As Helíades — murmurei mais pra mim.

Eram três irmãs que perderam o irmão Fáeton e desde então choraram tanto que foram transformadas na árvore — dizem até que suas lágrimas foram transformadas num rio. Pelo jeito no jogo é um lago.

Antes que eu pudesse ter um raciocínio rápido — a cena com o Tanay tinha feito uma bagunça no meu cérebro —, senti algo prendendo meus pés. Quando olhei pros mesmos, vi galhos se apoderando deles.

— Tanay! — gritar foi meu primeiro instinto.

Não adiantou muito porque ele também estava sendo capturado pela árvore.

— Congele as raízes — foi a primeira ordem dele.

Fiz o que pediu, pra ver se adiantava alguma coisa. Não serviu de muita ajuda. A árvore criava outro jeito de me prender. Começou a ficar tão forte que acabei escorregando. Elas estavam me arrastando em direção à árvore. Meu coração começou a acelerar em desespero. Não fazia ideia do que poderia fazer pra impedir. Meus treinamentos não incluíam ser capturada por uma árvore.

Não demorou muito até os galhos me cobrirem até a barriga, continuando a me puxar em direção à árvore. Olhei pro lado, querendo ver se Tanay tinha tido alguma ideia, mas o mesmo havia sumido. Foi aí que fiquei mais nervosa sobre o que quer que estivesse acontecendo.

Assim que fui arrastada até perto da árvore, o galho me ergueu até eu ficar da altura da helíade do meio, no tronco.

— Eu Egle e minhas irmãs Egialeia, a da esquerda e Etéria, a da direta, condenamos você e o seu...

Quando a árvore ergueu o outro galho, não havia nada. Nem sequer um resquício de Tanay. Como os rostos na árvore nem sequer tinham expressões mutáveis, não dava pra saber se havia sido proposital ou acidental o sumiço de Tanay.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora