Capítulo 38 - Alecto, Megera e Tisífone

4.1K 503 42
                                    

Fiquei sem acreditar qunado Henrietta finalmente deu a notícia: as Fúrias vieram atrás de Tanay. Então eu comecei a me lembrar de que elas sempre apareciam pra fazer a "justiça dos deuses", ou seja, só pode ter sido Ártemis que tenha invocado aqueles monstros.

Alecto, a Interminável. Megera, o Rancor. Tisífone, o Castigo.

— Quant, você conseguiria fazer as muletas tipo agora? — pedi, já me sentando na cama, fazendo uma careta pela pontada de dor.

— Eu demoraria no mínimo uma hora...

— Tudo bem. — Suspirei.

Respirei fundo antes de me forçar a ficar de pé. Minha perna ferida ainda doía e fazia o ferimento na barriga também doer. Engoli em seco e me obriguei a dar um passo em direção a porta. Quant logo ficou em alerta e segurou meu braço.

— O que está fazendo?

— Não vou deixar o Tanay sozinho.

— Ele não está sozinho. Henri e Dani estão lá.

Balancei a cabeça, sem querer responder. As linhas pretas da mão direita pulsavam levemente como veias.

— Eu preciso ir, Quant, me solta.

— Não posso. Eu recebi ordens...

— Me solta! — ordenei numa voz autoritária.

O garoto engoliu em seco e me soltou hesitantemente. Murmurei um "obrigada" antes de caminhar lentamente pra porta. Meu braço envolveu minha barriga ferida enquanto o outro se apoiava na lateral da porta. Eu observava atentamente a batalha.

Alecto estava infernizando Henrietta. Tisífone perturbava Daniela. Megera cuidava de Tanay. As coisas não estavam muito bonitas para nenhum dos três. Henri e Dani tinham dificuldade para se defender já que tinham costume de atacar apenas de longe. Tanay era o único que conseguia se manter forte durante a luta.

A primeira a cair foi Daniela. Tisífone avançou pra cima dela e eu arregalei os olhos ao ver o que realmente acontecia com quem se metia nas garras das Fúrias. Suas presas mordiscavam a carne do rosto perfeito dela, começando a arrancar lascas tão finas como agulhas. Logo linhas de sangue escorreram por suas bochechas.

Eu sabia que ou Tanay ou Henrietta faria uma besteira pra tentar salvá-la.

Quando Henri deu as costas à Alecto, senti que não poderia mais ficar parada. Caminhei — mesmo que lentamente — em direção àquela luta. De certa forma também era culpa minha. Se eu não tivesse sugerido treinar numa hora dessas, nunca teríamos encontrado a deusa na floresta, brava por termos matado seu filho.

Quanto mais perto eu chegava, mais as linhas na mão direita pulsavam. Respirei fundo. Era como se tentasse me dizer alguma coisa. E eu estava louca pra descobrir.

— Kary! — ouvi Tanay gritar.

Pelo seu tom eu entendi que ele estava me alertando que eu estava fazendo uma grande besteira, mas não podia deixar as duas morrerem nas mãos daqueles monstros.

Bastou eu piscar que Alecto pousou bem na minha frente. Havia um sorriso diabólico que ficava horrível misturado com suas presas afiadas.

— Karysha, filha de Quione. Fazia tempo que não nos víamos.

— Pois é, nunca nos encontramos em bons tempos — comento, desconfortável com seu sorriso.

— Se me lembro bem, anda nos devendo algumas coisas.

— Vocês também andam me devendo algumas coisas. — Decidi também enfeitar meu rosto num sorriso maldoso.

Meu gelo chegou aos seus pés no segundo seguinte, mas ela riu maldosamente e abriu as assas, saindo do chão — embora seus pés de metal ainda tenham ficado congelados.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora