Minha primeira reação foi puxar a cimitarra da bainha improvisada e apontar em direção à mulher. Sentia uma magia forte correndo no ar, indicando que possivelmente ela era uma Elemental. O único problema é que eu não conseguia ver nenhum colar no seu pescoço.
A propósito, a mulher era linda.
Possuía cabelos longuíssimos negros que caíam cheios até seus pés e um rosto bem pálido — acho que até da minha cor. O que havia em destaque no seu rosto eram os olhos roxeados no mesmo tom dos de Utae, só que eram tão mais belos que pareciam ter vindo de outro mundo. Uma coroa de flores brancas se misturava em seus cabelos no topo da sua cabeça. As roupas que usava eram frescas, se limitando a um vestido esvoaçante branco que a fazia brilhar em meio à escuridão.
Ela sorria — e que inveja me deu daquele sorriso doce.
— Quem é você e o que quer? — questionei num rosnado, apontando minha cimitarra em sua direção.
Dessa vez seria eu que protegeria Utae. Nós dois levantamos na mesma hora, em alerta a qualquer coisa a mais que poderia acontecer além da presença daquela mulher.
— Abaixe essa espada, Karysha, filha de Quione. Não sou uma ameaça.
Ela estava descalça — na neve?! —, percebi isso quando deu um passo em nossa direção. Em resposta, dei um pra trás. Utae não me seguiu. Olhei pra ele e foi só aí que entendi por quê. Ele estava hipnotizado pela mulher e a encarava com admiração — cara, uma hora eu tenho certeza que ele vai literalmente babar.
— Como posso confiar em você? — questionei com a voz carregada em desconfiança.
Antes de responder, a mulher caminhou graciosamente em direção a Utae. Eu estava morta de medo e minhas mãos tremiam, mas me recusei a recuar um passo sequer. Me mantive ali, apenas uns dois ou três passos de distância de Utae. Tive raiva dele por nem sequer se mexer. Ele apenas continuava ali, contemplando a beleza da mulher.
Quando ela se aproximou o suficiente, ela tocou o rosto de Utae delicadamente e aproximou ambos os rostos. Ela vai beijar ele?, foi meu primeiro pensamento e realmente aconteceu. Só que foi na bochecha e eu vi um brilho minúsculo piscar por milésimos antes dela afastar o rosto e me encarar.
— Por que não confiaria? — Ela soltou o rosto dele. — Ele confia.
Seus olhos eram os mesmos de Utae, só que, como eu disse antes, bem mais belos. Um raio minúsculo cruzou o céu imaginário da íris e eu soube quem ela era de imediato.
— Filha de Zeus. — Me permiti dar um passo pra trás.
Só que não havia um colar e tatuagem nenhuma. Eu conseguia achar qualquer coisa que pudesse indicar isso.
— Veio tentar nos matar? — questionei, o que, segundos depois, percebi que foi idiota.
É óbvio que ela tá aqui pra te matar, sua burra, me repreendi mentalmente.
— Claro que não. — Ela sorriu e estendeu a mão. — Me chamo Alexia.
Ela não possuía armadura e sua magia parecia muito carregada. Meu alerta estava completamente ligado. Eu não conseguia confiar naquela garota e Utae mal parecia perceber o que acontecia. Ele era uma estátua humana, encarando o nada. Apertei sua mão com cuidado, embora isso não tenha me feito largar a espada.
Durante o aperto, senti pequenas descargas elétricas correrem por meu braço. Não foi tão forte a ponto de me dar um choque, mas foi o suficiente para arrepiar os pelos do meu braço.
— Acho que não preciso me apresentar — digo, me referindo a ela já saber quem eu era. — O que fez com ele? — Meneei a cabeça em direção a Utae.
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A Guardiã do Gelo - Livro 1
Fantasy[Trilogia Os Guardiões - Livro 1] "Estar no último ano do ensino médio pode ser tanto uma benção como uma porcaria. Pensa só: talvez você nunca mais vai poder ver seus amigos de sala e ainda vai ser obrigado a enfrentar o mundo adulto sozinho. Bem...