Capítulo 41 - A visão do Minotauro

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Embora tivesse se passado bastante tempo — acho que foram umas duas semanas ou perto disso — desde o anúncio que o Tanay fizera de que finalmente tentaríamos reconquistar nossa antiga cabana, eu ainda não conseguia acreditar que havia quebrado a barreira de gelo dele e tinha sido promovida a vice-líder.

Só que em contrapartida, nunca tinha visto Henrietta tão fechada. Ela quase não conversava conosco — e se falava algo, sempre era sobre o plano de ataque. Eu começava a suspeitar de que a morte da sua amiga tinha afetado muito o emocional dela.

Aliás, eu não conseguia esquecer aquele beijo.

Tudo bem que havia muito tempo que o mesmo tinha acontecido, entretanto, minha cabeça as vezes implicava comigo e recolocava aquela cena nos meus pensamentos. Claro que Tanay não tentara me beijar depois — longe disso, ele me tratava realmente como vice-líder e não como sua "queridinha" irmã. Só que ainda sim a curiosidade me corroía por dentro, querendo descobrir o motivo dele ter feito tal coisa.

Naquele momento estávamos repassando os últimos detalhes de ataque. Aquela seria a noite em que surpreenderíamos Olivia e seus tripulantes na nossa antiga cabana. Nós quatro estávamos reunidos.

— Primeiro Quant cuida da distração na parte da frente — revisou Tanay. — Nós três nos mantemos nos fundos e invadimos enquanto eles estão distraídos na frente.

Quant melhorara muito desde que começara a treinar com meu irmão. De nível quatro, agora ele era um seis — por que tudo mundo conseguia mais rápido que eu? E eu só ficava cada vez mais ansiosa pra passar pro nível sete. Como tinha virado vice-líder, os meus treinamentos haviam terminado. Tanay sempre argumentava que eu já era boa o suficiente e que o resto de experiência eu conseguiria sozinha.

Mesmo assim, eu suspeitava que toda essa desculpa era por causa do nosso beijo.

Todos assentimos pois sabíamos o que aconteceria assim que conseguíssemos distrair a tripulação de Olivia.

— Henri e Quant estão dispensados — disse Tanay.

Os dois saíram da sala onde nos reuníamos e foram pro quartinho ao lado — onde ficavam as armas — e provavelmente começaram a trabalhar nas suas armas.

— O que foi? — questionei, percebendo que só havia ficado nós dois.

— Vou consagrar uma arma à nossa mãe e queria sua ajuda.

— Isso quer dizer que...? — um pequeno sorriso se formou em meu rosto, quase imaginando o que ele iria dizer em seguida.

— Vou devolver sua espada.

Minha reação foi automática: gritei e pulei em seu pescoço um abraço forte. Abraço esse que durou poucos segundos antes eu lembrar do momento constrangedor que tivemos da última vez que tínhamos ficado tão próximos. Acabei corando ao me lembrar.

— Tudo bem, er... Como vamos consagrar sua arma?

Tanay não pareceu constrangido com o curto abraço. Apenas meneou a cabeça pro lado de fora.

— Não vamos longe dessa vez — disse ele.

Dei de ombros. Já havia enfrentado tanta coisa nesse jogo que mais um monstro pra mim não seria tanta surpresa assim. Lembrar do último me fez passar uma mão na nuca e ver o quanto ela estava descoberta desde que cortara o cabelo — Henrietta havia me ajudado a consertar o corte mal feito que Tanay fez. Ele estava mais pra um corte chanel de nuca batida — só que um pouco torto porque a tesoura que Quant construiu não era lá essas coisas.

Realmente não fomos muito longe. Dava pra ver claramente a cabana de onde estávamos. Demos as costas um pouco e logo ele fez aparecer minha famosa cimitarra de gelo. Ele me entregou ela e eu a segurei satisfeita por tê-la como minha de novo.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora