Capítulo 9 - Meu passeio na Quarta Dimensão

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Fiquei paralisada, sem conseguir pensar em qualquer outra reação. As Fúrias eram bonitas, mas as asas e presas de morcego, tiravam toda a beleza delas. Todas tinham cabelos negros e olhos negros, pareciam trigêmeas. Existia apenas duas diferenças entre as três: a tonalidade da cor da asa e a armadura que cobria todo o tronco — e mais uma vez as pernas de um personagem feminino estavam de fora, sendo cobertas apenas por uma bota de metal, muito parecida com a minha.

— Desculpa — era Utae —, ela não está. — E tentou fechar a porta na cara delas, mas uma delas apenas colocou o pé na frente da porta

— Ah, nós não somos burras, querido Utaemon.

A do meio sorriu e empurrou a porta — mesmo com Utae tentando segurar — e conseguiu entrar, fazendo-nos dar vários passos para trás, numa esperança de conseguirmos nos afastar.

— Permita nos apresentar antes de matarmos nosso alvo. — A do meio sorriu. — À minha direita temos Alecto, a Interminável. Eu sou Megera, o Rancor. E na minha esquerda temos Tisífone, o Castigo.

Alecto tinha a armadura e as asas numa cor mais acinzentada, Megera vestia preto e Tisífone algo mais pro verde-musgo. Todas possuíam unhas — ou garras — longas que estavam começando a me assustar do jeito que a mexiam.

— Nas histórias, alguém mandava elas para se vingar em favor de algum juramento quebrado ou algo assim — falei, tentando pensar. — Quem é que mandou vocês? Não traí ninguém.

As três riram da minha cara.

— Nosso contrato mudou a muito tempo, criança — falou Megera. — Trabalhamos com a justiça e existe alguém que nos mandou aqui para verificar o caso. Equidna. Esse nome é familiar pra você?

Engoli em seco. Oh, céus...

— Fomos criadas para julgarmos mortais. Imortais e mortais nos convocam toda vez que sentem ódio por alguém. — As três mostraram suas presas. — Mas chega de papo, viemos cobrar aquilo que nos foi cobrado.

Num movimento rápido, Utae me puxava pelo braço e... Pera, ele estava... voando? Meu coração quase sai pela boca quando passamos em alta velocidade pela portinha dos fundos da cabana. Ele aterrissa de mal jeito na neve do lado de fora. Como ele havia me ajudado a escapar, faço um favor a ele, retirando todo o frio de seu corpo pelo impacto na neve.

— Valeu — consegui dizer assim que me levantei da neve.

— Não me agradeça ainda — disse sério, no momento em que as três irmãs saíram da cabana, atrás da gente.

— Aquele que engana as Fúrias também sofre as consequências — alguma delas disse. Estava escuro demais pra saber qual.

Todas abriram as asas escuras de morcego e voaram em nossa direção. Quando chegaram perto o suficiente, um raio estourou no céu e só então percebi as nuvens carregadas. Vai chover? Desde quando?, me vi perguntando num ato de desespero. Não queria que aquela noite se tornasse mais assustadora com a chuva — e não conseguia compreender como poderia chover num lugar que só nevava.

— Filhinho de Zeus — era a voz de Alecto. — Não viemos aqui cobrar nada de você, não precisa gastar sua energia tentando salvar a filhinha de Quione.

Foi aí que senti a magia no ar. Quer dizer que a Interminável também tinha o dom da persuasão? Percebi que ele parecia hesitar ao ouvir a voz de Alecto.

— Utae, me escuta — tentei usar meu poder, mas estava tão nervosa que nem sei se consegui. — Elas vão devorar nós dois, independente do que fizermos. Só que uma coisa podemos escolher. Você quer morrer como herói ou como covarde?

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora