Capítulo 37 - Prata vs gelo

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Olha, pra uma pessoa que nunca ficou cega na vida, de repente perder a visão não é fácil. Porque logicamente se estamos acostumados e habituados a enxergar cores por onde quer que vamos, só que ficar cego de uma hora pra outra, não é uma experiência que as pessoas gostariam de passar.

Muito menos eu.

Posso jurar que eu achei que havia ficado cega assim que contemplei a glória da deusa. Eu ouvia dizer que a forma divina de um deus nunca pode ser visto por um mero mortal por ser forte demais para nós aguentarmos. Não sei bem que forma ela tinha quando se revelou a nós, mas todo aquele esplendor não durou muito. Logo bem nas nossas costas estava uma deusa.

A deusa Ártemis.

— Como ousam matar meu filho? — sua voz estava séria.

Então seus olhos cinzentos — e cintilantes como os de Henrietta —, caíram sobre Tanay.

— Você? Ah, eu te conheço. Foi você quem sequestrou minha filha! — exclamou ela, agora parecendo irritada.

— E isso foi algo ruim? Você ia usá-la como sacrifício humano! — gritou ele de volta.

Então quer dizer que Tanay em algum momento da vida dele já foi uma boa pessoa?, me vi questionando mentalmente, surpresa.

Ártemis se aproximou dele e só aí parei pra reparar em como estava vestida. Diferente das outras deusas que eu havia contemplado, ela vestia uma armadura que era uma mistura de marrom e verde. A armadura cobria todo seu corpo. Parecia indestrutível. Nas costas carregava o arco e uma aljava cheia de flechas prateadas. Seus cabelos castanhos estavam soltos e se mexiam livremente com a brisa que nos cercava.

— Existem coisas que mortais como você nunca compreenderiam — disse ela numa voz ameaçadora, cutucando com o indicador o peito da armadura de Tanay.

— Assim como também existem coisas que deuses como você nunca entenderiam — respondeu ele no mesmo tom, tirando num tapa o dedo celestial de Ártemis da sua armadura.

A tensão era tão densa no ar que se eu esticasse a mão com certeza consegiria apanhá-la.

— Como se não bastasse, matou um dos meus. — Agora ela dava passos para trás, mantendo a expressão séria.

— Esse é o obetivo do jogo, certo? — Tanay ousou colocar aquele pequeno sorriso convencido no rosto, como se chamasse a deusa pra um desafio.

O arco foi parar na mão da deusa e num segundo uma flecha estava tensioanda no arco. Num reflexo eu puxei o braço do Tanay. Ele não podia continuar com aquela loucura. Por incrível que pareça o meu puxão salvou a vida dele porque a flecha prateada da deusa atingiu a árvore bem atrás dele — e ia pegar perfeitamente no pescoço.

— Não se intrometa! — rosnou a deusa pra mim.

Quando dei por mim já estava na minha forma animal, correndo na direção dela com os caninos à mostra.

— Os animais são a minha especialidade — ouvi ela sussurrar no meu ouvido, mas sabia que aquilo era só um truque pra me enganar.

Logo eu dei um pulo e no segundo seguinte meus caninos estavam perto do seu rosto celestial. Só que esse sentimento de vitória durou poucos segundos porque ela se teletransportou pra trás de mim.

— Corre, Kary! — ouvi Tanay gritar.

Pelo instinto animal eu realmente corri o mais rápido que me era permitido. Só que isso não foi o suficiente pra não levar uma flechada de prata. Comecei a mancar e a sentir dor poucos segundos depois e tive que me obrigar a não me afastar muito do local onde ela estava. A dor vinha da pata traseira, o que só podia significar que minha perna humana havia sido atingida.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora