Capítulo 31 - Não é justo, usaram minha raiva contra mim!

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No dia seguinte eu acordei com um cheiro maravilhoso. Era comida. Céus, como eu sentia falta de algo pra comer — a gente geralmente só comia uma ou duas vezes por dia ou as vezes ficava com fome o dia inteiro. Abri os olhos devagar, me deixando levar por aquele cheiro maravilhoso. Logo eu estava me sentando, respirando fundo o ar fresco do dia ensolarado.

Apenas Melina estava assando algo na fogueira. Não via nem um sinal de Tanay, Henrietta ou Daniela. Arqueei uma sobrancelha e me levantei da grama — por incrível que pareça, sim, eu tinha pegado no sono ali mesmo. Caminhei até Melina e me sentei ao seu lado, observando-a assar uma espécie de carne qualquer.

— Onde estão os outros? — questionei depois de um tempo.

— Tanay foi cortar madeira. Henrietta e Daniela foram caçar.

— E você?

— Estou fazendo o almoço. — Ela deu um sorriso doce.

Continuei a observar o jeito como ela assava a carne com delicadeza.

— Quem é o seu parente divino?

— Psiquê, deusa das almas.

— Então você deveria ser sinistra igual aos filhos de Hades, não? — Arqueei uma sobrancelha enquanto perguntava.

Melina riu.

— Deveria, mas minha mãe é tão doce que isso seria contrariar a personalidade dela.

Bom, isso pelo menos explica o fato de você ser doce o tempo inteiro, pensei distraidamente.

— E... você e Tanay são...?

— O quê? — Ela riu mais uma vez. — Namorados? Nem pensar. Ele é cabeça dura demais pra mim.

— Então como é que você consegue sempre burlar as ordens dele?

— Eu sou a vice-líder. Minha função é questionar as ordens do próprio líder de vez em quando.

São tantas funções de líder e vice-líder que eu me pergunto de onde esses quatro tiraram tanta disciplina, pensei, surpresa por eles saberem de cor o que cada um tinha que fazer.

— Aliás, Tanay me disse que ele que vai treinar você.

— Eu sei. — Fiz uma careta. — Mas na verdade eu queria que você me treinasse.

O sorriso doce voltou aos seus lábios.

— Eu também queria te treinar, só que Tanay se acha mais adequado pra isso. Então se prepara, porque ele não costuma pegar leve no treinamento.

Soltei um longo suspiro.

— Não se preocupe. Vou observar vocês dois de longe só pra ter certeza que ele não vai fazer nada de mau com você.

— Ele sempre foi assim? Insensível?

— É a personalidade da mãe divina de vocês dois. Coração de gelo, como eu gosto de chamar particularmente.

— Isso quer dizer que eu sou assim também?

Mel negou com a cabeça.

— Nossa personalidade faz parte de nosso gene — explicou ela —, o que significa que só temos tendência a ser uma certa pessoa. Não quer dizer que temos de ser ela.

— Natália, é você? — fingi uma expressão surpresa.

— Ah, não, quem dera. — Outro sorriso doce. — Eu gostava da Nath, admirava a inteligência dela. Pena que os garotos eram tão idiotas com a pobrezinha.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora