Capítulo 16 - Nunca deixe Tritão te oferecer uma música

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Fiquei um bom tempo com os olhos arregalados, sem acreditar que estava mesmo na presença dele. O famoso deus do mar. Oh céus, essa é a hora erradíssima para fazer besteiras, Nath, mordi o lábio ao pensar.

Depois de ter ficado igual uma besta parada, me ajoelho desajeitadamente.

— M-Majestade — falei, gaguejando.

Poseidon riu.

— Levante-se, mortal. — Ele fez um gesto pra que eu me levantasse e eu o fiz. — Não quero isso de você. É só que um dos meus filhos me avisou que você viria.

Arqueei uma sobrancelha e percebi que sua esposa e seu filho não pareciam muito feliz com a citação de "meus filhos".

— Não são seus filhos. São seus bastardos com humanas — a rainha disse, séria e claramente enciumada.

O rei suspirou.

— Eles são meus filhos, Anfitrite. — Poseidon virou o rosto pra mim. — Immacolato, conhece ele? Pois bem, ele pediu pra que eu cuidasse de você enquanto ele te procurava.

Nas histórias não dizia que Anfitrite não era ciumenta?, me vi pensando, mas achei péssima ideia comentar isso em voz. Se bem que na verdade... As histórias só dizem que ela não era tão doentia quanto Hera, só que isso não quer dizer que não sentia ciúmes.

— Mas... como ele sabe onde eu estava?

— Eu não sei, garota. Só estou fazendo o favor que meu filho pediu. — Ele fez um gesto em desdém. — Tritão, apresente a ela o castelo.

O jovem olhou pro seu pai por um tempinho antes de vir nadando até mim. Ele meneou a cabeça pra porta de onde eu havia entrado e eu o segui, nadando o mais rápido que conseguia com duas pernas. Quando consegui chegar no corredor, eu não fazia ideia de onde ele poderia ter ido porque eu era lenta demais nadando. Xinguei mentalmente por eu não ter uma cauda.

— Segunda porta à esquerda — ouvi uma voz no corredor, masculina.

Dei de ombros e nadei até ela. Depois de alguns bons minutos, chego na porta ofegante e vejo que a mesma está levemente aberta. Entro timidamente no aposento e logo consigo ouvir uma música angelical saindo de uma harpa. Fico surpresa ao ver que era apenas Tritão tocando, entretanto, o som era tão belo que quase não acreditei que era um homem (tritão, na verdade) tocando aquele instrumento.

Ah, sim. É ele que toca para acalmar as ondas, lembrei-me no segundo seguinte.

— Eis o melhor aposento, humana — disse ele, enquanto seus dedos dedilhavam as cordas delicadamente.

— Se puder me chamar de Kary, eu agradeceria... Alteza — consertei o tratamento, tentando sempre ficar em alerta com as minhas palavras já que eu estava na presença de um príncipe.

— Certo, Kary. Sente-se e aproveite a música.

Assenti e sentei no primeiro banco que vi na minha frente. Passei a ouvi-lo com calma e me surpreendi com a belíssima melodia entrando pelos meus ouvidos. Era tão doce e suave que me deu sono — no bom sentido.

Quando a música terminou, bati palmas — não que elas tenham sido tão audíveis assim por causa da água que nos cercava, mas o que vale é a intenção, né?

— Obrigado, obrigado. Eu sei que a música é divina — disse ele, com um sorriso e abaixando-se levemente, agradecendo num gesto pelas palmas.

— Tá, agora por que não me mostra outros cômodos? — sugeri, mas ele se sentou no banquinho atrás da harpa.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora