Capítulo 10 - Kameel é... gay?

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De uns dias pra cá, comecei a entender que as coisas ruins só acontecem durante a noite. Pelo menos o jogo estava nos dando alguns dias de folga dos monstros porque pelo que aconteceu alguns dias atrás, eu ainda tinha horríveis pesadelos sobre as Fúrias.

Kameel nesses dias havia virado um amorzinho comigo, sendo o mais gentil de todos os garotos — ou eu sou uma idiota e estou imaginando isso já que ele meio que ainda cuidava de mim desde do que aconteceu com meu rosto (o sangue da alma que escorreu por ele e tal). E aos poucos eu começava a gostar dos garotos — tirando Malek por ser 24 horas insuportável e Xander que pra mim continuava a ser uma incógnita de tão calado que ficou depois de ter me salvado das Fúrias.

Utae naquela semana finalmente tinha me liberado uma arma pra poder treinar — só que disse também que eu só teria uma pra ficar comigo se fizesse uma sozinha (o que acabou estragando meus planos já que eu ia pedir pro Kameel construir um arco pra mim).

Aproveitando a bondade de Kameel ultimamente, acabo pedindo pra ele me ajudar a treinar — embora eu gostasse do Imma me ajudando já que ele não era tão grosso como o Malek.

E era isso que estávamos fazendo naquele fim de tarde enquanto assavam a carne para o jantar.

— Tenta se manter segura durante o golpe, vai fazer o oponente sentir medo de você.

— Medo de mim? — Soltei uma risada irônica. — Por que alguém teria medo de mim?

Vi um pequeno sorriso em seu rosto.

— Você é mais assustadora do que parece.

— Ah, eu sou feia, né? — falei num tom sarcástico, mal me lembrando que no jogo eu era bem diferente da sem graça da Natália Winter. — Entendi.

— Não! — argumentou de imediato, parecendo corar. — Não, Kary. Você é linda.

Pera, ele ta dando mole pra mim? Um garoto tá, tipo assim, dando mole pra MIM?, meu cérebro berrava em surpresa e alegria. Ai, Kary, não seja boba. Não é possível que ele tenha deixado isso tão na cara. Ele não deve tá dando mole pra você. Pare de imaginar coisas.

Percebi que entre nós ficou um silêncio constrangedor. Decidi fazer o estilo difícil que sempre sonhei em fazer — estava na minha lista pessoal de "coisas que nunca tive coragem de fazer" —, mas na minha vidinha sem graça nunca apareceu algum garoto me chamando de "linda" pra eu poder testar esse meu outro lado.

— Só agora que você parou pra reparar isso? — digo, revirando os olhos, fingindo estar brava. — Isso é natural. Não preciso de alguém me elogiando pra saber.

Ok, eu peguei pesado, pensei, quase me deixando pressionar os olhos.

— D-Desculpa, eu... não...

— Vai continuar me ajudando a treinar ou não? — questionei num tom impaciente falso.

— Eu vou, claro, hã...

Por um momento ele pareceu perdido e eu acabei sentindo pena. Tá, eu não deveria ter agido daquele jeito com ele, pensei meio arrependida.

— Está... Está pronta? Acho que já podemos... lutar de verdade.

Abri um sorriso convencido.

— Eu nasci pronta, baby.

Então ele atacou no segundo seguinte e eu defendi com o primeiro golpe que me ensinara naquela tarde. Um soco aqui, ali, aqui de novo e mais uma vez ali. Eu estava usando a defensiva enquanto esperava ele se cansar pra eu finalmente poder entrar na ofensiva. O momento parecia demorar uma eternidade, portanto, já impaciente, decidi logo entrar na ofensiva o que foi meu maior erro porque ele achou uma brecha exatamente na minha barriga e foi bem ali que ele me socou.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora