Capítulo 45 - As marcas da esperança

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Por instinto eu usei os ventos para me ajudar. Entretanto, a queda até a água foi bem rápida. Isso mesmo, nós duas caímos na água — e agora Nerea me deve uma por eu não ter deixado ela morrer com o impacto. Demos mais sorte ainda do lago ser fundo por causa da nossa altitude. O único problema é que nadar com armadura era muito difícil. Eu tentava ir pra cima e a armadura me puxava para baixo. Tentei manter a calma em meio a uma situação tão complicada. Eu tinha que pensar em alguma coisa. E rápido.

Minha primeira — e única — ideia foi congelar o lago. À essa altura Nerea já deveria estar morta, então precisava ao menos me salvar. No segundo seguinte eu estava congelando tudo ao meu redor, fazendo como uma capsula de gelo pra mim, onde logo pude respirar o ar gelado. Aos poucos fui abrindo passagem em meio ao gelo, cada vez mais pra cima — e nos meus pés, algo como uma escada de gelo. Até que não demorou muito até eu estar na superfície, um pouco ofegante por ter usado do meu poder.

Meu coração quase foi pra boca ao notar que em meio ao lago congelado, havia uma mão pálida acima da superfície. Era a mão de Nerea. Ela estava quase conseguindo sair por conta própria.

De imediato eu segurei sua mão e fui descongelando o pedaço do lago em que encontrava seu corpo. Demorou um tempinho até eu conseguir puxar ela por inteiro, mas lá estava Nerea, imóvel e pálida. Arrastei ela até a margem do lago e sentei perto do seu corpo. Toquei a lateral do seu pescoço e embora a pulsação estivesse fraca, indicava que pelo menos estava viva.

Retirei o frio do seu corpo, tentando deixa-la mais aquecida pra que acordasse logo. As horas foram passando, o dia foi amanhecendo e os olhos de Nerea foram se abrindo com o tempo.

— Por... quê? — ela conseguiu achar forças pra perguntar.

E eu sabia exatamente ao que ela estava se referindo.

— Somos da mesma equipe. — Abri um pequeno sorriso. — Não podia deixar você morrer.

Vi um esboço de um sorriso em seu rosto antes dela voltar a fechar os olhos, como se precisasse descansar. Suspirei e olhei ao redor, vendo se conhecia o local. Bem, não conseguia ver muita coisa. Me levantei devagar, sentindo o cansaço tomar conta de mim. Não tinha conseguido descansar direito nas últimas horas e tinha me forçado demais.

Sem problemas. Eu tinha ajuda da Conexão.

Quando olhei pra minha mão, levei um susto ao perceber que as linhas na minha mão tinham desaparecido quase que por completo. Tentei usar o poder de cura, mas só senti um pouquinho do cansaço indo embora. O pior é que quando o fiz, foi aí que as linhas desapareceram mesmo.

Olhei ao redor, inutilmente querendo obter alguma resposta. Não conseguia entender o motivo daquilo. Assim que as linhas sumiram, foi como se eu me sentisse mais fraca.

— Isso tem a ver com você, Quione? — questionei pra ela num sussurro.

— Você adora me invocar, não é?

E lá estava a deusa, sentada numa das árvores, bem no galho. No mesmo instante a árvore foi congelando-se sozinha.

— Eu quero respostas — falei séria.

— Depois eu que sou a fria. — Havia um pequeno sorriso de divertimento em seu rosto.

— Claro, aprendi com a melhor — dessa vez fui irônica.

— Às vezes eu te acho corajosa até demais — comentou ela, embora não me encarasse.

— Quione, eu quero respostas — a pressionei.

Seu sorriso sumiu.

— A Conexão sumiu porque vocês dois estão afastados demais — respondeu ela, fazendo um gesto como se não fosse algo importante.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora