Fiquei algumas horas com Nerea, até ela se sentir bem o suficiente pra conseguir sentar. Nisso eu já tinha saído pra caçar algumas coisas pra comermos — e isso incluía harpias no cardápio. Era de tardezinha quando consegui acender uma fogueira para esquentá-la. Eu não precisava daquilo.
Por eu passar o dia inteiro cuidado de Nerea, não me sobrou tempo pra investigar sobre as marcas nas árvores, o que só me deixou mais ansiosa. Era óbvio que eu queria segui-las pra saber onde iriam dar.
— Você me lembra muito Olivia — comentou Nerea depois de só ficarmos ouvindo o crepitar do fogo por um tempo.
— Hein? — Não sabia se aquilo era um elogio ou uma ofensa.
— Ela era uma boa líder — explicou. — Você também poderia ser se tentasse.
— Acho que meu cargo sempre só se limitou a ser vice-líder. — Havia um meio-sorriso no meu rosto.
— Porque você quis.
— Agora vai me dar lição de moral como minha mãe? — Eu não estava brava.
— Já pensou em fazer uma aliança?
— Não sei quem chamaria ou se daria sorte de encontrar alguém. Não sei nem quantos Jogadores ainda estão vivos.
— Eu conversei com Gilbert antes de começar a jogar o jogo. Ele tinha me dito que quando faltasse apenas vinte e cinco jogadores, íamos começar a ter a contagem e a localização dos que faltavam se não me engano.
Arqueei uma sobrancelha numa pergunta silenciosa.
— Não sei como vai ser isso — disse.
— Vai tornar o jogo mais competitivo.
Ela assentiu.
— Provavelmente estamos muito espalhados pelo mundo virtual. Tenho medo do que ele vai fazer quando formos só vinte e cinco.
— Em quantos você acha que somos agora?
— No chute? Eu diria trinta.
Engoli em seco, esperando que ela tivesse errado feio o número, embora não fosse tão impossível que o número estivesse por aí mesmo. Ou quem sabe menor. Então nossa conversa cessou por um momento. Ambas distraídas com o fogo que nos separava.
— Nós... somos uma equipe agora? — questionei.
— Por que não? — Ela colocou um pequeno sorriso no rosto.
— Pois bem, então eu quero um juramento.
— Não confia em mim?
— Confio — falei e estava sendo sincera. — Mas Olivia pode te ganhar de novo e você sabe que não posso arriscar à essa altura do campeonato.
Nerea me encarou. A magia corria pelo ar. Eu estava sendo persuasiva.
— Tá. Eu juro que não vou te trair.
— Não quero palavras. Quero fazer um feitiço em você.
A expressão de Nerea endureceu.
— Por que quer fazer um feitiço em mim?
— Você confia em mim? — dessa vez era eu quem perguntava.
Novamente trocamos olhares. Eu sentia sua hesitação.
— Se vamos ser uma equipe, preciso de aliados verdadeiros.
Intensifiquei minha persuasão. Não podia me dar o luxo de perder alguém, principalmente agora que tinha perdido um dos meus maiores poderes.
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A Guardiã do Gelo - Livro 1
Fantasy[Trilogia Os Guardiões - Livro 1] "Estar no último ano do ensino médio pode ser tanto uma benção como uma porcaria. Pensa só: talvez você nunca mais vai poder ver seus amigos de sala e ainda vai ser obrigado a enfrentar o mundo adulto sozinho. Bem...