Capítulo 6 - Nunca confie numa cobra

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Os dias se seguiam e não tínhamos nenhuma notícia de Utae. Ele realmente tinha desaparecido e não fazíamos ideia pra onde sequer ele tinha ido. A única pessoa que podia nos guiar era Imma, mas ele insistia em esperar a nevasca passar pra poder irmos. O problema é que a nevasca nunca passava — ela começara poucas horas depois de Malek ter curado Kameel.

Era manhã e eu estava sentada na porta de entrada, observando a luz do sol clarear a floresta, embora as nuvens da nevasca absorvessem a maior parte da luz para si.

— A essa hora ele já deve estar morto — me vi dizendo assim que ouço alguns passos atrás de mim.

— Devia ser mais otimista — era a voz de Kameel.

Ele se sentou do meu lado e passou a observar o céu nublado e a neve caindo, sendo levada pelo vento e enfeitando as árvores.

— Fala isso só porque teve sua perna curada — digo com um meio-sorriso.

— Aquilo foi um milagre! Como não ser otimista depois de ter renascido?

Acabei soltando uma risadinha.

— Tem razão, mas... — Suspirei. — Qualquer que seja a coisa que tenha pegado ele, não acho que foi com intenção de devolver.

Kameel não me respondeu. Parecia mais pensativo do que eu.

— Por isso acho que quanto mais ficarmos enrolando — digo —, mais aumenta a possibilidade dele estar morto.

— Pensei que odiasse ele.

Arqueei uma sobrancelha e o encarei, numa pergunta silenciosa.

— Imma me contou.

Depois os homens falam que as mulheres é que são fofoqueiras, pensei.

— Estou começando a achar que só odeio Malek mesmo.

— O quê? Logo o milagreiro? Tem algum problema, garota? — seu falso tom de espanto me fez rir.

— Fogo e gelo. Eles não costumam dar muito certo.

— Ah, então é filinha de Quione? Oras, se fosse assim não nos daríamos bem. Eu sou filho de Apolo, famoso deus do sol. Calor e frio também não combinam.

Dei de ombros com um pequeno sorriso.

— É porque Malek é mais insuportável que você. Não conseguiu perceber isso?

Ele riu e eu acabei concordando num aceno de cabeça.

— Vou conversar com Imma. Talvez você tenha razão. É achar Utae agora ou nunca.

Assenti assim que ele se levantou e fiquei por ali mesmo esperando.

Achar ele agora ou nunca, mentalmente, eu estava rezando pra que conseguíssemos pelo menos achá-lo. Vivo ou morto.

Após o almoço — que não foi nada mais do que os restos do jantar anterior que eram uma escassez de carne já que Imma se recusava ir caçar sozinho ou com o Malek —, nos reunimos na frente da cabana, decididos a ir atrás de Utae, onde quer que ele tivesse se metido.

— Imma pega a frente, Malek a dianteira. Eu e Kary ficamos no meio, tudo bem? — liderou Kameel.

Nós três confirmamos com a cabeça e começamos nossa jornada em busca de Utae.

Estava nevando muito naquela tarde — ou seria noite? Estava tão escuro por causa das nuvens e das árvores que era meio difícil saber o horário aproximado —, dificultando nossa caminhada. A neve estava batendo no joelho, fazendo nossos passos ficarem lentos e pesados.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora