Capítulo 30 - Meu contrato de morte

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Eu não aguentava mais correr. Minhas pernas doíam e tanto meu pulmão quanto meu coração pareciam que iam explodir de tanto que eu respirava. Sinceramente, eu preferia quando Utae era meu líder porque ele pelo menos não me obrigava a correr milhões de quilômetros — e ele também era como um irmão pra mim.

Quando parávamos pra descansar, Tanay gritava no nosso ouvido, querendo que corrêssemos cada vez mais. Até as meninas que possivelmente conviviam a mais tempo com ele do que eu, pareciam já estarem cansadas de tantas ordens e corridas.

Felizmente perto de um lago — não aquele que víamos da entrada da cabana, esse daqui parece estar muito além da visão que tínhamos antes —, Melina gritou com Tanay e ele aceitou que dormíssemos ali naquela noite. E sim, já havia escurecido. Nunca tinha corrido tanto na minha vida.

Sentei na grama, sentindo meu corpo se desmontando aos poucos. Logo eu estava deitada, encarando o céu e tentando recuperar meu fôlego que eu havia perdido há horas. O incrível era que Tanay nem sequer parou. Depois do meu pequeno descanso, eu me sentei novamente e lá estava ele tentando fazer fogo com gravetos e pedras.

— Se você acender uma fogueira, juro que vou derreter — falei, me sentindo exausta e com algo incomum: calor.

Ele pareceu ignorar meu comentário porque continuou concentrado nos seus gravetos e pedras.

— Não adianta discutir — Melina se sentou do meu lado. — Quando Tanay quer alguma coisa, ninguém pode impedir ele.

— Deve ser por isso que somos irmãos.

Melina pareceu achar graça.

— Você foi louca de ter tentado ficar. Ele me contou — informou ela quando eu fiz uma cara tipo "como você sabe?".

— É que... na minha antiga equipe eu sempre era a idiota que nunca conseguia fazer nada pra ajudar, entende? Parece que tudo o que eu tenho é isso. — Apontei pra minha testa, querendo indicar meu cérebro.

— Ah, então você gosta de "dar uma de heroína" assim como Tanay? — Juro que percebi ela querendo rir.

— Talvez seja. — Dei de ombros. — Mas não adiantou muito eu ter ficado. Eu não sei lutar, então sempre me torno inútil.

— Por que não disse antes? Posso te ensinar algumas coisinhas, pelo menos a defesa básica. Um membro de nossa equipe nunca pode ser alguém indefeso.

Abri um pequeno sorriso.

— Valeu, Melina.

Ela também sorriu e eu passei a observar as outras duas garotas que pareciam conversar, sentadas perto do lago. A loira analisava as unhas enquanto falava e a de coque encarava o lago — acho que até estava um pouco alheia á conversa.

— Como elas se chamam? — perguntei depois de um tempo.

— Oh, céus, que bobagem a minha. Nem cheguei a apresentá-las, não é? — Melina balançou a cabeça como se estivesse decepcionada consigo mesma. — A de coque é Henrietta, filha de Ártemis. A loira, ou cachinhos dourados, como gosta de ser chamada, é a Daniela, filha de Afrodite.

— Elas mandam muito bem no arco e flecha — elogiei.

— São natas por causa da mãe divina — explicou Melina.

Não demorou muito até o fogo de Tanay finalmente dar certo. Ele se afastou do fogo — é, bem, chega até ser estranho um filho de Quione criando fogo — e se sentou comigo e Melina.

— Definitivamente, você é a garota mais burra que eu já conheci na vida — disse ele ao se sentar.

— Não acredito que eu achei que você sentaria aqui pra dizer algo útil. — Balancei a cabeça, fingindo decepção.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora