Capítulo 22 - Aquilo que chamamos de vingança

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A cada dia que passava, as coisas ficavam mais tranquilas na cabana. Benigna e Malek pareciam ter começado a namorar o que era bom já que por causa disso, ele parou de implicar comigo. Benigna esqueceu da minha existência, mas não deixou de lado as responsabilidades de vice-líder. Sempre estava conversando seriamente com Utae — provavelmente os dois estavam planejando algum plano de ataque ou como venceriam o jogo.

Se era isso, eles estavam com grande razão porque precisávamos de uma plano de ação. Havia dias que estávamos naquela cabana, como se tivéssemos presos. Precisávamos agir porque tínhamos que ganhar aquele jogo.

Como meu tempo com Benigna se reduziu a nulo, eu passei a ficar mais com Kameel e minhas caçadas com ele, Imma e Rian ficaram bastante frequentes — e sim, eu vivia ouvindo as reclamações de Rian dizendo que Malek havia abandonado ele por causa de uma garota.

De qualquer forma, as coisas acabaram virando rotina na cabana o que era bom. A única coisa que não chegou a mudar foi eu que ainda não tinha ganhado uma arma oficial. Só nas caçadas que me era permitido conseguir uma adaga — e como Utae agora só vivia com Benigna, os dias de treinamento foram instintos. Pra conseguir treinar, o jeito era aprendendo nas caçadas mesmo.

Naquele momento, eu e Kameel estávamos sentados juntos num tronco caído da floresta para observar o pôr-do-sol — coisa que também virara rotina desde então. Ele abraçava meu ombro enquanto eu deitava no seu e juntos admirávamos a maravilha que acontecia todas as tardes.

— Kary...

— Sim?

— Posso te fazer uma pergunta?

Eis a pergunta mais idiota que o ser humano sempre adora fazer. E por mais que as vezes acabe ganhando algumas patadas com a pergunta besta, o ser humano continua a fazê-la numa forma previsível de adiar a principal pergunta que ele fica hesitante em dizer.

— Pode dizer — pedi, acabando por ficar curiosa.

— Você me ama?

Juro que se tivesse bebendo alguma coisa num copo, cuspiria tudo por causa da surpresa da pergunta. Oh, céus, chegou aquele momento em que ou você responde um "sim" e deixa a pessoa feliz ou um "não" e diz adeus ao seu relacionamento também.

Naquela hora, passou milhões de respostas na minha cabeça. Eu queria dizer que sim, juro que queria, mas tinha medo do que podia acontecer depois. Quero dizer, Kameel é meu primeiro namorado — virtual e da vida real também — e eu não sei como lidar com esse tipo de coisa ainda. Não sabia que momentos como esses eram desesperadores como os filmes mostravam.

— Eu...

Vamos, Kary, pense em alguma coisa, eu realmente estava desesperada e sabia que aquela minha hesitação só iria piorar as coisas.

— Olha, você é um cara legal, Kameel, e meu primeiro namorado também. Isso quer dizer que eu nunca disse aquelas três palavrinhas pra alguém... — Mordi o lábio, desviando o olhar do dele.

Kameel suspirou. Maldito suspiro, eu sabia exatamente o que aquilo significava. Só esperava que todos os filmes românticos que já assisti na vida, estejam errados.

— Não fica assim! Sério, eu gosto muito de você e a cada dia tem se tornado mais e mais especial pra mim. É só que eu...

— Tudo bem, Kary — ele disse por fim e aquilo me fez corar pela vergonha.

Decidi me calar pra não acabar piorando as coisas entre nós. Nisso, o sol foi se pondo devagar, iluminando toda floresta com uma linda luz alaranjada. Embora estivéssemos juntos, o pôr-do-sol não foi a mesma coisa que nas outras tardes. Dessa vez foi bem mais desconfortável e silencioso. Tudo o que ouvíamos era o som dos animais da floresta, engrandecendo o sol com seus sons exóticos.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora