Capítulo 26 - É crime dar um soco na bochecha de uma deusa?

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Aquela frase fez eu e Imma simplesmente ficarmos parados, olhando aquela cena. Nisso, não demorou muito até nós dois sermos descobertos.

— O que fazem aqui? — rosnou Utae. — Está tarde. Deveriam estar dormindo.

— Acontece que não somos bebês — respondi malcriada.

— Eles estavam preocupados com você, Utae. Acharam que eu tinha te sequestrado.

Arqueei uma sobrancelha e meu primeiro pensamento foi: ah, ótimo, agora vão me dizer que ela também consegue ler mentes?, pensei e quase revirei os olhos.

— Por que diabos ela ia me sequestrar? — Utae estava exasperado.

Toda aquela falta de paciência dele me tirou do sério.

— Porque a princesinha aqui chegou toda bonitinha de sorriso meigo dando em cima de você e como se não bastasse, enfeitiçou todos da cabana também. Não sei se você sente, mas ela emana tanto poder quanto um Elemental, mas não possui colar nenhum, o que me levou a crer que ela só poderia ser uma ameaça já que no corpo dela não tem nenhuma indicação de que ela é filha de Zeus. O que mais me deixa brava nessa história é que ainda sou mal recebida por um idiota que só está bravinho porque atrapalhei uma conversa idiota que estava tendo com sua irmã. Então, dá próxima vez que for se arriscar, trate de não me matar do coração porque a retardada aqui já conseguiu te tirar de uma prisão com um leão gigante de guarda. Agora será que dá pra ser um pouco mais agradecido ou eu vou ser obrigada a aguentar suas reclamações infantis só por causa de uma conversa boba? — quando terminei de falar tudo aquilo, estava sem fôlego.

Acho que tanto Utae quanto Imma nunca tinham me visto tão brava. Cravei minha cimitarra em meio a neve e cruzei os braços, sentindo o rosto ferver por causa de todo aquele discurso. Jogar tudo pra fora não tinha me deixado com menos raiva.

— Kary, desculpe pelo mal-entendido — Alexia parecia realmente sentida. — Não sou ameaça pra nenhum de vocês. Pelo contrário, estou aqui pra ajudar. — O sorriso doce voltou aos seus lábios.

— Você disse que é uma deusa, certo? — Imma retomou o assunto anterior enquanto abraçava meu ombro.

Era por esse motivo que ele tinha se tornado meu melhor amigo. Alexia confirmou com a cabeça.

— E por que está aqui? — Utae perguntou, mas eu percebi que ficou incomodado com todas as verdades que eu tinha jogado na sua cara.

— Para ajudar vocês, como eu já disse. — Um suspiro. — Ainda me pergunto porque você não consegue entender algo tão simples, Utae.

— Não existe nenhuma deusa Alexia na mitologia grega — argumentei.

— É porque eu fui deixada de lado — Alexia não pareceu feliz ao dizer aquilo. — Os estudiosos foram quase instintos e aqueles que ainda existem, sabem quem eu sou. Faço parte da Quarta Geração Divina. Nunca ouviram falar dela?

Nós três negamos com a cabeça.

— Só existiu até a terceira que é a geração atual de Zeus, Hera, Poseidon, Deméter... — digo. — E mesmo se existisse outra geração divina, não faria diferença. Todas são iguais.

— Você pode ser muito inteligente, filha de Quione, mas não. Não são iguais. A primeira se resumia apenas aos deuses primordiais. Eles foram os criadores do universo em que vivemos. São os meus bisavós. — Ela abriu um sorriso tímido. — Depois vieram os Titãs, onde surgiu Cronos, meu avô. Por fim veio a terceira geração. A mais moderna até então, onde surgiram meus pais. Em cada geração se era controlado algo diferente. As duas primeiras os deuses surgiam para coisas "materiais" já que não existiam seres humanos. Quando chegou a terceira, os seres humanos vieram junto e com eles, os deuses passaram a ter mais flexibilidade, porque, você sabe, começaram a surgir os semideuses.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora