Capítulo 36 - Sou uma loba albina!

4.4K 493 144
                                    

Eu ainda não conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer: Melina me deu uma facada. Não daquelas no sentido figurado. Ela realmente me deu uma facada e com intenção de me matar.

Nossos olhares se cruzaram. Seu rosto agora não estava mais sombrio. Na verdade agora eu via medo em seus olhos. Quando ela puxa a adaga da minha barriga, solto outro gemido antes de cair de joelhos no chão. A adaga cai ensanguentada ao meu lado enquanto Melina dá alguns passos pra trás, horrorizada.

Escondo o ferimento com os braços, soltando outro gemido pela dor. Logo estou sentada, com os olhos marejados. A visão estava embaçada e ainda haviam pontos pretos. O vento começou a fazer meus cabelos chicotearem minhas bochechas e a grudar no meu rosto molhado de lágrimas. A temperatura ambiente estava diminuindo e a intensidade do vento aumentando.

— Melina! — era a voz de Tanay.

— Se afasta de mim — a voz dela estava embargada.

— Melina, volta aqui!

O vento ficava mais forte. Tanto que eu começava a me deixar ser levada por ele. No segundo seguinte eu já estava caída no chão. O sangue empapando meus braços...

— Não, Tanay! Eu sou um monstro! — gritou ela, agora parecendo distante.

— Melina! — a voz dele ecoou através do vento.

Será que foi essa a sensação que Kameel sentiu ao morrer?, pensei. Estava de olhos fechados agora. A leveza... O vento fazendo com que se sinta leve... E aquela doce, doce sensação de que acabamos por encontrar o melhor lugar pra descansar.

Juro que pensei que estava morta. Bem, eu devo estar. Então, pela primeira vez posso dizer qual é a sensação de morrer. Não é tão ruim assim, nem assustador. Até me sinto bem. Quero dizer, tirando a dor de cabeça que to sentindo agora. Peraí, quando se morre será que ainda se sente dor?, questionei mentalmente.

Meus olhos foram se abrindo devagar, tentando se acostumar com a claridade do local. Céu? Estou no céu? Fui uma boa menina?

— Céus, que bom que acordou — ouvi uma vozinha masculina, parecendo distante, mas perto ao mesmo tempo.

— Papai do céu, é você? — minha voz saiu rouca.

— Do que diabos você tá falando, Kary?

Tudo bem, definitivamente não estou no céu, pensei, finalmente raciocinando.

Com tudo aquilo acontecendo de uma vez, simplesmente decido me levantar, querendo saber onde tinha vindo parar. Só que com isso, minha cabeça atingiu algo duro.

E minha visão novamente escureceu.

— Tá bom, quem foi o idiota que colocou ela no beliche? — era uma voz feminina conhecida.

— Eu não sabia que ela era sonsa o suficiente pra bater a cabeça na cama de cima! — exclamou em defesa outra voz, dessa vez masculina.

Eu bati a cabeça num beliche celestial? Será que isso me faz uma sonsa celestial?, questionei confusa enquanto ouvia a discussão. Alguém soltou um suspiro e disse:

— Só espero que ela acorde logo. Não fui feita pra ser babá.

Que legal, tem um anjo cuidando de mim, mas que não gosta de mim, pensei distraidamente ao ir abrindo os olhos devagar. Agora minha cabeça doía um pouco mais. Quando meus olhos estavam completamente abertos, descobri que aquele lugar não se tratava de céu nenhum. Era só a cabana que tínhamos construído e quem me assistia naquele momento era Tanay e Henrietta.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora