Capítulo 7 - O resgate e o estranho

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Depois de uns três dias, eu não me aguentava de tanta fome que sentia — não que a gente não recebia comida, nem nada. É só que a gente recebia comida pra sobreviver, o que não era um hábito tão comum assim pra mim.

Eu e Imma tentávamos planejar alguma coisa, mas sempre ficávamos receosos por achar que alguém pudesse ouvir nossos planos.

Naquele dia, estávamos sentados no chão de pedra, frente a frente, com as pernas cruzadas. Falávamos baixinho, atentos a qualquer coisa suspeita ao nosso redor.

— Quando Equidna vier trazer a comida — falei. — É o único momento que temos para fugir.

Imma assentiu, concordando.

— Ela vai colocar os dois pratos juntos — digo —, o que vai me dar tempo o suficiente para correr até a outra cela. E você vai me dar cobertura.

Ultimamente, vendo Equidna indo e vindo com a comida, descobrimos que ela sempre abre as duas celas paralelas pra colocar a comida — o momento perfeito para escapar.

Já Utae só estava cansado aquele dia — ele estava cochilando — em que chegamos. Trocávamos algumas palavras de vez em quando — só parávamos quando o leão gigante rugia pra gente tão alto que por alguns minutos eu jurava que ficava surda (sério, um leão gigante rugir dentro de uma caverna é algo que você nunca vai querer ouvir) —, mas Utae estava ciente de que logo sairíamos dali.

Equidna veio na primeira refeição do dia, trazendo como de costume nosso café da manhã. Ela abriu as celas paralelas e colocou os dois pratos em ambas as celas ao mesmo tempo e foi naquele momento que eu me levantei e corri o mais rápido que consegui, parando na outra cela e puxando Utae do chão.

Ele levantou num sobressalto e juntos corremos pelos corredores de pedra enquanto Imma fazia algumas coisinhas pra distrair Equidna que estava muito brava por sinal.

Utae deu um chute nas grades pesadas de Malek e Kameel, conseguindo abrir — eis a sorte de ter um filho de Zeus do nosso lado —, então puxo Imma pelo braço pra que ele não fizesse nenhuma besteira.

O rastejo da Mãe dos Monstros era muito lento, então ela gritou naquela língua estranha pro seu bichinho de estimação: o Leão de Nemeia. O bicho veio derrubando tudo o que havia na sua frente, correndo atrás da gente feito louco.

Corríamos ao máximo, mas uma hora ou outra iríamos cansar e esse era o meu maior medo. Um deslize e viraríamos comida daquele leão gigante. Malek começou a expelir uma fumaça que começou a ficar densa depois de um tempo e foi em direção ao monstro que nos perseguia, fazendo-o hesitar e se confundir pelo caminho.

Quando vi estávamos mais perdidos do que nunca. Paramos numa espécie de laboratório de pedra com vários experimentos e poções.

— Procurem... alguma coisa... — pedi ofegante, parando por um tempo.

Alguns conseguiram assentir antes de sair procurando pelas etiquetas de poções. A maioria delas era igual a que Equidna tinha no bolso: de uma coloração verde que provavelmente servia pra ela... diminuir!

— Bebam as poções verdes! — me vi dizendo e pegando um frasco.

— Tem certeza de que isso é seguro? — Imma questionou.

Eu assenti e engoli em seco antes de virar o frasco dentro da boca. O gosto era amargo. Tanto que fiz uma careta e ameacei pôr tudo pra fora, mas respirei fundo e mantive a poção dentro do estômago. Minha cabeça girou e minha visão ficou turva. Quase desmaiei e pressionei os olhos com força ao sentir uma dor de cabeça. Segundos depois eu estava pequenininha.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora