Capítulo 33 - O dia que eu conheci minha mãe

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Fechei os olhos, esperando que os gritos agoniantes de Tanay sumissem. E bem, eles sumiram, se transformando apenas num suspiro ofegante. Fui abrindo os olhos devagar, comprimindo os lábios. Mesmo que ele fosse a pior pessoa do mundo, não queria que ele morresse. Pelo menos não agora. Eu queria derrotar ele no treino ainda.

Então à minha frente ele permanecia na mesma posição — com as mãos na nuca, ajoelhado no chão. Olhei pro tal Quant que ainda estava aterrorizado com o que estava acontecendo. Lhe lancei um olhar duro pra que ele nem ousasse se mexer e me ajoelhe hesitantemente ao lado de Tanay. Seus cabelos, antes brancos, estavam todos chamuscados nas pontas, possivelmente sensíveis ao toque — eu não ia passar a mão no cabelo dele pra descobrir, né?

Quando meus joelhos atingiram ao chão, as mãos de Tanay envolveram meus pescoço. Mal tive tempo de gritar ao sentir que o ar começava a faltar. Oh, céus, ele ia me enforcar.

— SUA ESTÚPIDA! — seu berro me atingiu mais fundo do que eu gostaria.

Suas mãos ainda envolviam meu pescoço e estava começando a doer. Sabe, eu nunca tinha experimentado a sensação de morrer enforcada. Sério, é horrível porque é uma morte lenta que você sente dor até morrer por completo.

Então finalmente encarei os olhos que antes eram azuis como os meus. Agora estavam vermelhos como fogo, me lembrando até quando Malek ficava com raiva de mim. Só que segundos depois, o cenário ficou negro e depois mudou — até mesmo a sensação de Tanay estar me enforcando desapareceu da minha frente. Logo o céu era vermelho como sangue e as nuvens eram cor-de-rosa. O chão terroso e áspero feria meus joelhos.

Eu estava de volta à quarta dimensão.

O coração pulava no peito, sem saber o que estava acontecendo. Olhei pro lado e logo vi Tanay ajoelhado da mesma maneira e uma mulher estava bem à sua frente. Ela usava um vestido branco com detalhes belíssimos em azul, como se fossem cristais. Seus cabelos eram tão brancos quanto os de Tanay — que agora estavam uma mistura de branco na raiz e preto nas pontas. Quando a mulher virou o rosto na minha direção, tinha uma pele pálida, mas lábios vermelhos que davam tanto destaque no seu rosto quanto seus olhos azuis.

— Qual é o seu problema? — ela questionou pra mim e não parecia feliz.

As palavras não queriam sair da minha boca e isso acabou fazendo ela caminhar em minha direção, numa expressão fria como gelo.

— Quer matar seu irmão?

Engoli em seco. Só de olhá-la me dava arrepios.

— N-Não... foi m-minha intenção — respondi de mau jeito.

A expressão da mulher continuou impenetrável. Ela cruzou os braços, pouco satisfeita com minha resposta.

— Como sua mãe, eu ordeno que resolva essa situação — sua voz saiu autoritária.

Arregalei os olhos ao entender finalmente quem era aquela mulher. Era Quione, deusa da neve, do frio e dos ventos. Meu coração voltou a martelar no peito. Eu mal acreditava que uma tocha podia ter invocado minha mãe.

— C-Como e-eu...?

Ela apontou pra Tanay ajoelhado.

— A tatuagem. Congele a tatuagem.

Assenti e quando me levantei, percebi o quanto minhas pernas estavam bambas. Caminhei desajeitadamente até ele, me ajoelhando ao seu lado como quando antes de sermos trazidos pra cá. Retirei suas mãos da sua nuca, que caíram flácidas ao lado do corpo imóvel ajoelhado. Sua tatuagem pulsava numa cor vibrante laranja e ao redor dela estava tudo vermelho.

A Guardiã do Gelo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora