— O que diabos está acontecendo aqui? — Kameel não pareceu feliz em ver eu e Rian tão próximos (ainda mais com Rian sem a parte de cima do gibão).
Abri os olhos e o encarei. Ele estava encostado na porta dos fundos, olhando atentamente a cena.
— Amor, eu ia justamente procurar você...
— Pra quê? — Kameel não estava bravo. Apenas usava um tom magoado. —Terminar comigo pra ficar com ele?
— Não... — Suspirei e apontei pro ferimento no abdômen de Rian. — É por causa disso que eu estava indo agora atrás de você.
Kameel arregalou os olhos ao ver o ferimento e se aproximou, a fim de querer ver de perto.
— Céus, por que não avisou antes sobre isso?
— Não dói. E não tem cura. — Rian negou com a cabeça e começou a pegar seu gibão do chão.
Eu, como uma boa pessoa, suguei pra mim todo o gelo que havia nos seus trajes.
— Pode não ter cura, mas tem como pelo menos fechar. Não é bom ficar com isso aí aberto. Atrai monstros.
Rian pareceu ignorar enquanto colocava o gibão nos ombros, pronto para se cobrir novamente.
— Vamos entrar e eu dou um jeito nisso — anunciou Kameel, meneando a cabeça pra dentro da cabana.
— Que diferença vai fazer? Esse lugar já é cheio de monstros. Atrair mais alguns não vai fazer diferença alguma.
Coloquei uma mão no ombro de Rian e falei sombriamente:
— Vai por mim. Essa cabana atrai mais monstros do que todos que você já viu em toda sua vida.
❄
Depois de muuuuuuuuuita insistência, eu e Kameel conseguimos convencer Rian a ser tratado. Kameel foi obrigado a usar alguns de seus poderes porque não se podia curar algo sobrenatural com algo que não fosse sobrenatural.
Agora eu me encontrava do lado de fora da cabana, encostada numa parede da mesma e observava Benigna cortar madeira de uma das árvores. Já havia amanhecido, mas o céu continuava nublado e derramando neve vez ou outra.
Depois de um bom tempo cortando, pegando e levando madeira pra cabana, Benigna simplesmente veio até mim e se encostou do meu lado, segurando o machado apoiado no chão enquanto eu passava a observar pequenos flocos de neve começando a cair bem na frente do meu nariz.
— Cansou? — questionei.
— Claro que não. — Ela estava suada. — Só estou dando uma pausa, não posso?
Eu sorri.
— À vontade.
Não foi ironia. Eu e ela éramos amigas, na verdade. Talvez não as "BFFs", mas amigas normais que chegariam a dividir um pedaço de carne se precisassem.
Então vi mais ao longe Malek andando sem rumo pela floresta e estranhei. Se tinha uma coisa que aquele garoto mais odiava era a neve — até porque, ele era fogo! — entretanto, lá estava ele, parecendo avaliar cada árvore por onde passava.
— Ele é uma gracinha, não acha? — comentou Benigna de repente, provavelmente olhando pro mesmo retardado que eu.
— Hein? — Aquilo me pegou de surpresa. — Não me diga que está falando do Malek...
— O cabelinho de fogo? Ele mesmo.
Acabei tossindo — e juro, não sei se foi uma tosse de verdade ou forçada, só sei que detonou minha garganta por alguns segundos.
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A Guardiã do Gelo - Livro 1
Fantasy[Trilogia Os Guardiões - Livro 1] "Estar no último ano do ensino médio pode ser tanto uma benção como uma porcaria. Pensa só: talvez você nunca mais vai poder ver seus amigos de sala e ainda vai ser obrigado a enfrentar o mundo adulto sozinho. Bem...