Capítulo 4 - A patrulha

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Dia 18 da chegada ao planeta, 09:00 hs horário do planeta UH-9536

Raul dirigia um dos pequenos veículos terrestres, era o terceiro do comboio formado por cinco veículos modelo PK 26, cada um com quatro soldados. No banco ao seu lado estava seu amigo Pablo. Eles percorriam o terreno desviando das pequenas rochas e desníveis mais acentuados do terreno. No banco de trás estavam os soldados Lucas e Nina.

Carlos, o chefe da patrulha, estava no segundo veículo do comboio. Ele sempre consultava as imagens feitas pelos satélites em seu terminal portátil, o qual levava em seu colo. Ele achava que aqueles veículos eram uma verdadeira porcaria, nem ao mesmo tinham um computador de navegação integrado.

Já estavam viajando há dez dias. O acampamento havia enviado 20 patrulhas, cada uma em uma direção, assim iriam realizar uma inspeção na maior parte do continente aonde estavam.

Eles não tinham recursos para patrulhar os oceanos, os dois outros continentes menores e as demais ilhas que compunham o restante da superfície do planeta.

Os soldados estavam tensos nas últimas horas, a notícia vinda por uma mensagem enviada pelo acampamento central, dizendo que os satélites de vigilância haviam detectado naves inimigas se aproximando do planeta era apavorante.

Os sistemas de camuflagem das naves Stall dificultavam o seu monitoramento. Os satélites, as vezes, conseguiam perceber falhas nas coberturas holográficas, e outros sinais, como alterações de campo magnético ou leituras de temperatura que as naves não conseguiram simular com perfeição.

Nas telas de monitoramento da NCO e do acampamento os sinais apareciam uma vez em uma posição, depois desapareciam, e quando voltavam a aparecer, vários minutos depois, estavam em posições diferentes do espaço. Quando havia várias naves inimigas era muito difícil saber seu número exato, uma vez que só se via pontos surgindo e sumindo.

Por causa dessas falhas na camuflagem, as naves não corriam o risco de se mover longas distâncias em linha reta, principalmente em território com possível presença inimiga. Elas realizavam um verdadeiro zigue-zague pelo espaço, não podiam permitir que sua trajetória fosse calculada com precisão.

A NCO iria se afastar um pouco do planeta, pelas leituras de satélites havia três ou mais naves Stall, era muita desvantagem para tentar um combate agora. Haviam lançado uma sonda com o pedido de socorro, era tudo podiam fazer no momento.

Foi decretado o silêncio no rádio, agora só iriam enviar mensagens em caso de emergência.

A NCO tinha um sistema de camuflagem mais eficiente, afinal toda a nave havia sido projetada para maximizar a furtividade, sua forma, um longo tubo relativamente fino diminuía as falhas do sistema. Isso era diferente das naves Stall, onde a camuflagem foi adaptada depois, elas eram quase triangulares, com a pequena ponte de comando na frente, e o casco ia se encorpando até a parte de trás onde ficavam os motores de empuxo e as torretas dos canhões magnéticos.

Até onde os soldados sabiam, as naves Stall já podiam até já ter dropado tropas no planeta. O acampamento já havia reforçado procedimentos de camuflagem, coisas simples, como jogar mais areia sobre o teto das barracas, verificar se os equipamentos estavam bem escondidos entre as rochas.

Se o acampamento fosse detectado ele estaria vulnerável a ataques de naves em órbita. Os grandes canhões magnéticos das naves Stall disparavam projéteis de metal acelerando-os a velocidades gigantescas, eles representavam uma ameaça mortal.

Os soldados não tinham como se defender contra aquelas armas, apenas se esconder e rezar para não serem encontrados, ou construir abrigos subterrâneos profundos, o que não era viável naquele momento.

Se eles tivessem sorte, os Stall não haviam descoberto que eles estavam no planeta. Os satélites de vigilância eram muito pequenos e furtivos, dificilmente detectados, pois só possuíam sistemas de monitoramento passivos. O acampamento, a esta altura, já estava camuflado e com os sistemas em modo blackout, não emitindo nenhuma transmissão.

O próprio comboio deles iria prosseguir apenas por mais alguns minutos, estavam indo para um vale profundo, onde poderiam se esconder dos sensores das naves Stall que estavam em órbita. Com sorte o vento logo iria desfazer os rastros deixados pelos seus veículos. O planeta era grande e os sensores dos satélites em órbita não podem cobrir todo o terreno de uma vez só, se tivessem sorte não havia nenhum deles sobre aquela área naquele momento. Porém se houvesse um, e uma arma magnética no alcance eles estavam ferrados, precisavam sair logo do terreno aberto em que estavam.

O estranho da situação, Raul pensava, era que os Stall também podiam ter chegado antes deles no planeta, visto as naves humanas chegarem e se escondido. E ele continuava pensando, que podiam se deparar com eles a qualquer hora.

Talvez as naves Stall em órbita fossem para entregas de suprimentos, e com poucas armas, ou elas estivessem trazendo os primeiros colonos Stall, ou estivessem atendendo um pedido de socorro das forças Stall que estavam no planeta. Ou talvez não, era tudo incerto.

Mais cinco minutos e eles alcançariam seu objetivo, os detalhes das duas montanhas ficavam mais claros. Raul contemplava a paisagem a sua frente, quando algo brilhou na entrada do vale. Poucos segundos depois uma grande rajada de plasma atingiu o primeiro veículo do comboio, o qual explodiu e capotou diversas vezes.

Os demais veículos passaram a fazer ziguezagues para não serem alvos fáceis. O caos se instalou, por alguns segundos, cada motorista foi para um lado. Raul pensava que provavelmente era um veículo de guerra dos Stall, apelidado pelos soldados humanos de "vagão", porque era parecido com um antigo vagão de trem terrestre, e quase do mesmo tamanho, cumprido e não muito largo, com quase nenhuma blindagem e com um grande canhão de plasma montado em uma torreta quadrada.

Os Stall eram assim, menos defesas e mais poder de fogo, essa era a filosofia militar deles, o sistema de camuflagem deles era uma cópia dos sistemas terrestres, eles preferiam desenvolver armas.

Os quatro veículos se separavam cada vez mais enquanto faziam manobras para evitar a arma Stall, que disparou novamente, desta vez não conseguindo atingir nenhum veículo. Depois de mais alguns segundo a voz de Carlos, o líder do comboio que estava no segundo veículo, conseguiu se sobrepor as vozes dos outros que gritavam pelos intercomunicadores de curta distância:

- Calem a boca, vamos para o norte, para a base da montanha da direita, temos que sair do ângulo de tiro desse canhão, continuem ziguezagueando.

Bel que estava no quinto veículo disse:

- Melhor voltamos por onde viemos, se afastando deles.

- Não, o campo é muito aberto, eles já devem ter acionado as naves em órbita, se não tivermos onde nos esconder eles vão nos fritar, já demos muita sorte, se tivesse uma nave em uma órbita sobre nós ela já teria atirado. – Carlos respondeu.

- E o pessoal do primeiro carro? – perguntou Bel enquanto mais tiro do canhão atingiu o solo, felizmente apenas poeira e algumas pedras atingiram um dos veículos, sem provocar maiores danos, a não ser um arranhão no braço de um dos soldados.

- Você não viu, morreu todo mundo, acorda, e também, se pararmos agora a gente morre, para a montanha, vamos. – respondeu Carlos.

O canhão conseguiu dar mais um tiro antes dos veículos dos soldados conseguirem sair do ângulo de tiro dele. Os veículos se aproximavam uns dos outros enquanto entravam na sombra da montanha. Por sorte apareceu no horizonte um afloramento rochoso que daria alguma proteção.




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