Capítulo 63 - Histórias e Cicatrizes

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Alguns dias haviam se passado, e os soldados da patrulha de Carlos estavam entrando na rotina do acampamento central. Não havia muito o que fazer enquanto o Quatro Braços e "a caixa" não concluíam o plano de ação.

Ele achou a idéia de ir lá na região dominada pelos Rivas, e roubar alguns teletransportadores de uma ousadia sem tamanho, e não via como isso poderia ser feito. Mas se alguém podia achar um jeito fazer aquilo era aquela inteligência artificial.

Ele pessoalmente não tinha tanto medo daquela máquina, achava que tinham muito a ganhar com o auxílio dela, e que isso valia os possíveis riscos.

Carlos resolveu ir tomar um banho, o dia estava meio quente, e ele já estava cheirando um pouco mal. Ele estava debaixo do chuveiro quando Sarah entrou no vestiário. Eles sorriram um para o outro. Ela tirou a roupa e entrou no chuveiro ao lado.

Ela tinha um corpo lindo, a pele dela era perfeita e a água descendo por ela tornava a visão ainda mais cativante. Sarah observou a cicatriz grande que Carlos possuía na perna direita e perguntou apontando para a mesma:

- É de uma batalha chefe?

Carlos adorou a oportunidade de contar a história da cicatriz para Sarah, ele tentou disfarçar seu entusiasmo e começou a falar:

- Sim, há alguns anos, quando eu ainda era um recruta, estava em uma missão no planeta de mineração PG4561. Aquelas minas eram verdadeiros labirintos subterrâneos. Túneis e gigantescas cavernas naturais interligadas. Então os Stall chegaram, as batalhas em órbita duraram dias.

Então eles conseguiram levar vantagem por um tempo, foi o suficiente para desembarcar tropas no planeta, muitas tropas.

Nós nos escondemos nas minas, havia muitos lugares escondidos, câmaras secretas. A atmosfera era mais ou menos respirável, tinha um pouco de oxigênio, porém não o bastante, éramos obrigados que usar máscaras e cilindros de oxigênio, mas felizmente a gente não tinha usar trajes espaciais completos.

Todo o subterrâneo estava sempre no escuro, a gente usava equipamento de visão noturna o tempo todo.

Os Stall queriam aquelas minas, elas eram ricas em minérios raros. Eles não iriam explodir tudo, teriam que vir atrás de nós. Até pensamos em explodir a porra toda, e nos sacrificar para evitar que o inimigo tivesse acesso aos recursos minerais.

Mas acabamos vendo que o jogo em órbita poderia virar e resolvemos resistir.

E os Stall entraram nas minas, estavam vasculhando tudo de forma sistemática. Escolhemos uma série de túneis particularmente caótica para iniciarmos a resistência. Nós conhecíamos os túneis e eles não.

Emboscamos um grupo grande de Stalls pegando eles no fogo cruzado, os que sobreviveram correram em pânico pelos túneis, foi uma bagunça. Então fomos nós que tivemos que começar a caçar aqueles Stalls desgarrados, eles não podiam ficar por lá, se mais stalls viessem eles poderiam nos atacar pela retaguarda.

Nós usamos os transmissores de rádio para gerar interferência e impedir que eles se comunicassem.

Eu estava verificando um túnel com outros três soldados, e o mesmo se tornou um descida íngreme. Um dos soldados até disse para a gente voltar e pegar umas cordas, porém o idiota aqui disse que dava para descer.

Aí, claro que eu tinha que pisar em umas pedras soltas, e escorregar por centenas de metros me ralando todo. Só fui parar ao lado de uma pedra grande quando o túnel voltou a ficar plano.

Durante a queda eu devo ter passado por umas pedras pontudas que cortaram minha perna e deixaram essa cicatriz.

Meu rifle havia ficado muitos metros para trás. E o pior meu cilindro de oxigênio também tinha ficado pelo caminho, eu não estava conseguindo respirar direito.

O túnel tinha um reentrância, e eu estava lá, caído, bem ao lado dela. Você sabe o que tinha na porra da reentrância? Sim, um maldito Stall.

Ele saiu para fora, e ficou em pé ao meu lado. Então ia apontar o rifle de plasma dele para o meu peito. Porém eu consegui chutar ele bem no joelho e ele caiu ao meu lado. O rifle dele caiu sobre a minha perna, ele já ia pegâ-lo, porém eu consegui chutar a arma dele para longe.Eu peguei a pistola na minha bota, porém ele conseguiu segurar a minha mão.

Ficamos os dois por uns instantes lutando para ver quem ficava com a pistola, ele era mais forte do que eu imaginava, então eu lembrei que a trava lateral ainda estava acionada. E soltei a arma. Ele ficou sem saber o que fazer por um instante, e depois apontou a arma para mim e apertou o gatilho. Ela não disparou, estava travada ainda.

Nesse meio tempo eu tinha pego a faca na lateral da minha jaqueta e a enfiei na garganta dele. O sangue dele esguichou e me sujou todo. Eu tinha matado aquele filho da mãe.

Felizmente meus colegas chegaram e me deram oxigênio, eu estava quase desmaiando, eles disseram que eu estava ficando roxo. Nossas naves felizmente conseguiram virar o jogo em órbita e recebemos ajuda. E foi isso.

Carlos terminou de contar a história e Sarah disse:

- Bela história chefe.

Ela olhava para ele sorrindo, porém seu olhar deixava transparecer que ela achou a narração meio exagerada. Mas dava para perceber que ela também a achou divertida.

Uma outra soldado que era responsável pelas instalações sanitárias entrou no banheiro e disse:

- Pessoal, olha o consumo de água, a gente construiu um sistema de encanamentos que traz água de um riacho próximo, mas precisamos economizar, para ela dar para o acampamento todo.

Carlos então disse:

- Desculpa ai, não vai acontecer denovo.

Depois que a soldado saiu eles riram um para o outro. Sarah disse enquanto se secava:

Agora eu vou treinar tiro com John e o pessoal dele, e você?

- Carlos sorriu e disse, mais uma reunião, é tudo que faço ultimamente.

PLANETA UH 9536Onde histórias criam vida. Descubra agora