Capítulo 37 - Diplomacia

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Dia 52 do calendário do Planeta UH 9536, 13:35 hs

Dez VICDs corriam pelo pé da montanha, andavam espalhados para não chamar a atenção de um possível satélite inimigo, iam desviando das rochas. No grupo estava Carlos, que não conseguiu deixar de ir naquela missão, apesar do conselho de Marcos o qual achava que ele, como líder do acampamento, deveria ter ficado.

Também estavam no grupo Nina, Raul, Pablo e Paulo. Eles eram a equipe que tentava se comunicar com o cinza claro capturado, foram apelidados recentemente de grupo diplomático. Estavam trabalhando dia e noite para conseguir estabelecer uma forma de comunicação efetiva com aquela criatura, mas ainda não conseguiam traduzir conceitos abstratos como paz, acordo, confiança, etc.

Quando souberam da notícia de outro tipo de alienígena se aproximando, aparentemente em paz, logo se ofereceram para vir no grupo.

Por garantia Carlos havia trazido cinco dos soldados especializados em ações táticas, os melhores em combate a curta distância, eram apelidados de "lobos carniceiros", o chefe da equipe era Ralh, um cara que dava a impressão de estar sempre pronto para matar alguém.

Carlos não sabia bem como ia começar a abordagem da dupla, orientou que não deviam chegar apontando armas, afinal no platô havia snipers, se fosse necessário o alien seria eliminado.

Por orientação de Ralh fizeram um desvio, para se aproximar por uma direção que deixasse a linha de tiro dos snipers livre. Ele e seus homens lutavam com qualquer tipo de arma, até mesmo facas e outras armas brancas, e até com as mãos limpas, pois eram especialistas em várias artes marciais.

Ele havia dito para Carlos, antes de saírem, que, se algo desse errado, eles iriam atacar o alien, mas que não fariam nada precipitado, que eles entendiam a importância da missão.

Estavam perto e Carlos e o grupo diplomático se reuniram. Os lobos iriam seguir um pouco atrás. Em instantes iriam ver a dupla e eles veriam o grupo.

Então eles apareceram, e Carlos fez um sinal para diminuírem a velocidade. Ele conseguiu ver que o alienígena os observava por binóculos. Conforme se aproximaram a imagem dele era a cada vez mais impressionante,

Carlos imaginou como aquele cara devia ser forte. Havia uma bandagem no braço que ele havia sido ferido, Carlos se perguntou se Juliana havia feito o curativo.

Carlos rezava para ele não pegar aquela arma em seu ombro, e pensava "por favor, não estrague tudo". Conforme combinado anteriormente foram reduzindo a velocidade gradativamente e a cerca de 40 metros da dupla pararam. Lucas gritou:

- Juliana!, você está bem?

- Estou bem, alguns ferimentos, mas vou ficar bem, não atirem, ele aparentemente é amigo, não façam nenhuma bobagem agora - ela respondeu.

Carlos não conseguiu deixar de pensar no termo que ela usou, "aparentemente", mas afinal, por enquanto era o suficiente e disse:

- Você consegue se comunicar com ele? podemos nos aproximar?

- Só alguns gestos, ele não fala nada e não tem expressão facial, espere um pouco, vou tentar alguma coisa - respondeu Juliana.

Juliana apontou para o grupo, em seguida apontou para ela mesmo, e balançou a cabeça afirmativamente. O quatro braços também balançou a cabeça e Juliana gritou para o grupo:

- Acho que sim, mas venham devagar.

Carlos e os outros desmontaram das VICDs e lentamente caminharam para encontrar a dupla. Eles não conseguiam tirar os olhos da criatura, a qual também os observava. Finalmente estava a quatro metros da dupla e Nina e Pablo foram abraçar Juliana.

Carlos percebeu que a manifestação de carinho deles para com Juliana chamou a atenção da criatura, ele pensou que aquele encontro também devia ser tão curioso para o alienígena quanto era para eles.

- Lembrei que encontraram uma caverna próxima ao desfiladeiro, acho melhor tentar levar ele para lá, até pensarmos no próximo passo - disse Carlos.

Caminharam até as VICDs, e Juliana subiu na "garupa" de Nina. Saíram rumo a caverna sendo guiados por Carlos. Iam em baixa velocidade e o alienígena os seguia a pé.

O medo daquela criatura se voltar contra eles ainda era real para Carlos, porém a cada segundo a esperança de conseguir um acordo com aquela outra espécie misteriosa crescia em sua mente. Ele resolveu que não iria tentar desarmar a criatura, se fossem arriscar tanto, então era bom demonstrar confiança para o alienígena.

---x---

Rescla achava estranho os inimigos terem saído daquele jeito, interrompendo bruscamente a sessão de trabalho com ele. Ele tentou imaginar o que poderia estar acontecendo. Será que estava acontecendo mais uma batalha? ele se perguntava. Ele pensou nos do seu povo sendo dizimados.

Ele também se questionava se deveria ter, dias atrás, deixado o estado de letargia e ter começado a colaborar com o inimigo. Ele não sabia se o que disseram para ele antes da primeira invasão era verdade. Os seus superiores haviam contado que, se um hava fosse capturado, não devia colaborar, não devia comer nem beber, e que se desejasse a morte ela viria em poucos dias, que era essa a natureza da espécie, e que, isso era honroso.

Mas ele se sentia traído pela elite de seu povo. Ele achava que os "Sábios Eternos" não tinham nenhuma consideração pelas classes dos guerreiros e dos trabalhadores. Ele decidiu não morrer por eles.

Ele também pensava que não havia revelado nenhum segredo que prejudicasse sua raça, que não havia traído seus irmãos guerreiros. Os inimigos queriam tentar se comunicar, e quem sabe não pudessem fazer um acordo.

Mas, às vezes, o instinto falava mais alto, e Rescla sentia vontade matar todos os inimigos que "trabalhavam" com ele, afinal, eles pareciam tão frágeis, tão desprezíveis. Mas ele lembrava que quem estava prisioneiro, quem havia sido capturado de forma humilhante era ele, que o desprezível era ele.

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