Capítulo 32 - Pedaços de Carne

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Dia 51 da chegada ao planeta, 15:00 hs horário do planeta UH-9536

Juliana caminhava mancando e gemendo de dor. Ela só tinha que contornar uma montanha e estaria quase no desfiladeiro onde a patrulha e os reforços estavam.

Ela andava por uma faixa estreita de terra plana, de seu lado esquerdo a montanha subia de forma íngreme. E do lado direito havia um penhasco de dezenas de metros que caia quase que verticalmente. Ela não gostou do local, por centenas de metros não havia onde se esconder.

Depois de fazer uma curva no caminho ela segurou fortemente seu rifle de plasma, ao ver que havia uma grande rocha mais a frente, a cerca 300 metros de distância, sendo que a mesma estava em nível um pouco mais elevado do que o caminho em que Júlia estava.

Ela pensou que era ali que ela ficaria se fosse emboscar alguém naquele caminho. E para seu desespero quatro havas saíram de trás da pedra, dois de cada lado.

O instinto assumiu e, ao mesmo tempo em que se ajoelhava para ter mais apoio, ela apontava o rifle para os inimigos. Ela atirou duas vezes, com uma fração de segundo de intervalo, os dois havas do lado direito da pedra foram atingidos, fazendo que a metade da grande rocha ficasse tingida de vermelho e salpicada de pedaços de carne. Porém os dois outros havas tiveram tempo de disparar quatro tiros cada um e, antes que Juliana pudesse atirar neles ela foi atingida por um disparo no peito. Os outros tiros dos hava atingiram o chão.

Juliana, com o impacto do tiro, caiu para trás e para a direita, por sorte ela não caiu no penhasco, porém ela não conseguiu segurar seu rifle, o qual estava na mão direita.

Seu capacete com sistema de amortecimento protegeu sua cabeça, caso contrário ela poderia até sofrer uma fratura craniana ao bater contra uma pedra.

O tiro atingiu uma das placas de proteção balística da jaqueta de Juliana. Elas protegiam o peito, abdômen e a maior parte das costas dos soldados. Aquelas proteções eram inúteis contra um tiro de plasma, ou de uma arma de um calibre muito grande, serviam mais para proteger de estilhaços de explosões e outros tipos de ameaças, porém seguraram o projétil da arma hava, salvaram a vida dela, ela apenas iria ficar com um grande hematoma no peito e sentiria muita dor por dias.

Ela havia ficado totalmente desorientada, e quando conseguiu se recuperar um pouco, percebeu que os dois inimigos haviam saído de perto da rocha e estavam vindo em sua direção. Ela achou que eles pensavam que ela estava liquidada, caso contrário teriam atirado outras vezes. Ela constatou que seu rifle havia caído no penhasco. Ela se preparou para levar a mão direita até sua bota esquerda.

Seu último recurso, a pistola semi automática. A arma não era de plasma, era a boa e velha tecnologia das armas de fogo, era basicamente a mesma arma usada séculos atrás em guerras da humanidade contra ela mesma.

 A arma não era de plasma, era a boa e velha tecnologia das armas de fogo, era basicamente a mesma arma usada séculos atrás em guerras da humanidade contra ela mesma

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Era apenas uma arma reserva, eles carregavam ela presa em uma das botas e na outra levavam dois pentes de munição extra.

Ela esperou, era melhor deixar eles se aproximarem mais, a pistola não tinha muita precisão, era uma arma curta, os inimigos seguravam rifles. Iria ser difícil. Ela pensou que provavelmente não iria conseguir, mas disse para si mesma, "pelo menos vou levar mais um deles comigo".

Ela pensou "mais cinco metros, vamos". E ela fez uma contagem regressiva para puxar a pistola "cinco, quatro, três, dois...

Antes dela chegar ao "um" ela ouve um disparo, e vê que se abriu um buraco na cabeça do hava que vinha na frente, e ele caiu no chão. O outro inimigo levantou a arma procurando o atirador, porém levou outro tiro certeiro, também na cabeça, e também caiu.

Juliana ficou sem reação por alguns segundos e então ouviu passos vindos do caminho por onde ela havia passado. Ela tentou não se mexer, porém foi impossível não tremer.

O atirador devia estar com ela na mira. Ela tinha que esperar ele se aproximar para tentar usar a pistola. Porém ela conseguiu limpar a mente do medo e do desespero para tentar pensar com mais clareza, e viu que, "o atirador havia salvado sua vida".

Ela achou melhor não se mexer por enquanto e uma sombra cobriu sua cabeça, o atirador estava em pé atrás dela, e ela conseguiu ver uma enorme crista rajada na cabeça dele.

O alienígena de crista rajada olhou para ela e seguiu para onde os havas estavam. Ele segurava um rifle com os braços superiores e havia uma outra arma mais curta pendurada em seu ombro por uma alça. Ela não parava de pensar na pistola, o medo dizia para ela sacar a arma e atirar na cabeça daquele ser estranho, porém podia não dar certo e depois ele não havia tomado nenhuma atitude hostil contra ela.

O alienígena ficou de costas para Juliana enquanto pegava itens dos inimigos. Ele jogou um dos rifles deles no penhasco e colocou o outro no ombro pela alça. Ele se virou e olhou demoradamente para Juliana, como que fazendo uma avaliação. Então ele gesticulou para ela, com um das mãos aberta subindo e descendo. Juliana interpretou que ele devia estar querendo dizer para ela levantar.

Juliana conseguiu se sentar, porém sentiu dores terríveis no peito e não conseguiu ficar de pé sozinha. O alienígena estendeu uma das mãos dos braços inferiores, tentando não parecer ameaçador. Juliana hesitou, porém acabou por achar melhor não recusar, aparentemente era uma oferta de ajuda, e ela estendeu uma das mãos.

O toque das mãos foi muito estranho para Juliana, parecia uma situação tão improvável, mas lá estava ela, apertando a mão de um alienígena. A mão dele era tão dura, lembrava uma ferramenta coberta com borracha antiderrapante. Ele a puxou com a força necessária para ela se levantar, apesar do tamanho ele parecia ter controle total de seu corpo.

Ela estava de pé, e agora, apesar de tudo sua mente sempre voltava para a pistola em sua bota. O alienígena olhou para ela, era tão desconfortável ser avaliada daquela forma, mas aparentemente para ele também a situação devia ser totalmente inusitada.

O ser a sua frente pegou o rifle de quatro canos que estava em seu ombro e estendeu o mesmo para ela.

Por mais improvável que parecesse ele estava oferecendo a arma para ela. Durante alguns segundos nada aconteceu, e então Juliana colocou as mãos na arma e ele soltou. Ele se afastou pegou o outro rifle e com o dedo apontou para um botão lateral do mesmo.

Juliana entendeu que aquilo devia ser o gatilho, mas como dizer que havia entendido? Ela balançou a cabeça afirmativamente, achando que ele, de alguma forma, acabaria entendo que aquilo era um sim. Para surpresa dela ele também balançou a cabeça.

Finalmente ela conseguiu parar de pensar em pegar a pistola. Agora estava ela lá segurando uma arma estranha. Se sentindo desconcertada pela situação toda.

O alienígena começou a andar em direção a rocha de onde o inimigo tinha saído. Ele gesticulou para ela o seguir. Ela começou a andar lentamente, estava com dores muito fortes no peito, na cabeça, na perna, no antebraço, etc. O alienígena obviamente estava esperando por ela, e agora? Ela pensou, deveria levar ele para o acampamento?

Ele parou próximo a rocha, pegou mais alguns itens dos inimigos mortos ali. Para horror de Juliana, usou uma ferramenta afiada para cortar diversos pedaços dos corpos dos inimigos mortos, ou melhor do que havia sobrado deles. Ele guardou alguns dos retalhos da carne dos guerreiros em uma mochila e comeu o restante. Ela fez muito esforço para não vomitar.

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