Capítulo 23 - Emboscada

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Dia 41 da chegada ao planeta, 11:00 hs horário do planeta UH-9536

Rescla havia sido escolhido para assumir a liderança do pequeno grupo que realizava o reconhecimento avançado. Ele e os outros três guerreiros mapeavam as montanhas. Haviam conseguido matar um pequeno animal parecido com o porquinho da Índia da terra, porém com seis patas e todo listrado. O bicho havia sido uma ótima refeição matutina.

Ele caminhava à frente, seus subordinados iam atrás com intervalos de 10 a 20 metros uns dos outros. Ele ouviu sons pedras rolando e se virou para a direção de onde vinha o ruído. Ele viu o soldado inimigo se levantar da reentrância onde estava escondido.

O inimigo estava com vegetação presa em seu capacete como camuflagem e segurava uma arma apontada para ele. O soldado não atirou e Rescla apontou o rifle de quatro canos para ele enquanto gritava:

-Emboscada!

O soldado inimigo se abaixou atrás das rochas da reentrância da montanha, uma fração de segundo antes de Rescla pressionar a tecla do gatilho. O disparo atingiu a rocha e ricocheteou para cima.

Rescla ouviu o som agudo das armas inimigas, e, quando se virou para trás viu seus três companheiros caídos com sangue e vísceras espalhados em volta deles. Ele sentiu um impacto em suas costas e uma violenta corrente elétrica atingiu seu corpo.

Apesar do violento choque que levou ele não caiu. Se virou cambaleando e viu que outro soldado inimigo estava atrás dele. Ele tentou levantar a arma porém foi atingido por um dardo no peito e outra onda de choque percorreu seu corpo.

Rescla caiu de joelhos e não conseguiu segurar o rifle, o qual caiu ruidosamente nas pedras. Ele viu o soldado que atirou nele se aproximar, ouviu o som de outros passos ao seu redor, e percebeu que eles o queriam vivo, por um momento ele invejou seus companheiros mortos, preferia ter levado um tiro mortal dos inimigos do que ficar prisioneiro. Ele viu o soldado a sua frente apontar uma arma curta e de cano quadrado para ele. Rescla ao prever o terceiro tiro de dardo elétrico, pensou que devia ter simulado um desmaio logo que levou o segundo choque. A sensação produzida pela arma elétrica do inimigo era parecida com a de quebrar vários ossos de uma vez só. Ele sabia qual era a sensação, em outras missões já havia caído de prédios, sido atacado por animais de grande porte, pisado em minas terrestres, entres outras experiências desagradáveis.

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Carlos e outros 3 soldados estavam sentados nas reentrâncias, cobertos por lonas que imitavam a cor e textura das rochas. Estavam lá há dias esperando um grupo de inimigos passar para embosca-los. Em uma outra reentrância a 80 metros de distância estavam outros 4 soldados de tocaia.

Durante os dias de vigília, escondido naquela fenda nas rochas, Carlos repassava em sua mente tudo que havia ocorrido nos últimos dias. Lembrou da mensagem do acampamento central, enviada através de VACs, eles haviam determinado com a ajuda dos satélites algumas rotas mais ou menos seguras, para que alguns soldados viessem até a posição deles para dar apoio. Eles iriam usar os VICDs (Veículos Individuais para Curtas Distâncias), que eram pequenas motocicletas elétricas de apenas uma roda. Seria uma viagem desconfortável, eram mais de mil quilômetros, e aqueles veículos foram pensados para distâncias curtas. E os soldados não poderiam viajar juntos, usariam diversos caminhos diferentes, viriam espalhados para não chamarem a atenção do inimigo. Ia ser difícil, mas era necessário reforçar a presença militar naquela região. Iriam usar todas as 70 VICDs que tinham no acampamento.

Carlos foi tirado de seus pensamentos por um cutucão de um dos soldados. Ele mostrou no pequeno monitor em seu pulso a imagens de uma câmera de vigilância escondida entre as pedras. Na imagens 4 soldados caminhavam mantendo uma distância de alguns metros entre eles.

- Vamos lá pessoal, quando eu der o sinal atacamos. Vocês matam os três últimos e eu pego o que vem na frente com a arma de choque, todos prontos? - disse Lucas.

Todos os sete soldados confirmaram que estavam prontos para ação.

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Naquela tarde Carlos levava seus homens de volta ao pequeno acampamento. Quatro soldados carregavam o prisioneiro inconsciente, o qual foi amarrado com cabos de aço normalmente usados para guinchar veículos avariados. Eles encontraram com Nina na entrada do acampamento e um dos soldados comentou com ela:

-Você acredita que foram necessários três disparos da arma de choque para derrubar essa criatura. Apenas um disparo coloca um homem para dormir por várias horas. Esses caras são como touros, se bem que eu nunca vi um touro de verdade, mas você entendeu, não é?

Nina assentiu, ela também nunca tinha visto um touro, mas isso não importava. Ver aquele inimigo de perto era perturbador, ele mesmo inconsciente exalava uma selvageria, a qual não entrava na cabeça dela. Ela pensou que aquela criatura poderia até comer seres humanos se tivesse a oportunidade.

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