Capítulo 25 - Longo Caminho

427 135 18
                                    

Dia 46 da chegada ao planeta, 09:30 hs horário do planeta UH-9536

Juliana caminhava apressadamente, aquele trecho era de terreno aberto, logo mais encontraria uma cadeia de montanhas onde poderia prosseguir com mais tranquilidade.

Ela havia saído do acampamento central há alguns dias. Ela havia completado 3 quartos do caminho quando a sua VICD quebrou.

Ela tentou por algumas horas consertar o pequeno veículo, porém constatou que o gerador de energia havia entrado em colapso e não tinha conserto.

Aquela missão era uma loucura, aqueles veículos não iam aguentar tanto esforço.

Ela não quis arriscar quebrar o silêncio do rádio. Não havia como saber se o inimigo não estava naquela região. Ela era a última que iria por aquela rota, mais ninguém iria passar por ali.

Ela podia ficar em um lugar abrigado e esperar. Quando dessem pela sua falta talvez viessem procurá-la. Mas ficou com medo de que a guerra esquentasse e eles esquecessem dela. A ideia de ficar ali e ver a comida acabando era uma merda.

Ela acabou por resolver terminar o caminho a pé, e estava andando por volta de 65 quilômetros por dia. Ela pensou que felizmente aquela patrulha não tinha ido tão longe, o trajeto que eles haviam seguido não era em linha reta e quando fizeram contato com o inimigo, ou melhor, com os inimigos, estavam a pouco menos de 1100 quilômetros de distância do acampamento central.

Apesar dela estar levando o mínimo de rações e munição a mochila pesava em suas costas e os seus pés doíam.

Mais alguns dias e chegaria ao pequeno acampamento do pessoal da patrulha. Ela não via a hora de poder dormir e descansar, isso se não houvesse combates antes.

Ela estava sem saber o que ocorria no resto do planeta. Nem mesmo o que havia ocorrido com os outros soldados que estavam naquela missão insólita. Ela pensou que talvez ela chegasse lá e descobrisse que tudo estava perdido, todos mortos.

Quando a exaustão a dominava ela chegava até a duvidar se toda a sua vida anterior não havia sido um sonho.

Os dias de caminhada só eram suportáveis por ela ouvir sua coleção de músicas antigas, usava fones sem fio, e tinha milhares de hora de áudio na memória de sua central de multimídia individual, a qual ficava presa em seu pulso.

Enquanto ouvia as canções sua mente viajava pelo passado. Ela se lembrava dos dias que passou na estação espacial em Mark XXIII, com sua amiga Sila.

Sentia saudades das vezes em que fugiam dos afazeres, e iam para algum tubo de carga vazio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Sentia saudades das vezes em que fugiam dos afazeres, e iam para algum tubo de carga vazio. Se lembrava da experiência de fazer amor com outra mulher em microgravidade. Como ela sentia falta disso.

Ela não era apaixonada por Sila, mas tinham um relacionamento muito bom. Ela havia sido a sua primeira mulher, com ou sem gravidade. Elas estavam na Mark XXIII fazendo um estágio para gerente de logística de estação espacial.

Juliana descia uma colina, e o terreno estava cheio de pedras muito pequenas. Quando ela pisou em um trecho em que o declive era mais acentuado seu pé deslizou nas pedras que rolaram e ela caiu forçando seu tornozelo.

A dor foi muito grande, porém ela sentiu que não havia rompido nenhum ligamento. Agora ela andava mancando e se lamentando por sua sorte. Ele parou para descansar e pegou um analgésico em seu kit de primeiros socorros.

Ela pensou que Sila estava certa em optar pela carreira de gerenciamento de estação espacial, era um título bonito para a pessoa que, na maior parte do tempo, consertava robôs de carga e descarga, e fazia a manutenção de sistemas.

Mas era um cargo bom, boa comida, bom ar, e principalmente, nada de andar e andar em um planeta em guerra, como ela estava fazendo agora. Porém às vezes acidentes também aconteciam em estações espaciais, comportas se abriam na hora errada, e alguém havia ido para o vácuo do espaço sem traje espacial.

Um dia elas estavam conversando enquanto olhavam por uma pequena janela de um dos módulos. Tinham conseguido algumas pílulas desviadas da enfermaria e estavam chapadas. Elas olhavam enquanto uma nave da carga manobrava. Sila às vezes falava coisas que a faziam rir, daquela vez ela havia dito:

- A gente podia desviar algumas cargas interessantes, bebidas, comidas de alta qualidade, enfim, coisas que vão para a elite. Depois é só fazer o contêiner ser "acidentalmente" danificado por um robô durante a transferência entre a estação e nave cargueira, e dizer que a carga foi "perdida" no espaço. Não vão ter como verificar se a carga estava toda lá, vai virar uma bagunça.

- Sua louca, a gente ia pra prisão, comer baratas e respirar ar podre, é claro que eles iam investigar. - havia respondido Juliana enquanto ria alto.

Juliana sentiu muita saudade, e se lembrou que Sila queria que ela também seguisse aquela profissão, porém ela não queria passar tanto tempo em locais de microgravidade.

Ela havia visto pessoas com deformações nos ossos, atrofia de músculos, com os olhos saltados, gente que nunca mais poderia pisar em um planeta.

Então preferiu ir para as forças armadas e levar a maravilhosa vida de andar e andar por um planeta cheio de alienígenas assassinos, ela tinha "orgulho" dela mesmo.

PLANETA UH 9536Onde histórias criam vida. Descubra agora