Capítulo 47 - Abrigos

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Priste estava há dias vagando pelas montanhas. Não havia conseguido achar sua arma depois da queda da nave de desembarque. Seu comunicador havia sido danificado e ele estava sem ter como fazer contato com seus companheiros.

Após a queda ele não podia ficar próximo dos destroços aguardando a equipe de resgate, uma vez que ele havia visto humanos descendo a montanha. Ele se afastou e se escondeu em uma reentrância da montanha.

Ele viu a grande onda de teletransportes ocorrer no céu, e como não houve paraquedas ele percebeu que algo novo estava acontecendo. Ele achava que era por isso que a equipe de resgate nunca veio.

Então ele passou a andar em direção ao acampamento. No caminho ele encontrou corpos de inimigos cinza claros, alguns deles feitos em pedaços. Ele achou uma das armas do inimigo em bom estado. Ele já havia examinado algumas delas anteriormente, sabia como funcionavam, e apesar dele achar aquela coisa ridícula e obsoleta a levou consigo, afinal ele não podia ficar totalmente desprotegido.

Ele havia ficado muito decepcionado quando chegou próximo do perímetro de segurança Stall, e constatou que ele havia sido abandonado. Ele se sentia muito vulnerável por não saber o que estava ocorrendo, era como se mundo continuasse a girar e ele ficasse esquecido e alienado da realidade.

A única coisa que havia conseguido comer naqueles dias foi um pequeno animal bípede, que ele matou atirando com a estranha arma de quatro canos. O gosto não era tão ruim como ele imaginava, e por enquanto iria aplacar a sua fome.

Ele se lembrava dos grandes banquetes que sua família fazia para homenagear o deus Tulo. Nesses eventos eram servidos os filhotes de animais conhecidos como Tlaus, que eram comidos ainda vivos. Se lembrou de como eram deliciosos, eles tinham o tamanho de um dedo. Ele se lembrou do sabor da gordura amarela das pequenas criaturas, a qual se espalhava pela sua boca quando ele os mordia. E o som dos gritos deles em agonia, enquanto morriam ao serem mastigados, era muito divertido.

Ele havia encontrado uma caverna e estava escondido lá, porém a fome novamente o assolou e ele saiu para procurar comida. Encontrou mais corpos de inimigos cinza claros, e desta vez, encontrou rações em suas mochilas. Elas tinham o gosto ruim, porém serviam para matar a fome.

Ele estava voltando para a caverna quando ouviu um ruído estranho, parecendo o de motores e turbinas.

Ele olhou para cima. Uma estranha aeronave saiu de trás de uma montanha. Ele se deitou tentando passar despercebido, porém ela já o havia visto e fez a volta.

Priste levantou-se e correu em direção às rochas, e começou a fazer ziguezagues para dificultar a mira do inimigo. Um feixe avermelhado passou a cerca de dois centímetros de seu ombro, e o outro passou um pouco mais longe, eles atingiram o solo penetrando o mesmo. O calor do feixe era tão alto que aqueceu o ar em volta e Priste sentiu que a manga de sua camisa havia ficado mais quente. Ele parou um instante quando a aeronave passou por cima de onde ele estava.

A aeronave estava virando para tentar outro ataque. Priste se preparou para correr novamente. Porém ele viu uma rajada de plasma subir do solo e atingir o atacante que explodiu. Felizmente o padrão do disparo era Stall e ele correu para a origem do mesmo, sempre olhando para o céu, afinal poderia haver mais aeronaves.

Ele ouviu o barulho de motores mais uma vez, porém desta vez mais fraco. Olhou para cima e não viu nada, e percebeu que o som ecoava pelas montanhas. Viu que havia uma valeta mais a frente pulou nela. Notou que o barulho aumentou, e depois diminuiu.

Ele percebeu que o som tinha mais de uma origem, deveria haver diversas aeronaves sobrevoando aquela área. Elas não o tinham visto, caso contrário já teriam atirado na valeta.

Aquela valeta parecia ter sido escavada por alguém, ele imaginou que deveriam ter sido os cinza claros, que a cavaram para se proteger dos bombardeios orbitais. E agora era ele que tinha que se esconder naquele buraco, a vida dá voltas, ele pensou consigo mesmo.

Apesar da situação desfavorável naquele momento ele sentia certa confiança. Ele pensava que, mesmo que tivesse que ficar muito tempo escondido, ele ainda sairia dessa, que os reforços iriam chegar e esses novos inimigos, sejam lá quem forem, seriam derrotados.

Ele procurava aumentar sua confiança, e dizia para si mesmo que aquela aeronave na verdade não seria um adversário difícil para os Stall, era muito lenta, não era muito manobrável, e sua mira não era lá essas coisas, se fosse uma nave Stall ele com certeza estaria morto. Porém teve que admitir para si mesmo que ela tinha armas poderosas, aquele feixe de partículas poderia perfurar a blindagem de um veículo de combate com facilidade.

Os minutos se passaram o barulho de motores foi diminuindo até que parou. Priste havia decidido esperar até anoitecer para sair, porém ele ouviu uma voz que pareceu dizer seu nome, ele esperou e voz disse novamente:

- Comandante Priste?

Ele reconheceu a voz como sendo Stall e saiu da valeta. Ele ficou feliz em ver que era um de seus soldados, o qual usava uma capa cor de terra, e com plantas nativas coladas nela, de maneira que se ele deitasse no chão e ficasse imóvel, provavelmente se confundiria com o ambiente. Aquelas capas também tinham isolamento térmico, para confundir os sensores de calor.

O soldado tirou outra capa camuflada de uma mochila e a entregou para Priste e disse:

- Vamos para nosso abrigo, ele é aqui perto.

Priste seguiu o soldado e eles andavam apressadamente em direção a uma formação rochosa. Conforme eles se aproximavam podia se perceber que entre duas rochas havia uma lona de barraca, e sobre ela havia terra e vegetação, aquele abrigo não seria percebido do alto.

No interior do abrigo eles podiam ver um soldado Stall, o qual os observa, porém ele passou a fazer gestos frenéticos com a mão para eles se abaixarem. Eles se jogaram no chão e ficaram totalmente imóveis sobre as capas. O ruído de motores surgiu, foi se aproximando, e depois se afastou.

Por cautela ficaram ainda mais alguns minutos deitados, e depois olharam para o abrigo, o soldado Stall que estava lá gesticulou para eles prosseguirem. Ao chegar o abrigo Priste sentiu que estava de novo no jogo.

Depois de alguns minutos Priste estava comendo rações Stall e ouvia relatórios sobre o que havia ocorrido em sua ausência. Os veículos de combate estavam todos escondidos, em locais diferentes, porém próximos um do outro.

Os soldados Stall haviam escavado grandes valas no chão. Os Veículos de combate entraram nelas, apenas parte das torretas ficavam de fora. Em cima deles foram colocadas grandes lonas camufladas. As duas naves de desembarque também foram escondidas de forma semelhante.

Além dos veículos os soldados Stall também estavam escondidos em abrigos como o que ele estava agora, e em um ponto de observação na montanha mais próxima.

Todos esses locais estavam ligados por um cabo de comunicação, o qual era fino o bastante para não ser percebido a distância. e o mesmo foi enterrado enterrado a um centímetro de profundidade no chão.

Quando o posto de observação viu Priste sendo atacado pela aeronave inimiga, eles resolveram correr o risco de tirar a camuflagem da torreta de um veículo, apenas o tempo suficiente para atirar contra a ameaça. Felizmente nenhuma outra aeronave viu o veículo de combate.

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