Capítulo 44 - Discurso Padrão

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Marcos e Carlos faziam os últimos preparativos para a saída do comboio. Oito VACs seriam os responsáveis pela defesa área deles durante a viagem.

Sobre a carroceria de quatro deles iriam os soldados com os lançadores de mísseis antiaéreos e os snipers. Nos outros quatro iriam as armas automatizadas, que foram retiradas de suas posições e instaladas, uma em cada VAC.

Foi de Pablo a ideia de usar também as armas automatizadas. Carlos achou que seria impossível fazer aquela adaptação em tampouco tempo. Porém Pablo realmente fez milagres, ele coordenou quatro equipes que trabalharam simultaneamente.

Foi um risco sair para buscar as armas, mas os soldados insistiram em realizar a missão. As equipes dos mísseis antiaéreos deram cobertura durante a remoção do armamento.

Não daria tempo de desmontar as armas e remontá-las nos veículos. Eles simplesmente serraram a base dos tripés onde as armas estavam instaladas, e carregaram o conjunto todo até os VACs, que foram levados o mais próximo possível. Ainda sim, foi muito difícil descer trechos da montanha carregando os conjuntos que pesavam quase 150 quilos.

Então soldaram as pernas dos tripés na carroceria dos VACs, foi preciso reconfigurar o sistema das armas, as quais estavam programadas para serem controladas pela central na barraca de comando. Agora cada arma era gerenciada por um pequeno terminal no VACs em que ela estava.

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Carlos quando soube que já tinham um software de tradução para conversar com o Quatro Braços, pediu para que fosse traduzido o "discurso padrão", e que o mesmo fosse apresentado ao alienígena.

Aquele documento havia sido escrito há cerca de 20 anos. Ainda se tinha esperança de que um dia os Stall resolvessem conversar. Então reuniu-se um time dos mais brilhantes negociadores e diplomatas disponíveis naquela época. Eles então redigiram o documento  conjuntamente.

Desde então os militares humanos sempre levavam o texto na memória de seu computadores táticos  em todas as missões.

O documento falava da possibilidade de paz entre as espécies e de colaboração para dividir os recursos do espaço. Era tão bem feito e os argumentos tão bem estruturados, porém colocados em termos tão simples que até uma criança humana o compreenderia. Carlos achava que aquele discurso poderia convencer até o próprio demônio a se comportar de forma civilizada.

O texto foi escrito para os Stall, mas Carlos o leu, e viu que também servia para qualquer outra espécie.

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O Crow de Crista Rajada estava cada vez mais admirado pela espécie com que ele havia se aliado. Eles eram realmente interessantes. O comportamento deles era muitas vezes ilógico, porém eles conseguiram se sair muito bem.

A inteligência individual deles não era tão grande assim. O crow achava que deveria haver alguns indivíduos com mais capacidade intelectual na sociedade deles, os quais não deveriam se arriscar em missões como aquela.

Ele havia se surpreendido quando foi apresentado a inteligência artificial que eles haviam desenvolvido. Os Crows já haviam pensado em desenvolver alguma coisa nessa área, porém temeram os riscos de uma possível rebelião dos seres cibernéticos.

Também havia um componente de vaidade envolvida em não querer desenvolver IAs. Os Crows se consideravam tão inteligentes, e alguns não suportariam a ideia de algo ser mais inteligente do que eles, mesmo que fossem eles que a construíssem.

Foram dias de trabalho ininterrupto, ainda bem que o crow não necessitava de muito descanso. Os seus aliados se revezavam no trabalho com ele, e quando a IA chegou o trabalho foi enormemente acelerado.

O software de tradução estava funcionando suficientemente bem, para eles trocaram as primeiras informações fundamentais para uma relação.

Os humanos disseram suas intenções, as quais eram muito interessantes, só faltava saber se cumpririam o que pregavam até o final, porém para o momento era satisfatório.

O crow resolveu falar a verdade para seus aliados, com exceção da parte que ele estaria aberto a uma proposta da outra raça que ele não conhecia, se essa fosse mais interessante.

Ele contou sobre os Hava, sobre como eles capturaram a espécie dele e toda a história das invasões. Ele também disse que provavelmente os Hava eram apenas marionetes trabalhando para uma espécie mais inteligentes, uma vez que eles eram uma raça criada por engenharia genética, não haviam se desenvolvido naturalmente. Falou que possivelmente a espécie que controla dos Havas provavelmente tinha outros recursos escondidos.

O crow foi informado sobre as naves pequenas e aeronaves que haviam surgido. Eles ainda não haviam revelado aquelas informações. Ele estava em uma barraca grande e ficou isolado do que acontecia, ele percebeu que ainda precisava avançar mais na conquista da confiança deles.

Também falaram sobre o guerreiro hava que haviam capturado. Ele pensou em falar que era melhor matá-lo, porém não o fez, pensou que podia ser mal interpretado.

Naquele momento ele estava com os humanos que atendiam pelos nomes de Nina e Paulo e perguntou:

- Vocês também tem outro inimigo, não tem?

Os humanos se entreolharam e Paulo ficou reticente, aparentando que iria querer pedir permissão para falar sobre isso. Porém Nina pareceu discordar e disse:

- Sim, os Stall, aquela nave que você viu ser derrubada por nós era deles.

Ela contou a história da guerra contra os Stall de forma resumida, e o Crow ouviu com muita atenção.

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