O Golpe de Sorte

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Ele nem tinha certeza de por que estava aqui novamente; fazia uma semana desde sua última visita, mas ainda era recente demais para ele. Não sabia quem ficou mais surpreso, ele ou Erwin, quando aceitou o convite do último no dia anterior.

Muralha Rose resistira a outro ataque com graça; seria preciso mais do que alguns nobres enfurecidos para derrubá-la, pelo visto. Quando chegou com Erwin, o lugar parecia exatamente o mesmo da última vez em que esteve lá. As garotas os cumprimentaram com sorrisos comerciais e os indicaram a seu lugar usual em frente ao palco, qualquer evidência da rebelião da semana anterior completamente ausente de seu comportamento.

— Não consigo acreditar em como se recuperaram rápido. — Levi devaneou para si mesmo ao avaliar o recinto com um olhar crítico. Claro que havia o fato de que, por mais determinados que os aristocratas estivessem em causar o maior dano possível para saciar sua sede de sangue, no fim das contas os mesmos homens eram os melhores clientes de Muralha Rose, então tinham que andar na linha da destruição com cuidado. Deus os livre de ter seu prostíbulo favorito fechado por conta de suas próprias ações. A atitude era repugnante.

Levi e Erwin chegaram um pouco mais tarde do que o normal, a apresentação principal já havia começado pela hora em que foram conduzidos a seus assentos. As moças começaram a fazer rebuliço perto de Erwin de imediato, mas respeitosamente deram a Levi seu espaço. Sabiam, a essa altura, que não deviam incomodá-lo e o deixaram apreciar sua bebida sozinho e calado enquanto assistia à dança sem prestar muita atenção. De novo, por que estava aqui mesmo? Tinha trabalho a fazer na base. Todos aqueles formulários para preencher, isso sem mencionar o porão que fora recentemente esvaziado de arquivos obsoletos e que precisava de uma limpeza minuciosa. Oh, certo, Hanji literalmente o arremessou para fora com firmes instruções de "parar de ser tão viciado em trabalho e se divertir pelo menos uma vez". Mas como é que iria se divertir se tudo o que conseguia pensar era no trabalho que poderia estar fazendo? Levi franziu o cenho e tomou um grande gole do líquido marrom e amargo. Ele queria ir para casa.

O palco era um show de saias rodando e ouro reluzindo. Francamente, era muita coisa ao mesmo tempo para se focar. Seus olhos repousaram em uma figura que se destacava das demais, com seu cabelo negro proeminente e saias escarlate brilhando entre os outros tons mais tediosos. Ah, lá estava a atração principal; centro do palco, como sempre. Qual era seu nome? Algo estrangeiro e incomum, será que começava com "M"? Levi gostava dela. Ele não a conhecia, não pessoalmente, já que mal interagia com as garotas a menos que precisasse perguntar sobre Erwin ou rejeitar uma oferta de comida ou bebida. Só pelo que ouviu de Erwin e observou durante os anos, ela parecia sensata e Levi apreciava isso. Erwin não tirou seus olhos dela desde sua primeira aparição; quieta, bonita e muito mais difícil de impressionar do que as outras. Ou provavelmente ela só não queria se rebaixar a fazer um papel para agradar os gananciosos e endinheirados patrões. Apesar de sua franqueza e conduta imperturbável, ela era ainda um sucesso entre os convidados; subira de posição rapidamente desde que chegara embora tenha entrado na indústria consideravelmente tarde comparado à maioria das outras mulheres, e isso tudo incluía a pausa de quase doze meses que tirou há cerca de um ano sem explicação. Levi somente lembrada disso porque começou não muito depois de Erwin ter finalmente dormido com a jovem e ele teve que aturar o mau humor do loiro por semanas depois daquilo. É claro que ela havia finalmente retornado, por sorte muito depois de Erwin ter seguido em frente, mas desde então ela misteriosamente têm se dedicado estritamente a se apresentar. Levi nunca perguntou por que e ninguém nunca lhe disse, afinal não era de sua conta.

Levi bloqueou os sons de riso manso e das tentativas de conversa fiada de Erwin ao seu lado e deixou seu olhar percorrer preguiçosamente entre os dançarinos. Seu olho distraído pousou em uma figura ziguezagueando habilmente pela multidão e em direção ao palco. Assistiu enquanto o moreno se lançou pelos degraus e parou nas sombras, observando atentamente a performance como se esperasse sua vez, até que se juntou a eles bem no momento em que a música se intensificou com o refrão. O mais velho riu quando percebeu que era apenas um dançarino que estava claramente atrasado. Ele não podia evitar de se sentir impressionado, porém; foi uma transição impecavelmente suave e estava disposto a apostar que ninguém na audiência notou a adição. O garoto - Levi podia ver melhor agora que ele estava na luz - se posicionou ao lado da Tawaif, balançando suas mãos no ritmo da música agitada e sorrindo largamente enquanto dançava com entusiasmo. Levi pôde apenas decifrar por pouco os olhares furtivos que a Tawaif lançava ao rapaz, os quais ele ignorou cuidadosamente e Levi não pôde evitar um sorriso bobo - até que a luz do palco iluminou o rosto do garoto no ângulo certo para fazer seus olhos brilharem.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora