O Convite

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A atmosfera era contagiante no chão junto com a multidão. Uma coisa era assistir da distância segura e remota dos telhados, mas aqui embaixo onde as massas se reuniam para dar empurrões e cotoveladas por ligeiras espiadas às exibições extravagantes da parada, ficava difícil para Levi se lembrar do porquê de ter descido aqui em primeiro lugar. Em geral, as pessoas davam uma olhada em seu uniforme e carranca assustadora e já davam seu melhor para abrir caminho enquanto ele se empurrava para a frente da aglomeração, mas sempre havia alguns que só sentiam outro corpo atropelando e instintivamente atropelavam de volta. Dessa forma, levou muito mais tempo do que Levi gostaria, mas mais ou menos o mesmo que havia imaginado, para que ele meticulosamente fizesse seu caminho através do grupo suado, pungente e comprimido até a linha de frente onde os soldados das Tropas e Polícia Militar estavam posicionados como para-choque entre o público e os artistas que se apresentavam. Chegando ao fim, Levi estava seriamente se perguntando por que mudara de ideia sobre deixar seu adorável lugarzinho no alto em primeiro lugar, ou pelo menos sobre não aceitar a oferta de Mike para ser jogado da beira do telhado.

Ele trocou algumas palavras com um ou outro soldado raso posicionado no chão, checando-os e sendo atualizado da situação. Caminhou paralelo à progressão da marcha, inspecionando tudo para verificar se as coisas estavam em ordem. Não demorou muito para que discernisse Eren dos outros, inclinando-se por cima das cabeças de outros dançarinos enquanto também procurava por ele. Foi óbvio quando ele foi reconhecido de volta: o rosto de Eren se iluminou como o horizonte no amanhecer e Levi teve que lutar contra o impulso de olhar para trás a fim de ver se havia outro candidato - um mais lógico - para a reação extática de Eren.

O ar estava cheio de flores de calêndula e serpentinas coloridas, jogadas de janelas no alto e das mãos de dançarinos à medida que passavam pela multidão animada. Com todas as cores vivas e corpos pulsantes, era difícil focar em alguém no meio do caos, mas de algum jeito Eren se manteve em seu campo de visão, chegando mais perto em um ritmo estável enquanto tecia habilmente pela coreografia de Muralha Rose vindo em sua direção. Levi não fez nenhum movimento para diminuir a lacuna entre eles, mantendo sua posição caminhando paralelamente à parada. Ele ainda não estava certo do motivo que o fizera descer aqui em primeiro lugar, mas sabia com certeza que não iria dançar.

— Levi! — Eren acenou entusiasmadamente, como se pudesse haver algum jeito de Levi não tê-lo enxergado ainda. O mais velho olhou ao redor constrangido, meio que esperando que pessoas fossem olhar para ele para examinar quem poderia possivelmente demandar um cumprimento desses, mas pelo visto todos estavam distraídos com o espetáculo.

Quando Eren se aproximou, ele estava sem fôlego e coberto de suor, embora, pelo modo como sua pele morena cintilava na luz do sol, ela também havia claramente sido coberta com uma fina camada de óleos brilhantes. Ele havia feito a maquiagem similar à da noite em que Levi levara Farlan para conhecê-lo; metade do rosto pintado com padrões dourados e delicados de videiras enroscadas e estilizadas, porém agora, presumivelmente pela ocasião distintamente especial, suas pálpebras também foram pintadas com tinta de um ciano brilhante que fazia seus olhos diferenciados se destacarem ainda mais surpreendentemente em sua pele escura. Combinava com a cor de suas dhoti, que ondulavam em volta de suas pernas para acentuar os movimentos e tilintava com os sinos em seus quadris e tornozelos. Ele parecia em cada centímetro o tipo de experiência cara e suntuosa que Muralha Rose oferecia. Levi se esforçou para consolidar o Eren à sua frente agora, vestido para fascinar e ser cobiçado, com o pirralho problemático e tagarela que trabalhava na base.

— Você veio! — exclamou Eren assim que chegou ao lado de Levi, de modo geral muito mais contente com isso do que Levi conseguia entender. — Eu não pensei que você viria; todas as pessoas e bagunça e tal.

Levi não sabia o que dizer - ele não achava que viria também, até que percebeu que já estava aqui - então só assentiu. Olhou atrás de Eren para o gigantesco carro alegórico de Muralha Rose e os dançarinos rodando nas bordas de suas camadas de flores. Olhou para Mikasa, só minimamente visível, o centro das atenções no meio e suas saias brancas de tirar o fôlego.

— Estou impressionado — disse Levi. Na verdade, isso mal cobria a extensão de sua admiração pela performance, mas pela forma como os olhos de Eren brilharam e como se inflou de orgulho, parecia que ele o havia enaltecido entusiasmadamente.

— Eu tenho mais uma coisa para te mostrar. — disse Eren, e agarrou seu pulso, virando-se para conduzi-lo direto para o centro da dança. Levi congelou no lugar, lutando contra a ideia de ser forçado a qualquer ambiente de dança (ainda mais um de escala tão pública e gigantesca), mas principalmente surpreso pela audácia de Eren. Ele olhou para os dedos fechados em volta de seu pulso, o marrom cor de noz da pele de Eren chocando-se contra sua palidez e deixando manchas de glitter dourado, e então voltou-se ao garoto a quem elas pertenciam. Eren estava olhando para ele, seu sorriso parado em questionamento. Seus olhos viajaram brevemente para onde suas mãos se juntavam e, como se só então de repente percebesse a impertinência da ação, apressadamente soltou, tropeçando com um pedido de desculpas. Levi ficou surpreso com a reação. Eren havia recuado e estava o observando com uma cautela como se estivesse esperando ser repreendido.

— Eu não vou dançar. — disse Levi em reação ao que havia iniciado a troca estranha. Ele disse isso firmemente, e moveu suas mãos para as costas caso Eren tentasse agarrá-lo de novo e arrastá-lo à força. Eren sorriu de novo, a tensão desaparecendo tão rápido quanto viera, e se aproximou.

— Não se preocupe, não é isso. — Ele tinha um sorrisinho atrevido brincando em seus lábios e seus olhos estavam brilhantes. Vamos lá, dizia a expressão, confie em mim.

Levi olhou hesitantemente para os dançarinos surgindo à sua volta como uma corrente feroz.

— Que não seja nada público. Eu nem deveria estar aqui embaixo.

Eren assentiu fervorosamente. Então, como se estivesse se aproximando de um animal assustadiço, ele estendeu a mão novamente.

— Não quero que se perca na multidão. — disse. — Essas garotas não hesitariam em te roubar de mim.

Levi apertou os lábios e, de má vontade, pegou a mão oferecida. Lá estava de novo: aquele sorriso brilhante inexplicável. Eren se inclinou e Levi, estupidamente, copiou o movimento pensando que o outro tivesse realmente algo importante a dizer.

— Assim elas sabem que você é meu. — disse Eren, sua respiração quente na orelha de Levi e perto o suficiente para que pudesse sentir o movimento de seus lábios.

Levi sorriu para o rapaz e virou seu rosto para ele.

— Você está perto o suficiente — murmurou, com a voz baixa o bastante para Eren precisar chegar mais perto para ouvir por cima do burburinho da atividade ao redor. — para eu poder te empurrar pra baixo do carro alegórico com pouquíssimo esforço de minha parte.

Para qualquer um queolhasse de cima, digamos, por exemplo, de uma posição num telhado próximo ou dotopo de um carro alegórico que estivesse por perto, podia até parecer umaconversa entre amantes.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora