O Limpador

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— Você precisa se dar um descanso. —disse Dita quando viu que era só Levi descendo as escadas para a masmorra. Ele apoiou seus pés de volta na mesa e voltou a desembrulhar seu almoço, vendo o outro homem caminhar corredor abaixo em direção ao som distante de gritos de dor abafados.

Levi até gostaria de uma folga. Seu pelotão tinha os próximos dias de folga para retornar às suas casas e se recuperarem da expedição, mas Levi não podia aproveitar tamanho luxo quando as celas da base estavam abarrotadas até o teto com motineiros curiosamente organizados. Quando chegou à última porta à esquerda do corredor estreito, ela se abriu antes que ele tivesse a chance de bater, e Moblit saiu em um avental ensanguentado segurando uma sacola de couro que tilintava com a parte mais ameaçadora de sua coleção de instrumentos médicos. O homem de cabelos pálidos sorriu quando viu Levi. Ele tinha feições tão simpáticas e modestas que só faziam o contraste com suas roupas cheias de sangue e cabelo desgrenhado ainda mais desconfortante. Veja, aquele era o médico das Tropas de Exploração.

— Olá, Levi, é bom te ver de novo, embora seja estranho te ver sem sua sombra. Vai entrar? — Moblit segurou a porta aberta por gentileza e Levi assentiu em agradecimento.

— Eren vai voltar em alguns dias.

— Muito bom, muito bom. Todos sentimos falta de sua cantoria.

Levi deu um sorriso apertado, mas ficou aliviado quando o outro homem partiu. Ele nunca esteve inteiramente confortável com a ideia de Moblit, a disparidade entre suas feições gentis e o que Levi sabia muito bem que o homem era capaz de fazer com aquele mesmo sorriso no rosto fazia sua pele arrepiar. Uma coisa era ser completamente ilegível no sentido de não ter expressão, mas era um nível inteiramente diferente de perturbador ser ilegível com um grande sorriso no rosto.

A sala de pedra onde ele entrou era pequena, com uma plataforma de madeira contra uma parede servindo de cama e um balde colocado em um canto como penico. Não havia janelas; aqui era bem abaixo do nível do chão e o cheiro de umidade e mofo era do tipo que não iria embora não importa o quanto alguém esfregasse. No centro do recinto estava uma cadeira de madeira solitária, à qual um homem ensanguentado e violado estava acorrentado. Seus dois olhos estavam inchados e fechados e os lábios, partidos e mantidos abertos, saliva ensanguentada pingando em seu peito nu de suas gengivas quase desprovidas de dentes.

— Ainda está consciente? — perguntou Levi, recostando-se na parede à frente do prisioneiro e cruzando os braços. Uma única lanterna iluminava fracamente a claustrofóbica cela e o cenário inteiro fazia Levi um pouco nostálgico de seus dias no Submundo. Se Farlan e Isabel estivessem aqui com ele, até se questionaria se estava sonhando.

O prisioneiro exalou um som que era alguma coisa entre um gemido e um gorgolejo e Levi assentiu.

— Ótimo. Eu disse para Moblit ir com calma; ele sempre se anima demais quando tem novos truques para experimentar.

A cabeça do prisioneiro balançou sem forças sobre seu ombro até que ganhasse impulso suficiente para levantá-la. Levi não achava que o homem conseguia ver alguma coisa através das fendas estreitas em suas pálpebras machucadas, mas ele se aproximou da luz da lanterna por gentileza. Se ele reconhecesse Levi, isso poderia ajudar a soltar sua língua e, caso contrário, não faria mal também.

— Qual é o seu nome?

— Eya-yi.

Levi se agachou diante do outro homem e franziu o cenho.

— Emery?

— Eylewy.

— Ellery?

— Hã-hã.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora