O Segredo do Capitão

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Eren acordou com o som de seu estômago roncando.

Alguma coisa cheirava deliciosa. Ele piscou para espantar o sono e rolou sobre o colchão disforme para encontrar Levi abrindo as marmitas, deitando o prato de lamprais em outra cadeira cambaleante transformada numa mesa improvisada. Oh, Deus, ele caíra no sono. Eren olhou estupidamente em volta do quarto enquanto tentava se orientar. Por quanto tempo? Por que Levi não o acordara? Lembrava-se que eles haviam deslizado para um silêncio confortável logo depois daquela primeira conversa, e já passava do meio-dia quando ele começara a sentir-se sonolento por causa de uma noite mal dormida trabalhando em Muralha Rose, misturada com o tédio. Já estava mais escuro lá fora, o tom roxo do anoitecer arrastando-se pelos buracos das persianas e pintando o pequeno recinto em cores frias. Apesar disso, estava também muito mais quente e sua camisa grudava em sua pele, besuntada de suor. Eren encarou o outro homem, que dobrava meticulosamente a folha murcha de bananeira embaixo da comida, sua gravata desatada caindo solta em volta do pescoço e os botões de cima abertos. Eren podia ver o leve brilho de transpiração em suas clavículas, e de repente percebeu que estava sem o manto. Ele logo o localizou, dobrado perfeitamente ao pé da cama. Ele certamente não fizera aquilo.

— Ah, você acordou. — Levi concedeu-lhe um olhar de relance antes de se estabelecer de volta em sua cadeira. — Você daria uma péssima sentinela se isso foi alguma atuação para tomar de exemplo.

— Desculpe. — Eren bocejou, suas juntas estralando enquanto alongava os nós da estranha posição em que dormira. Ele espiou timidamente o seu capitão por entre as mechas da franja. — ... Por quanto tempo eu dormi?

— Um pouco menos de duas horas, eu diria. Não foi nada de mais, eu teria lhe acordado se fosse. Esteve quieto.

Levi o direcionou a um recipiente com água no canto do aposento para se lavar, e então sentaram-se para sua tão esperada refeição. Eren olhou para a comida com voracidade; não havia comido apropriadamente desde o café da manhã e teve sorte de Levi ter pensado em trazer comida para ele também. O cheiro era paradisíaco; lamprais marrom com porções generosas de batata cremosa, sambal de cebola frita, peixe grelhado, algum tipo de picles e um ovo cozido. Eren não tinha uma refeição assim há eras; você não encontrava esse tipo de comida caseira em barracas de rua ou nas sobras que os funcionários de Muralha Rose recebiam. Cheirava à comida de sua mãe; na verdade, estranhamente similar às receitas orientais que ela herdara de sua própria família. Deus abençoe a empregada/cozinheira de Levi.

— Isso parece maravilhoso! — exalou, com água na boca. Levi não respondeu, já pegando sua própria comida e misturando-a com as outras porções com dedos hábeis. Sem precisar de convite, Eren rapidamente seguiu o exemplo.

— Eu só tive uma noite longa. — explicou após satisfazer a maior parte de sua fome. Os lábios de Levi curvaram-se de nojo às palavras ditas por sua boca cheia de arroz, e Eren engoliu nervosamente.

— Noite longa? Hanji me disse que você foi dispensado só algumas horas depois do jantar. Nem venha com essa para cima de mim. — O sorriso envergonhado de Eren só aumentou e ele abaixou a cabeça como pedido de desculpas.

— Eu tive um turno em Muralha Rose logo que saí e durou até o amanhecer, na verdade... — Sim, ele não pregara o olho noite passada, e esteve cansado à beça o dia todo, mas não queria se queixar. Esteve agradecendo às estrelas por Levi ter escolhido o dia de hoje para trazê-lo em um trabalho tão relaxante quando estava receando as tarefas nos estábulos ou limpeza de janelas que normalmente recebia. A linha entre as sobrancelhas de Levi se aprofundou enquanto o mais velho o examinava com uma expressão que Eren lutou para entender. Supôs que pudesse ser raiva; Eren trabalhando mais do que devia em seu tempo livre não era desculpa para afrouxar agora.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora