O Rei dos Ladrões

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Eren nem se preocupou em tentar se virar. Seria perda de tempo e a escuridão nem permitiria uma visão clara de qualquer jeito. Só daria mais tempo para quem quer que estivesse atrás dele atacar enquanto ele estivesse no meio do movimento, e ele provavelmente estaria morto antes mesmo de ter uma chance de vislumbrá-lo.

Usando puramente seus instintos, Eren se atirou para a frente, fazendo uma pirueta por cima de seu prisioneiro e pousando com as pontas dos pés num agachamento rígido do outro lado. Estava encarando as sombras falantes agora e um pouco mais distante de seu alcance, com o prisioneiro entre ele e os outros. Não deixaria de usá-lo como um escudo se necessário, a esse ponto.

Ele não conseguia discernir muito bem as figuras à sua frente. Certamente havia mais de um, julgando pelo modo com que a massa negra se misturava em uma sombra indistinguível, mas ele não podia ver quantos eram os indivíduos. Como tantos escaparam de sua percepção? Desde quando estavam ali? Um raio de luz súbito o fez se encolher e recuar. Apertando os olhos contra o brilho que parecia como encarar o sol depois de estar há tanto tempo no escuro, Eren viu que alguém tinha acabado de acender a lamparina a óleo na mesa ao seu lado. Havia mais. Um choque de pânico preencheu seu peito, o coração batendo desesperadamente contra seu tórax. Estaria ele cercado?

Eren não achava que conseguiria falar mesmo se quisesse, sua língua estava deficiente e inútil na boca com o choque. Ele queria gritar perguntas e exigir respostas mas, mesmo se pudesse convocar sua voz, ela soaria provavelmente tremida e fraca no mínimo. Uma mão agarrava a adaga restante no mesmo punho cerrado que o apoiava no chão, e a outra agarrava a jaqueta desconjuntada de seu prisioneiro, enroscando-a bruscamente.

— Oh, ele é rápido. — As outras vozes murmuraram em acordo à observação. O olhar de Eren viajou à direção de onde a voz viera, mas ainda não conseguia diferenciar uma sombra da outra.

— A-ajudem-m... — Eren puxou seu cativo com força para mais perto, e em um segundo tinha um braço em volta do pescoço dele e sua mão com a adaga posicionada ameaçadoramente a um centímetro de seu olho. Sua voz se esgotou fracamente. Eren ainda tinha que se situar, mas algumas coisas já eram bem claras: não podia deixar quem quer que fossem essas pessoas saberem que ele estava com as Tropas. Aquilo seria o mesmo que pedir para morrer, e nesse momento seu pequeno prisioneiro era uma grande responsabilidade. Um grande peso morto não cooperativo que Eren não conseguiria arrastar se houvesse um combate, e que provavelmente diria qualquer coisa para fugir de Eren agora, mesmo que isso significasse se transferir para a custódia questionável das figuras obscuras do Submundo.

— Quem são vocês? — Eren estava grato por sua voz não ter tremido, na verdade ela saiu bem mais firme do que ele se sentia.

— E isso importa? — O Acendedor de Lanterna à sua esquerda respondeu. Eren sabia, pela voz, que ele estava sorrindo, e isso fez tudo ficar ainda mais assustador. Um homem diferente continuou, alguém à sua frente.

— Na verdade, deveríamos estar perguntando isso a você, já que foram vocês que tropeçaram indesejadamente em nossa casa. — Casa? Essa casa caindo aos pedaços? Uma observação que Eren decidiu não dizer em voz alta.

— Eu não quis me intrometer, sinto muito. Estava atrás de outra pessoa. Estarei me retirando agora, então... — Deixou a frase no ar esperançosamente. Talvez, só talvez, esses caras estivessem no meio de alguma coisa e só quisessem que ele fosse embora. Quais eram as chances de isso acabar com um "ah, sem problemas, não faz mal. Obrigado e tchau"?

Ínfimas, aparentemente. Eren viu um movimento com o canto do olho direito quando uma das figuras se mexeu, e notou com desânimo que o movimento a posicionou discretamente na frente da porta de entrada fechada e da única rota de fuga. Se ele morresse aqui, Mikasa iria matá-lo.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora