Os Disfarces e as Adagas

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TW: menções de derramamento de sangue e violêncianeste capítulo.

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Quando a chuva finalmente chegou, ela veio com força. As nuvens negras de tempestade que estavam gradualmente cobrindo a cidade se abriram naquela noite e o temporal foi memorável; camadas pesadas de cinza martelaram o chão ressecado e amorteceram todo o som até que as ruas inundassem com lodo. Canais transbordaram, vomitando suas vísceras pútridas para serem levadas até as periferias da cidade, e as ruas se esvaziaram rapidamente à medida que todos fechavam lojas freneticamente e corriam para se abrigar do dilúvio sufocante.

— Eu senti saudades da chuva. — disse Mina. Eren olhou para cima quando a jovem de cabelos escuros se juntou a ele nos degraus de Muralha Rose. Ela o ofereceu uma fatia de laranja e um sorriso leve.

— Normalmente as crianças estariam todas lá fora brincando. — balbuciou ele, encarando tristemente as ruas encharcadas. Toda brincadeira ficava mais divertida na chuva e poucas mães reclamavam; era um jeito fácil de lavar as crianças menos o processo árduo de banhá-las apropriadamente e ainda estava quente o bastante para resfriados não serem uma ameaça.

— Ainda poderiam. — Eren podia sentir os olhos dela em seu rosto. Ele enfiou a laranja em sua boca e abaixou a cabeça para desamarrar suas botas. — Nós todos ouvimos as sirenes da base esta tarde, Eren. Quase chegou a ser um pânico generalizado até percebermos que não era por nós. O que aconteceu?

— Um motim em Hermina.

— Hermina? — Eren podia ouvir a confusão na voz de Mina. — Isso é inesperado.

— Eles tem uma área de prostituição pequena lá.

— Sim, exatamente, uma pequena. — Mina começou a rasgar a casca da laranja em tiras e equilibrá-las ajeitadamente uma em cima da outra. — É ruim eu me sentir aliviada que não fomos nós para variar?

— Eu acho que ninguém iria culpá-la.

Eren apertou os olhos para a parede de prédios do outro lado da rua. Não conseguia ver nenhum soldado posicionado nos telhados, mas ele ouviu que muitos deles haviam entrado no bordel procurando abrigo da chuva, e certamente alguns teriam sido despachados para cuidar da situação em Hermina. Era tenebroso como as ruas ficavam vazias na chuva, geralmente em constante agitação e tráfego. Janelas estavam fechadas e portas trancadas firmemente. Parecia com a calma mortal que precedia um motim.

— Essa noite vai ser sossegada, não é? Ninguém vai querer sair de casa com esse tempo. — Ele gesticulou irritadamente ao dilúvio. Normalmente, ele amava quando a chuva caía assim tão forte. Adorava brincar de jogos de adivinhas vendado com as crianças e de correr pela lama enquanto Mikasa brigava com ele sem êxito. Mas tudo em que ele conseguia pensar agora era que Levi estaria lá fora nesse clima e isso só podia significar atraso.

— Nós temos alguns fregueses que chegaram antes da tempestade e já estão em seus aposentos privativos, e um ou outro rosto novo no saguão. Melhor do que nada.

— Que pena. É um bom clima pra transar. — observou ele. Mina abafou uma risadinha delicada, esquecendo por um momento que não estava com um cliente. Eren já a ouvira cuspir vulgaridades mais criativas, mas os homens gostavam das garotas facilmente escandalizadas, inocentes e coradas.

— Se ao menos soubéssemos da chuva, poderíamos ter feito essa propaganda.

Eles caíram em um silêncio companheiro, encarando a rua vazia adiante e jogando tiras de casca de laranja escada abaixo em turnos nas poças crescentes.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora