O Legado

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A cachoeira não era nada grandiosa. Não era nada comparada àquelas que viram nas viagens; não se elevava a centenas de metros e descia desabando com a força de destruir navios, nem se esticava pelo vão de um penhasco e criava um vapor de água tão grande que você conseguia sentir as gotas como garoa contra sua pele antes mesmo de ver de onde vinham. Sua queda nem sequer fazia a terra tremer debaixo dos pés quando você ficava parado bem debaixo da força total de sua torrente, mas Eren encarou-a maravilhado e boquiaberto como se nunca tivesse visto nada como aquilo, e ocorreu a Levi que ele muito possivelmente não tinha mesmo.

Era uma queda d'água pequena, escondida em um nicho distante da floresta que margeava o canto mais afastado da cidade, mas era o melhor segredo das Tropas de Exploração. Apenas alguns poucos escolhidos tinham o privilégio de saber onde era, e se banhar em suas águas se tornara algo como um rito de passagem para qualquer um que conseguisse entrar para um dos pelotões de elite.

— Por que o pirralho está aqui? — perguntou Auruo, sua expressão descontente ao ver Eren parado na beira da lagoa com uma mão meio esticada para sentir a névoa de vapor em seus dedos. — Ele não é um de nós.

Eu acho que ele é. — disse Petra. Gunther, Erd e Nanaba - que fora especialmente convidada para fazer companhia a Petra - todos assentiram em concordância. Auruo fungou e se virou de costas para desamarrar suas botas.

— Eren passou por uma experiência muito pior que nós nessas últimas semanas. Se nós merecemos um dia de folga para nos divertir, ele deve ser incluído com toda certeza.

— Ouvi dizer que ele derrubou meia dúzia de homens com aquelas facas excêntricas que dominou em três dias. — disse Gunther, com a voz quieta em admiração. Os outros fizeram barulhos apropriadamente impressionados. Levi se sentou afastado, silenciosamente satisfeito. Ele havia se preocupado de que os outros pudessem não reagir muito bem com Eren os acompanhando a esse lugar exclusivo, mas tirando Auruo, todos se saíram como ele esperava.

— Não vamos falar sobre trabalho hoje. Todo mundo tirando as roupas, ou eu vou jogá-los na água com elas! — Erd ameaçou agarrar Petra, que, gritando e rindo ao mesmo tempo, se contorceu para se livrar dele; com isso, qualquer ar de profissionalismo que pairava sobre o grupo se desintegrou em risos estridentes à medida que todos se juntavam à brincadeira.

Eren, que estivera muito encantado pela cascata de água para ter ouvido uma palavra da conversa, foi grosseiramente trazido de volta de seu devaneio pela visão de Erd, completamente nu, se impulsionando pelo seu campo de visão para mergulhar como bomba direto nas águas cristalinas à sua frente. Ele deu um passo para trás no tempo exato para evitar ser ensopado com a água que espirrou e desviou o rosto, de olhos arregalados, quando Erd emergiu para boiar de costas sorrindo alegremente.

Só para se virar e encontrar o resto da equipe em vários estágios de desnudamento.

— O quê? O que está acontecendo?! — chiou, um rubor começando a se instalar em seu pescoço enquanto encarava acentuadamente a cobertura da floresta no alto.

— O que você acha que viemos fazer aqui? — perguntou Levi. Eren não sabia se ele estava pelado. Estava nervoso demais para olhar. Só de pensar sobre isso já fazia seu rosto superaquecer.

— Fique pelado e se molhe, rapaz! — gritou Erd da água.

— Você trabalha em um bordel, por que está vermelho? — Petra deu um tapinha em seu nariz quando passou, e quando ele olhou para ela só para encontrá-la completamente nua, ela jogou a cabeça para trás e riu com o som que ele fez.

— Isso é... Diferente.

— Só mantenha os olhos acima dos ombros. — disse Nanaba gentilmente, ficando com pena dele. — É preciso um tempo para se acostumar. Nós temos tomado banho juntos há anos, mas eu me lembro o quão chocante foi da primeira vez.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora