O Salão dos Prazeres

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As pálidas escadas de mármore estavam geladas sob seus pés descalços. Uma de suas mãos se arrastava pela parede de pedra à esquerda e a outra apertava a bolsa no seu quadril enquanto fazia o caminho em espiral cautelosamente escada abaixo. Os ruídos do salão principal ficavam cada vez mais distantes atrás dele e seus sentidos estavam em alerta máximo para o som de passos se aproximando ou qualquer coisa parecida. O que ele deveria esperar ao pé das escadas? Seria uma versão menor e mais íntima da festa que deixou para trás ou algo completamente diferente? O ar era parado e frio aqui embaixo; estava definitivamente debaixo da terra agora. Não haveria saídas de fácil acesso nesse fosso, então, se precisasse fazer uma fuga rápida, teria que escalar estes mesmos degraus e correr pelo salão principal pelo mesmo caminho de onde veio. Eren engoliu em seco nervosamente com esse pensamento. Seria improvável que conseguisse escapar assim.

Ele conseguia ouvir o som de um qanun agora, misturado assustadoramente a uma voz feminina. Eren sentiu seus passos vacilarem no último degrau à medida que a música o inundava. Os sons de riqqs e kamanjas estavam abafados, mas discerníveis entre o baixo murmúrio de vozes e tinidos de copos. Ele se forçou a continuar e chegou na frente de uma soleira coberta por uma cortina de pedras e contas de vidro brilhante. Um pesado pano marrom que normalmente deveria cobrir toda a entrada estava puxado para o lado e amarrado, então Eren conseguia enxergar o aposento lá dentro. A luz era fraca, somente com o pequeno tremeluzir de velas nos candelabros altos e o brilho reprimido de palitos de incenso pairando em bandejas espalhadas pelo salão. Este cômodo era bem menor do que o salão principal, mas parecia ter o mesmo layout básico, com seções separadas em volta de estações de narguilé e bandejas de iguarias em cima de mesas baixas. Porém, não havia sofás ou assentos aqui. O chão de azulejo estava coberto de tapeçaria persa, almofadas e luxuosos cobertores de pelos projetados para o máximo conforto. Parecia tão convidativo. Eren estava tentado a deslizar para baixo das quentes dobras das pilhas de cobertores para se aninhar e dormir depois de seu longo dia, mas a maior parte do espaço já estava ocupada e certamente não era por pessoas dormindo. Hesitantemente, ele atravessou a cortina, com cuidado para fazer o menor barulho possível a fim de evitar chamar atenção.

Levi tinha razão.

Se o salão principal era tranquilo para os padrões de Eren, aqui era o oposto. Claramente só os mais ousados eram convidados a vir aqui. Pelo que Eren pôde distinguir na luz fraca, aparentemente era uma regra geral se livrar de todas as roupas antes de mergulhar no caos. Tudo que ele pôde ouvir da escada era a música, mas agora que estava no aposento, o ar estava pontuado com gemidos baixos e suspiros. Corpos torciam-se entre almofadas e lençóis a apenas alguns metros dele. Peles revestidas em uma fina camada de suor e óleo reluzente colidiam-se e alisavam-se enquanto dedos se curvavam em êxtase, unhas arranhando e bocas abertas em silenciosos gritos de prazer. O ar estava pesado com suor, feromônios e cheiro oleoso de almíscar. Eren não conseguia tirar os olhos da cena à sua frente. Ele nunca vira algo assim em sua vida, e trabalhava num bordel! Ele se deslocou cuidadosamente pela parede, dedos tracejando as intricadas esculturas na pedra e a tapeçaria atrás dele. Vulture, Vulture. Estava aqui por Vulture. Como diabos ele iria fazer isso? Pensou que haveria alguma estrutura que o ajudasse a encontrar facilmente seu alvo. Até sua guia disse que ele seria capaz de saber assim que o visse, mas se não conseguia distinguir dois corpos nesta bagunça, imagine encontrar um único homem que ele não tinha ideia da aparência?

A sensação de dedos roçando no lóbulo de sua orelha quase fez Eren saltar para fora de sua pele. Ele teve a presença de espírito de ao menos colocar uma mão sobre a boca para abafar o grito que soltou ao se virar rapidamente para confrontar o autor, seu coração batendo com força contra a caixa torácica.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora