O Prelúdio

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— Erwin.

O Imperador olhou para cima quando a segunda esposa entrou no escritório. Ele sorriu, empurrando seus papéis para o lado e reclinando-se em sua cadeira, indicando à outra para sentar-se oposta a ele. A nobre obedeceu graciosamente, com a postura ereta e o rosto impassível.

— Você queria falar comigo?

— Sim. Espero não estar interrompendo nada. Gostaria de uma bebida?

Mahjabin Begum balançou a cabeça e observou o Imperador servir uma para si, o líquido âmbar sendo derramado em um copo de cristal. O som do líquido se esparramando e o tinir da garrafa ornamental sendo fechada eram os únicos sons no recinto. Havia dois outros guardas no local com eles, parados tão imóveis e estoicos ao lado da porta que seria o mesmo se não estivessem ali. Não estavam lá para protegê-la, então suas lâminas desembainhadas e expressões sombrias só serviam para aumentar seu desconforto. Couro luxuoso gemeu quando o Imperador voltou a se sentar e tomou um gole indulgente, segurando o copo requintado para cima na luz do sol de forma que arco-íris dançavam em seus prismas. A segunda esposa o observava cautelosamente; havia algo perturbador no comportamento simpático ao extremo de Erwin. Ele era o homem mais poderoso da cidade, mas estava sendo paciente e fazendo tudo devagar mesmo quando ela sabia que ele tinha pouco tempo. Ela sabia que ele não ligava para ela. Sabia que esta não era uma reunião por diversão. Sabia, portanto, que ou ele iria fazer alguma coisa importante ou algo que ele previu ser divertido. Ou ambos.

— ... Há algum problema, meu Senhor? — perguntou ela depois que o silêncio se estendeu por um tempo um pouco longo demais, mudando para um trato mais formal. Erwin fingiu surpresa.

— De jeito nenhum. Na verdade, tudo tem corrido muito bem. Eu estava apenas colocando em ordem minha correspondência com Helleya.

— Estou feliz de ouvir que tudo está bem.

— Sim. — Erwin manteve contato visual com ela. — Eu imagino que esteja. — Ele olhou de volta para os papéis à sua frente e tamborilou em um deles com seu indicador. — Eu decidi enviar um embaixador a Helleya ao final dessa semana. Venho considerando algumas novas rotas de comércio e a possível construção de uma estrada entre nós, e seria eficiente ter um contato lá para arbitrar em nosso favor.

— Por que está me contando isso?

— Porque diz respeito a você.

Isso fez Mahjabin recuar. Ela examinou Erwin desconfiadamente.

— Como?

— Porque vou enviar Turialai.

Os olhos da mulher se arregalaram e ela abriu a boca para protestar, mas Erwin continuou.

— Suas habilidades são desperdiçadas aqui. Ele daria um fantástico intermediário e sua experiência diplomática é incomparável.

— Você não pode tomar tamanho risco. Helleya ainda é volátil e perigosa...

— O que é a razão de eu não confiar em mais ninguém além de meu próprio irmão para fazer uma tarefa tão sensível. — concluiu Erwin. Ele terminou seu copo e o apoiou com um baque decisivo em sua mesa. Mahjabin fitou-o furiosamente do outro lado da mesa, mas ele nem se mexeu. Nascera para governar e se apegava à isso como um porco à lama; estava tão impregnado em cada poro que não era possível esfregar isso dele nem com água escaldante e uma escova de pelos de porco-espinho. Sempre houvera aquela diferença marcante entre ele e Turialai, mesmo quando crianças.

— Você quer ele morto.

— Se eu o quisesse morto, teria arrastado-o à sala do trono e o executaria na frente de toda a Corte e ninguém me questionaria. — Erwin deu de ombros e encarou a outra sombriamente. Ele disse as palavras com tanta indiferença, como se não estivesse descrevendo a morte do próprio irmão. Seu filho. — Eu não tenho nada contra Turialai. Preferiria muito mais que ele não tivesse sido envolvido em nada disso.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora