O Garoto Corado

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Levi assistiu Eren descarregar o bule e xícara da bandeja cuidadosamente, notando o jeito esquisito com que o rapaz segurava a louça delicada. Segurou a xícara pela borda, não diferente de Levi, e manejou o bule só com as pontas dos dedos enganchadas em volta da alça. Suas mãos tremiam enquanto ele servia o chá, mas o garoto cerrou os dentes e aguentou até o fim. Ele parecia uma mistura de aliviado e satisfeito quando terminou, empurrando a xícara cheia para seu Capitão com um sorriso orgulhoso. Entretanto, Levi ignorou a xícara e estendeu a mão para Eren em vez disso.

— Mostre-me suas mãos.

— Elas estão bem, Levi. — Quando Levi não removeu sua mão imediatamente, apenas levantando as sobrancelhas em expectativa, Eren cedeu com um suspiro.

— Você deveria ter me contado que estavam tão ruins; eu não teria o colocado para lavar as roupas. — Mesmo Levi não pôde evitar uma careta ao ver o estado das mãos cortadas de Eren. O contato com água não ajudou na cicatrização e a pele esfarrapada estava úmida. Ele inspecionou as feridas atentamente, examinando a pele com dedos gentis e parando quando Eren se encolhia. — Você tem ataduras?

— Elas estavam enroladas, mas Nanaba disse que eu deveria deixá-las secar por um tempo ou iriam apodrecer. — O mais velho assentiu. Aquilo era provavelmente sensato.

Eren puxou sua mão e se ocupou organizando um pouco da bagunça que havia se acumulado na mesa de Levi durante o dia. Ele sabia agora como arrumar a desordem do modo que o Capitão preferia, e o que podia ser deixado de lado para depois. Ainda estava um pouco enferrujado na leitura e tinha que falar em voz alta cada letra enquanto lia, com o cenho franzido cativantemente, mas estava melhorando com a prática e ele não era outra coisa senão um aluno aplicado.

Levi observou Eren empacar em uma palavra particularmente grande. — Convalescença? — sugeriu, adivinhando pelas tentativas gaguejantes do moreno. A expressão de puro entendimento que atingiu suas feições fez Levi sorrir para ele. Pegou uma das folhas de papel em sua escrivaninha só para ter Eren apanhando-a de suas mãos e substituindo-a por outra, despejando a primeira na lixeira praticamente sem olhá-la. Ele tinha que admitir, ter Eren por perto realmente tornava tudo um pouco mais fácil. Mesmo a papelada no fim do dia fora cortada por mais ou menos meia hora. Ele tinha geralmente três pilhas para tratar uma vez que Eren terminava de organizá-las (o nome das quais Eren convenientemente rabiscava no topo da página); as que ele poderia transferir a outra pessoa, as que ele só precisava dar uma lida superficial e assinar, e as que Eren não conseguia entender ou eram claramente importantes o bastante para Levi cuidar pessoalmente.

— Está ansioso pela coroação? — perguntou Levi. Ele colocou a página na mesa sem olhar para ela e Eren agarrou-a para colocar de volta na Pilha 3 com uma expressão aborrecida. Mas suas feições se iluminaram à mera menção das celebrações na próxima semana. Com o trabalho temporariamente esquecido, Eren se jogou na cadeira oposta a Levi.

— Sim! Agora que Mikasa conseguiu tranquilizar todas as garotas, elas estão muito animadas. Lorde Pixis arranjou um carro alegórico do tamanho de um juggernaut para a parada e Mikasa irá andar nele junto com algumas outras dançarinas. Já temos as coreografias planejadas e as fantasias. — Seus olhos brilhavam enquanto contava a informação, mãos se movendo enquanto gesticulavam animadamente.

— Você vai dançar?

— Claro, mas nada importante. — Eren coçou a nuca e pareceu envergonhado. — Estarei no chão com o resto dos dançarinos e as crianças. Temos uma coreografia também, mas não é tão rígida e simples o bastante para as crianças participarem. Você provavelmente não vai me ver.

— Eu duvido que deixarei você passar despercebido. Estarei a postos em um telhado no meio da rota. Mas, Eren, tem uma coisa que eu preciso lhe contar...

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora