O Quarto das Memórias

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Eren despencou através da cobertura de uma barraca de comida improvisada, o teto de pano coberto de poeira e sujeira desabando à sua volta em uma pluma de imundície acumulada. Ele ouviu gritos assustados de espectadores e berros furiosos, mas não ficou esperando o dono da loja se recobrar do choque. Tossindo e espirrando enquanto abanava o pó levantado ao seu redor, Eren endireitou-se e abriu seu caminho empurrando a aglomeração de curiosos que estava começando a se formar. Ignorou a algazarra caótica atrás dele e fez um atalho para a direção do local em que viu Levi caindo. Ele atraiu alguns olhares curiosos enquanto cambaleava e arquejava; devia estar um horror todo fantasiado e cambaleando pelas ruas coberto de vidro e poeira. Mantendo a cabeça baixa, Eren segurou seu cotovelo sangrando e prosseguiu. Ele tinha que achar Levi. Os homens de Vulture sem dúvida o viram cair e estariam caindo sobre eles a qualquer momento. Eren podia fugir agora e se salvar, mas sua consciência o cutucava desconfortavelmente. Por um lado, se os homens de Vulture encontrassem Levi, ele não representaria mais uma ameaça para Armin e Mikasa. Entretanto, o homem levou uma flechada ajudando Eren a escapar. Ele não poderia simplesmente deixá-lo agora, esfarrapado e ferido em um beco sujo esperando sua inevitável captura.

Eren ouviu a comoção antes de vê-la, e soube imediatamente que a causa seria Levi. Ele rondou um dos prédios em direção a onde uma grande aglomeração de pessoas estava começando a se reunir, murmurando baixo enquanto formavam um círculo em volta de alguma coisa. Ignorando os olhares frios e resmungos que atraiu, Eren empurrou-se através das massas em direção ao centro. Algumas pessoas estavam curvadas sobre a figura de Levi, delicadamente verificando os ferimentos do soldado caído, enquanto a maioria dos outros trocavam olhares cautelosos e ficavam agrupados ali inutilmente. Não parecia sequer que alguém estivesse planejando encontrar ajuda médica; estavam ali apenas para assistir. Furioso, Eren jogou-se no chão ao lado de Levi. O homem de cabelos negros jazia ao seu lado, olhos fechados, mas felizmente ainda respirando. A flecha havia quebrado em algum momento da queda, mas uma boa metade dela ainda estava enterrada profundamente no ombro de Levi. O sangue estava começando a florescer através de seu casaco; uma mancha escura e úmida pela sua camisa cinza.

As mãos de Eren tremiam desesperadamente sobre a forma inerte de Levi antes de decidirem pentear as mechas de cabelo preto para fora de sua testa, mas Levi não deu sinal de responder ao toque.

- Levi? Levi, por favor, acorde. Levi! - Ele sacudiu os ombros do mais velho levemente, desespero se infiltrando em sua voz enquanto procurava no rosto pálido de Levi por algum sinal de consciência.

- Cuidado, rapaz, ele levou uma bela queda. Você não sabe o que ele pode ter machucado no tombo. Você o conhece? - Eren ignorou o questionamento do homem velho de cabelos brancos em seu ombro, ao invés disso olhando para as pessoas à sua volta.

- Eu preciso levá-lo a um lugar seguro! Alguém tem uma carroça ou um cavalo? - Dúzias de pares de olhos desviaram o rosto em uma forma de evitar contato visual. Todos estavam muito bem só assistindo, mas Deus os livre de ter que efetivamente ajudar. Eren praguejou, olhando de relance para trás por cima do ombro. Os homens de Vulture deviam estar chegando; será que esse pesadelo não acabaria nunca?

- Eu posso pagar! - implorou, olhando ao redor desesperadamente. Uma ideia o atingiu e ele se empenhou para reaver um de seus brincos dourados de argola. - Aqui! - disse, estendendo a peça de joia cintilante para que todos pudessem ver. - Ouro maciço. É real, eu juro! Só, por favor, alguém nos ajude! - Ele olhou à sua volta, mas ainda assim ninguém deu um passo à frente. Na verdade, algumas pessoas começaram a ir embora tendo saciado suas curiosidades e preferindo não se envolver mais a fundo no drama. O irritante ardor de lágrimas se formando fizeram sua visão nadar quando olhou de volta para o homem inconsciente diante dele. Não podia deixá-lo. Ele estava ferido e desmaiado. Levi não o deixaria se seus papéis estivessem invertidos. - Por favor. - Sua voz era meramente um suspiro silencioso enquanto lágrimas quentes lavavam suas bochechas e salpicavam no tecido de suas calças. Tão perto. Eles estiveram tão perto.

Street Brat (tradução pt/br)Onde histórias criam vida. Descubra agora